segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Muitos beijos, guaxinim

Eu reli o e-mail dele hoje. Um e-mail de dois mil e nove. Um e-mail que ele falava coisas contraditórias. E ele se despedia. Ele dizia que eu aprontava demais e ele não conseguia confiar em mim. Achei graça. Eu não gostava tanto dele assim. Eu sofri como uma louca, chorei dias sem parar. Não sei explicar direito por que, mas não foi porque eu o amava. Se eu o amasse, eu nunca teria feito nada do que eu fiz. Eu saía todos os dias, eu fazia planos sem ele, eu desaparecia. E quando ele desistiu, meu mundo pareceu acabar. Uma bobagem. Uma bobagem imensa. Eu deveria ter escutado a minha mãe, ela disse que aquilo iria passar, que eu logo esqueceria. Eu demorei um pouco para esquecer, mas passou. Aquele foi só mais um garoto que não me ensinou a namorar, que não me ensinou a amar. Ele ficaria impressionado se visse o quanto eu estou calma. O quanto eu estou em paz, fazendo todos os meus planos com alguém. Alguém que eu respeito e amo. Alguém que teve uma paciência imensa em me ensinar.

Desprezo

O seu silêncio me afasta. A sua falta de qualquer coisa também. Eu interpreto como um desprezo. Depois você vem e me esmaga entre os seus braços, me beija milhares de vezes, me olha com esse olhar apaixonado. Você vem, você fica, você pede, você me ama. Mesmo assim há um desprezo nos seus segredos. Na sua falta de vida além de nós dois. Onde está a sua alma que eu ainda não conheci? Eu não posso viver no meio da sua vida, sem saber o que há na sua vida, sem saber o que você pensa da vida.

A minha morte

Estou pensando em escrever um livro e já tenho dois enredos. Um deles é sobre a minha morte. No meio da sala, no meio do dia, no meio da vida. Assim, inesperada. Às vezes eu imagino a minha morte e não gosto de pensar nas pessoas que me amam. Meu pai, minha mãe, minhas irmãs, nelas eu não gosto de pensar. Gosto de pensar em pessoas que passaram na minha vida e se apegaram. Em pessoas que se importavam comigo e eu nem sabia. Eu gosto de pensar na cor das flores e nos meus lábios pálidos. Alguém vem e dá um beijo no meu cadáver frio. Lágrimas fazem a minha maquiagem escorrer, o que faz parecer que eu também choro. Mas eu não choro, eu não sei quem está ali, eu estou morta.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A sua casa

Eu sempre fico angustiada quando eu entro. Mas eu gosto do cheiro da cozinha. É sempre o mesmo: de comida gostosa que foi guardada na geladeira. E eu sei que sempre tem mesmo alguma coisa parecida com a comida do restaurante mais fino da cidade. Manteiga caseira, torta de palmito e ricota e temperos especiais ou qualquer coisa do tipo. Eu gosto da cozinha. Eu gosto que sempre tem amêndoas. Eu gosto da cozinheira com voz de criança, tamanho de criança e jeitinho de criança. Mas ela cozinha como um chef francês. Mas aí a gente sai da cozinha e vem aquele eco de casa grande, aquele eco de vazio, aquele eco de um lugar que eu não pertenço. O quarto eu não sei. Ele é seu demais. É proibido tocar em tudo. Você não gosta que eu mexa. Você tem medo de ir tomar banho e me deixar mexendo. Mas eu não mexo. Tenho medo. Na primeira e última vez que eu mexi, encontrei um retrato seu com uma ex namorada. Vocês pareciam felizes. Ela era feia. E além de tudo tinha um recadinho seu pra ela, dela para você. Sei que você não jogou fora e eu não tenho a menor intenção de encontrá-lo no meio das suas coisas. Eu não quero encontrar nada na verdade. Eu não gosto de ficar sozinha enquanto você toma banho. Me dá agonia. Você disse que vai se mudar. Eu não quero que você se mude. Eu gosto da sua casa, ela só não é a minha.

Chorar flores

Eu queria que os meus cílios fossem maiores. E que às vezes fragmentos de flores caíssem sobre os meus olhos e ficassem presos nos cílios, até me fazerem lacrimejar.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Não diga isso

Suas lágrimas não são um desperdício. Nunca serão. Que bobagem é essa? Nunca mais diga isso. Seriam desperdício se ficassem guardadas dentro de você, sem poder drenar o seu pobre coração.

Domingo de carnaval

Eu vi a cidade vazia.
- Nenhuma alma à vista.
Me senti em um filme cult. Um filme sobre solidão, sobre silêncio.
Nessa overdose de fotos de praias e gente sorrindo,
talvez fosse bom um pouco de nada.
Você mais uma vez foi embora. E eu não quis saber por quê.
Nem insisti para que você ficasse.
Eu não sou assim.
Eu nunca vou te fazer ficar, a não ser que você queira.
Solidão às vezes é bom.
Bem às vezes, quando nada mais resta.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Ela

Você vai ter que se acostumar com o fato de que eu sinto saudade. O tempo todo. Só de ficar em silêncio já me dá saudade, só de fechar os olhos, só de parar para pensar um pouco. Não estou falando de saudade de você. Estou falando de saudade de tudo. Eu não sei existir sem saudade.
Não saber o caminho é o mesmo que estar perdido?

Com amor, do Rio

Pensei que seria você a pessoa que iria me ensinar como é que funciona o amor à distância. Queria que você me mostrasse que é possível, que o amor por si só bastava, que não era tão complicado. Não deu. Não dá, não funciona. A gente pensa que ser romântico e acreditar já é o bastante. Na verdade, eu já sou um pouco desacreditada no amor, ele mesmo. O velho e simples amor. Eu ainda tenho medo de acordar e não ser mais amada pelo homem que eu amo. Ou de acordar e ver que isso tudo que estou investindo não é amor, não é amor o que eu sinto por ele. Os nossos pais não são um bom exemplo, você sabe. É conto de fadas demais, o caso deles é raro demais. Por isso fica difícil acreditar, quando se tem um conto de fadas em casa. Mas voltando ao amor à distância, se amar de perto já é difícil, de longe então... O investimento é muito mais alto, as expectativas dobram, tudo fica mais complicado. Mas eu queria, na verdade, aproveitar que a vida te deixou na mão para te falar uma coisa. Não foi você a pessoa que me mostrou que o amor à distância funciona. Mas é você a pessoa que mais me inspira a esquecer esse negócio de questionar, de ter medo, dúvidas. É você a pessoa que fica me mostrando que um coração quebrado se conserta, e logo volta a bater de novo. Logo volta a bater forte e rápido de novo. Até mesmo em menos de dezoito dias. "Ela achou que eu ia esperar dezoito dias, até parece. Em dezoito dias eu já estou curada" você me disse. Isso você me ensinou. E isso foi o bastante.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Iemanjá

Hoje é o seu dia, de novo. Parece que o seu dia foi ontem e não ano passado. Ai, minha santa, estou um pouco emotiva. Você tem feito tanto por mim... Ainda assim eu ainda preciso de tanto... Nada material, você sabe, preciso de outras coisas. Não posso falar aqui, eu ainda não sou forte o bastante para me expor assim, depois te conto em segredo, em uma rezinha só nossa. Você pode me ajudar? Desculpe minha santa, quase esqueci de te dar parabéns. Vou jogar uma flor no mar assim que eu chegar no Rio. É, eu vou para o Rio! Eu estava esperando o meu amor chegar para ir para lá. Mas isso é um segredo, tá? Iemanjá, vc parece tanto a minha mãe, sabia? Me sinto tão protegida no seu colo. Me sinto tão protegida com você ao meu lado. Sabe, minha santa, às vezes eu acho que você é a minha mãe. (É que ela é muito tímida, não diz pra ninguém que é você.)

eu ajunto a coragem

eu só quero o que desejo porque  há o seu abraço o seu tempero o seu tempo, temperamento  há tempos eu percebo  minha vida, meu sossego  bem...