sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Quase afogado

Antigamente você ficaria preocupado, você viria até aqui (com ou sem chocolatinho), você me diria coisas doces, você insistiria no meu sorriso. Antigamente, talvez um outro você, lutaria como se isso fosse uma batalha. Como se eu fosse um pequeno diamante raro, como se eu fosse muito mais do que eu sou. Antigamente, a sua voz me acalmaria. Você me acalmaria, você me faria feliz. Antigamente, não mais que antigamente, o seu amor resgataria o meu amor, esse quase afogado amor.

Mudar

De repente a vontade passou
- e eu não quis mais fugir.
Fugir não.
Eu só quis mudar de rumo.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Estrofe um

Posso escrever uma música pra você? Se você disser que não vai ser pior, porque eu já escrevi. Mas não se preocupe ela só tem uma estrofe, e eu cantei em silêncio.
Hoje eu me senti linda, mas quando dei por mim, já estava roendo unha de novo. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Um remédio com gosto de mim

Tomei um remédio, mas foi ele que me tomou.
Um remédio com gosto de mim.
O dia inteiro o remédio ficou preso na garganta,
me lembrando o gosto da doença.
A doença que o remédio não cura.
Eu tomei um remédio para a doença de mim,
um remédio com gosto de doença.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

sim eu quero

Eu só fui para aquela praia duas vezes na vida, mas podia imaginar exatamente onde ele estava sentado. Podia sentir o cheiro de mar e ouvir o barulho da praia quase vazia. Eu só fui para aquela praia duas vezes, mas sabia a quantidade de coisas secretas que haviam lá, escondidas em cada beco. Ele conhecia tudo. E eu fiquei sentada na janela do quarto, olhando para o mesmo céu que ele, pensando em coisas que só ele me faz pensar. Se você quiser eu te levo, ele me falou ao telefone. Mas a noite entrou no meu quarto e eu dormi antes de dizer sim eu quero.
Eu te amo, mas estou cansada
eu te amo, mas não dormi bem
eu te amo, mas não te entendo
eu te amo, mas tenho preguiça
eu te amo, mas estou com olheiras
eu te amo, mas você é tão diferente
eu te amo, mas você não fala nada
eu te amo, mas não te encontro
eu te amo, mas preciso de um cigarro
eu te amo, mas quero ficar em silêncio um pouquinho. Só um pouquinho, só até o dia amanhecer, só até a dor passar, só até eu nascer de novo.

È chiuso

A gente sempre chegava quando todo mundo estava indo embora. Era engraçado. "Encerramos o café da manhã, mas vocês ainda podem pedir pão de queijo direto no balcão." Ufa, conseguimos pelo menos que eles sirvam o nosso pão de queijo. Mas era assim no almoço e no jantar também. Eu às vezes ficava decepcionada com a nossa falta de cuidado com os horários estabelecidos das coisas. No primeiro dia de aula o professor já estava na metade da explicação quando a gente chegou. E nas outras aulas foi a mesma coisa. O pior é que gente se esforçava, juro. Subimos por um caminho longo, chovia fininho, fazia frio. Era nossa viagem de lua-de-mel, sem que a gente fosse casar nem nada. Nós dois estávamos com fome e queríamos ir no restaurante que o cara do lobby nos indicou. Cansados e famintos vimos as últimas pessoas saírem de lá, um bando de jovens locais. "È chiuso." "ma per favore, signora" "vá bene, venire presto!" Eu demorei pra perceber o que era. Eu demorei pra perceber que a gente não estava atrasado nem adiantado. O nosso negócio é que a gente sempre teve o nosso próprio timing. Os nossos horários eram só nossos e eram diferentes do resto do mundo, sempre foi assim.

eu ajunto a coragem

eu só quero o que desejo porque  há o seu abraço o seu tempero o seu tempo, temperamento  há tempos eu percebo  minha vida, meu sossego  bem...