
Eu escolhi dar risada porque é muito mais fácil, não nego.
Escolhi deixar que todos riem de mim (ou comigo, tanto faz)
e assim todos ficarão bem distraídos.
Vou disfarçando a morte que acontece o tempo todo.
Vou disfarçando o amor se desfazendo dentro de mim.
Disfarço a poesia que trago.
Disfarço o cansaço, o desespero, a agonia e o medo.
Ah, o medo. Principalmente o medo. O medo de tudo.
Até chega a parecer que vejo o mundo engraçado, mas é mentira.
É puro disfarce.
Eu vejo o mundo em fotografias preto-e-branco,
numa tristeza bonita que não acaba mais.
O mundo é uma espécie de espelho quebrado,
é um troço esquisito que eu estou descobrindo, não sei o que é,
mas me apavora ficar nele sozinha por muito tempo.
E quando eu dou risada, eu me protejo disso tudo.
Eu finjo que sou maior que essa tristeza toda,
eu finjo e acabo acreditando.
Mas não é sempre assim, claro.
Há dias em que alguém segura na minha mão,
ou alguém precisa de mim para um abraço,
e é claro que a risada acontece tão verdadeira.
Há músicas, imagens, crianças e muitas piadas engraçadas.
Mas a graça é tão efêmera... E eu me escondo.
Ninguém sabe que eu deixo tanto amor escapar.
Todo dia o amor me escapa.
Ninguém sabe que eu tenho vontade de ser menos eu.
Às vezes eu só finjo, às vezes eu só minto.
Há de chegar o dia em que eu não vou mais precisar me proteger,
há de chegar esse dia.