sábado, 8 de outubro de 2022

ficamos de fora

quem ocupa os espaços 
de decidir e guiar
não quer proteger ou cuidar
quer armas, garimpo
mansões em dinheiro 
vivo 
enquanto morrem de fome
de sede, de dor
aos seus pés
humanos 
e quem ocupa os espaços
destrói nossa fonte de chuvas
a ciência, a mulher, as escolas
e tudo que há 
ficamos de fora desses espaços
pasmos
catando migalhas e ossos
na fila do abismo
indignados
sem força, sem voz
sem chão, sem vez
sem ar.
as nozes, descobri outro dia, fazem bem para o cérebro. é fácil de lembrar pois elas têm formato de cérebro. meu vizinho passou horas limpando o chão do quintal com a mesma água que nos falta mês sim, mês não. me senti péssima por não ter berrado com ele, mas eu prefiro jogar mato na grama dele e outras frutas que estragam das minhas árvores. covarde. outro dia pensei que não escrevo mais poesia porque eu descobri que nunca escrevi poesia. escrevi pensamentos, dei a eles um espaçamento bonito e um lugar numa página em branco. depois, detestei tudo que escrevi, mas eles já não eram mais só meus. acho tão interessante pensar que vivemos agora o começo do fim deste mundo como conhecemos. estamos exterminando tudo e não há o que fazer porque o lado do extermínio é maior do que o lado da consciência. estamos no titanic e somos os violinistas, o próprio iceberg, a falta de botes e o capitão. somos o mar gelado. são tempos interessantes. sinto um misto de alegria de estar vivo com uma pergunta do por que estou viva agora, justo agora. eu e minhas mesquinharias, minha vontade de comprar um tênis novo, meu medo de ser mãe, minha vontade de fugir pro mato. não entendo por que as pessoas não se entopem de nozes, se fazem tão bem para o cérebro.

eu ajunto a coragem

eu só quero o que desejo porque  há o seu abraço o seu tempero o seu tempo, temperamento  há tempos eu percebo  minha vida, meu sossego  bem...