quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Bloco de notas

dar as mãos é um altar sagrado
às vezes eu me lembro de músicas que ele gostava e que me lembram verão
é engraçado eu não me lembrar do toque das mãos dele, mesmo depois de tanto tempo, acho que nunca me acostumei
aqueles olhos amarelos, o olhar doce
quando um gato lambe a gente faz cócegas porque a língua deles é áspera
estou aprendendo só agora a me deixar sentir o que não é seguro
sentimentos à flor da pele me incomodam
hoje eu enrolei os meus cabelos só pra mim
comida orgânica atrai bem mais mosca
eu não sei por onde andei antes, mas eu gosto do cheiro dos seus lençóis
se a minha poesia é inútil para você, fica com a minha risada
escrevo poesia até no carro, enquanto o farol não abre
eu nunca sonhei com você, em nenhum sentido de sonhar
a causa dos animais, o corpo duro, eu não sei
eu nunca aprendo, mas parece que finalmente eu não tenho pressa.

domingo, 23 de setembro de 2018

setembro de novo

Tentei trazer um pouco de poesia
colei na porta da geladeira
mas ele não entendeu nada
nunca achei o peito dele seguro
para eu repousar o meu
fui saindo de fininho
deixando de responder
ele era tão distraído
nem notou o bilhete na porta
"fui comprar cigarro"
eu detesto cigarro 
ele me esperou por uns meses
quando lembrou que eu não fumava
já era setembro de novo
resolvi começar a fumar

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Passeio na chuva

Eu não vou te levar pra passear, não adianta. Está chovendo, será que você não vê? Está chovendo e eu tenho um monte de coisas para resolver e eu queria escrever alguma coisa sobre ontem. Sabe, ontem depois que eu te dei banho eu saí. Quando eu voltei você já estava dormindo então você nem viu como eu estava. Se tivesse visto, você iria lamber minha mão para dizer "ei, você não está sozinha." Eu me sentia sozinha. Ontem eu saí com alguém e parecia que era só ele, que eu não estava ali. Ele e os planos dele, ele e o trabalho dele, ele e as contas que ele precisa pagar, as viagens que ele vai fazer. Eu ia contar para ele sobre o roxo que eu ganhei nas costas quando você me puxou pela coleira, mas acho que ele nem reparou. Ia falar sobre os dias que eu estive fora, sobre os pontinhos brilhantes que eu vi no céu, sobre a minha mais recente descoberta, mas ele não perguntou nada. Por que você está lambendo a minha mão? Vá buscar a sua coleira, vamos passear. Eu sei que está chovendo, mas vamos mesmo assim.

sem conversa

- Eu não dormi essa noite.
- Por quê?
- Ficamos conversando na cozinha depois do jantar e conversando e conversando, quando vimos eram cinco e meia da manhã e o céu estava começando a ficar claro. 

Quando ouvi esse diálogo no bar eu fiquei pensando que depois do jantar um taxi estaria pronto para te levar para algum aeroporto e às cinco e meia da manhã eu estaria dormindo, sozinha. O céu ficaria claro sem conversa. 

Na escada

O que eu quero dizer
é que pode ser
que eu te olhe
e não te reconheça
de outras vidas, de sonhos
ou até mesmo daqui
pode ser que você
me pareça mais um rosto
outro rosto qualquer
pode ser que nos olhemos
e não nos encontremos
um no outro
que a viagem seja à toa
que não seja nada boa
tudo pode ser
e pode não ser nada
tantas vezes já não foi
no entanto
ainda assim
de qualquer maneira
eu te espero
na escada.





terça-feira, 11 de setembro de 2018

Mais ninguém

Meu bem eu quero
que você seja feliz
nos braços de quem for
não quero saber quais braços
se essa marca nas suas costas
foi feita com unhas rosas ou azuis
digo isso o tempo todo
mas no fundo eu desejo
que você me ame um dia
até que os braços que te envolvam
sejam meus e só meus
que as minhas unhas brancas
te cravem a pele das costas
e não haja mais ninguém


eu ajunto a coragem

eu só quero o que desejo porque  há o seu abraço o seu tempero o seu tempo, temperamento  há tempos eu percebo  minha vida, meu sossego  bem...