sábado, 13 de dezembro de 2014

A sua casa

Essa é a sua casa e eu sou uma visitante. Vim visitá-lo para dizer que esse momento vai ficar registrado desse jeito: foi assim que nós não começamos uma vida juntos.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Espero que você leia depois do natal

1. Esse porquinho é a sua alforria. Quando comprei o porco, além de achá-lo cheio de significados, de sentimentalismo, de delicadeza e de graça, achei-o como um vale-o-seu-gosto. Por que vale o seu gosto? Porque ele custou caro, bem caro e, por ele ter custado caro, ele exige a sua felicidade. Isto é: se ele não te agradou, vá até a loja e seja feliz escolhendo qualquer item maravilhoso com aquele valor. Seja feliz porque me foi caro: goste dele, ache-o tão espontâneo e original quanto eu achei ou troque por alguma coisa linda que te agrade e te deixe muito feliz. Porque eu só quero que você seja feliz. A Monja Cohen inclusive diz que amar é querer que o outro seja feliz, com ou sem a gente. Eu quero que você seja feliz, meu amor, com ou sem o porquinho (mas de preferência comigo).

2. Por que diabos um porquinho teria tantos significados? Porque um porquinho foi o meu primeiro amor. Inclusive já dediquei um texto à ele, chama-se "Meu Primeiro Amor" é de 30/01/09:
Eu tinha um ursinho de pelúcia que era um porco. Eu devia ter uns 9, 10 anos. Ele era bem rosinha, vestia um suspensório marrom-escuro e uma camisa social branca de bolinhas pretas. Era pequeno e magrinho, o porquinho. As pernas e os bracinhos eram fininhos e o corpo bem cheinho. Tinha uma carinha simpática. Eu dormia abraçada nele, acordava e o levava para aonde eu fosse. Ele me dava paz, me protegia. Uma vez fui com a minha família para uma dessas viagens, devia ser a Disney, e eu levei meu companheiro porquinho. Ele não tinha nome, porque eu nunca precisava chamá-lo: ele não me abandonava. Fomos juntos em todos os brinquedos do parque, e na hora de voltar para São Paulo, eu o esqueci no banheiro do aeroporto. Ele me abandonou. Senti falta de tê-lo dado um nome, porque eu não pude chamá-lo. Me desesperei tanto, que pensei que minha vida não tinha mais sentido. Eu não queria voltar para casa, porque eu esperava que ele fosse voltar para mim. Mas ele não voltou. Ele nunca foi encontrado (ou se foi, foi por outra garotinha) e eu tive que voltar. Demorei muito tempo para superar a perda do porquinho de suspensório. Meu pai me deu outros bichos para tentar amenizar, tipo um tatuzinho cinza que usava lenço vermelho, mas nada substituiu o meu porquinho. Domingo eu faço aniversário. Completo 22 anos. E eu queria que o meu porquinho estivesse aqui para comemorar o meu aniversário comigo.
3. Eu acho que encontrei em você o meu porquinho de suspensórios.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Abra os olhos

Boa noite.
Fecha os seus olhos, amor.
Por que deixá-los abertos,
por que me olhar assim?
Meu amor, não se preocupe,
enquanto os seus olhos não abrem
os meus estão abertos por nós dois.
Eu observo o trem que passa,
o tempo que passa, o minuto que passa,
a vida passando.
Continua sem abrir os olhos,
eu observo por nós dois:
vejo o casal que passa,
vejo como eu poderia estar passando,
eu vejo muitas coisas - coisas demais
(e todas elas estão passando).

Caminho alterntivo

Algumas vezes o papai decidia que queria ir pelo caminho alternativo. A gente então entrava numa estradinha secundária de terra - um mundo mágico de pinheiros gigantes com um espaçamento perfeito entre cada pinheiro. Eu ficava observando pela janela e imaginando a quantidade de filmes que dava pra fazer naquela estradinha secundária. Eu sempre torcia para pegarmos aquele caminho.

Fotos

Não tenho apego a fotos antigas, quero abrir espaço na gaveta para as novas. Na verdade quero abrir um rombo na minha vida para uma vida nova.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Virada (a la Arnaldo Antunes)

O bebê vira homem. A larva vira borboleta. A semente vira árvore. A cápsula vira café. O pó vira suco. A página vira livro. O livro vira biblioteca. O filho vira pai. A mãe vira avó. A tela vira quadro. A nota vira música. O milho vira pipoca. O pixel vira filme. O beijo vira sexo. O choro vira riso. A noite vira dia. O minuto vira hora. O hoje vira ontem. A gota vira mar. A dor vira cócegas. Tudo nessa vida vira outra coisa e eu ando pensando se não é minha hora de já ter virado alguma coisa. 

continentes

Mesmo que estejamos no mesmo barco, que sejamos do mesmo time, que desejamos as mesmas coisas, mesmo assim eu ainda acho que estamos em barcos diferentes, em outros continentes.

Solidão

O que tem na solidão de tão bom? Você disse que quer ir sozinho, pode ser melhor para mim também descobrir o que há na solidão que é tão bom. Só tenho receio de ir descobrindo aos poucos e ir amando e não querer mais juntar-me a ninguém.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O que você vai fazer agora não vai ser mais importante - importante foi quando você não fez o que era importante.

um mais um e eles dois

E lá estavam eles, no meio da festa, trocando poemas.
Ela não lembrava de cor os seus próprios, então teve que ler uma cola.
Ele ficou bravo, até ofendido: "você tem que saber seus próprios poemas de cor!"
Então ele receitou no ouvido dela um poema da matemática da vida.
Muito bem feito.
E ela se calou.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Cedo

Ainda é cedo, eu sei. Meu Deus como é cedo, é cedo demais. Tão cedo o sol nem raiou, ainda é noite, veja, é cedo demais. Eu sei, meu bem, eu sei que é cedo, mas eu também tenho um problema com o tempo - eu acho que estamos perdendo tempo. Acho que o cedo vai embora antes que você consiga abrir os olhos da piscada anterior. É cedo demais para fazer as coisas que estamos adiando, só para elas é cedo demais.  

Não sei

O meu desejo é por novidade - quero encher o cérebro de coisas novas. Quando eu morrer terei mais coisas para ver antes que me levem para a outra camada. E não só por isso, é pela magia que as coisas novas tem. Imagine você que outro dia conheci Cartola. Um amigo meu de longuíssima data me mostrou. Ele sabia que eu ia me emocionar. Ele entende o quanto o mundo guarda essas pessoas cheias de arte - e é a arte que salva nossas vidas todos os dias. Mais uma vez esse meu amigo me faz ficar acordada pra escrever. Dormir pouco é a minha solução - talvez até eu um dia escreva um livro aqui na madrugada, nessa mesma madrugada que se prolonga para a eternidade a partir do momento que está escrita aqui. Eu não sei se conseguirei ser feliz um dia sem um pouquinho de arte. Será que na minha vida futura, na minha vida que se aproxima eu vou ter arte todos os dias? É a mágica, não sei viver sem ela.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Três cores

Ultimamente tenho pensado em me desculpar
por ser sempre tão eu - esse rascunho de algo bom.
Você sabe como são rascunhos, 
ainda mais quando são feitos à lápis
e com tanta gente com borracha nas mãos.
Queria te dar uma única borracha, 
para que só você pudesse me apagar de vez em quando.
Entendo tão bem quando você reclama,
mas eu não consigo me consertar.
Fico pensando se esse meu rascunho vai poder lhe servir
talvez para a vida toda,
ou se ainda preciso mesmo ser passada a limpo.
Porque eu não sei se vai existir ainda uma versão melhor de mim
ou se serei sempre esse rascunho de três cores. 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Oito para as onze

Dez para as onze. Na minha mesa: uma crítica ao filme que eu não quero ver, mas que eu me arrependi de ter desprezado na sua cara. Eu devia ter desprezado só internamente. Tem também um tubo de hidratante que já estava no fim, mas ainda tinha um pouco então eu cortei o tubo e descobri que ainda tinha muito. Ouço uma música de violão - achei que eu tinha enjoado de músicas de violão, mas não: elas é que tinham enjoado de mim. Oito para as onze, melhor eu começar a fazer alguma coisa útil. Vou desenhar um gatinho com as minhas canetas coloridas. Queria ter nascido com uma voz boa para cantar, músicas são bem mais vendáveis do que textos ou desenhos de gatinhos.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

我爱你

Ele me escreveu em chinês como se fosse para esconder de alguém. Mas esconder de quem? Traduzi. Entendi por que ele escreveu em chinês. Era preciso esconder do universo. Ele, comprometido até o fundo da alma, escreveu em chinês que me amava. Ele disse: "me diga sim - pode até ser em chinês - e eu me caso com você agora". Eu não disse nada e nunca mais nos vimos. 

Ressaca

Quando amanhecer,
e talvez ventar,
e talvez chover,
o que é dor vai doer,
o que é triste, entristecer.
Mas o que fazer
se o adeus só vai arder
quando o dia amanhecer?

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Fale com ela

Eu fui embora tão vazia, que não levei todo o meu ser comigo. Parte de mim ficou fincada na sua cama. Parte de mim continuou sentada do seu lado, pedindo que você parasse de olhar a TV e olhasse pra mim. Eu estou aqui: me veja, me ouça, fale comigo. A parte de mim que foi embora comigo mal soube o caminho de casa. Que casa, meu Deus, que casa?

Quando o amor partiu

O amor saiu de fininho, numa noite bem tranquila. Ele deixou tudo para trás para não fazer barulho e foi embora pela porta lateral da cozinha. Ninguém percebeu: nem a empregada, nem o cão, nem a própria noite. O amor pegou a estrada e ao chegar no meio do caminho passou a doer - e doeu, doeu, doeu. Mas o que fazer? Voltar, seguir? O amor, já no meio da estrada, indeciso, doendo, cansado, resolveu: vou voltar. Acontece que o destino, tantas vezes inimigo do amor, preparou uma surpresa: antes mesmo de dar meia-volta o amor foi atropelado pelo trem que passava.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Relacionamento

Enchi o tanque de gasolina, agradeci e segui para o trabalho. No terceiro semáforo eu olhei para o carinha que entrega panfletos e me dei conta que o meu lugar não é aqui. Que o mundo está acabando - pode ser que não tão já - mas eu preciso otimizar o meu tempo. Eu comecei a ver as coisas desmoronando como uma cena de filme de apocalipse. Eu desmoronei junto - tão insignificante que sou. Talvez, muito talvez, se eu fizesse alguma coisa que me desse algum sentido eu não desmoronasse com o mundo. Mas para isso eu precisaria terminar meu relacionamento com a vida e começar outro, com outra vida. O problema é que essa vida não quer terminar o relacionamento comigo e eu não tenho forças para dizer adeus. O semáforo abriu e eu preciso ir trabalhar.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Rasgue todas as cartas anteriores, é essa que vale:

Não sei mais, Oscar. Acho que você me deixou muito sozinha todo esse tempo e agora eu também não quero mais a sua companhia. Fiquei esperando uma notícia sua e conforme ela não chegava eu fui murchando, murchando e agora acho que eu não consigo mais ver a mágica. Ela sumiu. Eu sei que a culpa não é sua, mas eu nunca encontrei ninguém para me falar da mágica além de você. Eu suspeito que você encontrou alguém para levar para a outra camada da Terra, já que eu sempre insisti em ficar. É, acho que a culpa foi minha. Não precisa rasgar nada, só me deixe aqui que eu sei me adaptar como ninguém. Ana.  

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Caroço

O laudo médico não identificou, mas existe um caroço instalado no meu peito. Eu sei que ele está lá, porque o que sinto agora não é um sentimento, é um caroço.

O que você quer?

O que eu quero não deve estar em você, deve estar em mim. Não é uma resposta fácil, nem sei se consigo responder. O que eu quero é saber se estou no lugar certo. Achei que de repente você pudesse me ajudar a descobrir, já que você me fez pensar em tanta coisa. Você me disse coisas que eu gravei no bloco de notas e sempre que me dá branco da vida eu leio. O que eu quero é sentir alguma coisa. O que eu quero é aprender, é ouvir, é descobrir. Eu não sei o que eu quero. Eu quero sumir, mas não quero sumir sozinha e talvez nem queira sumir muito, só um pouquinho. O que eu quero? Não quero nada, desculpe incomodar.

domingo, 5 de outubro de 2014

Quinze minutos

Não troquei a roupa de cama, não estudei meu texto, não limpei a gaiola, não dormi 12 horas, não conversei com você, não terminei meu livro, não escrevi nada que preste, não assisti nada que preste, não fiz nada que queria e agora faltam quinze minutos para ser segunda-feira de novo.

Já saímos

Você pede vinho tinto
torradinhas
pede para baixar o ar condicionado
bis pro jazz
pede licença pra ir ao banheiro
volta, senta, dá um gole no vinho.
Qual o nome do garçom, vamos trocar de mesa?
Trocamos
Agora sim, dá pra ver melhor a banda
o cello, o piano, a mulher cantando
Você pede uma água gelada
mais gelo, mais pão
pula a entrada, pula assunto de trabalho
pula esse assunto também
"Passa logo eleição,
não aguento mais pesquisas"
Acho que vou pular a sobremesa
Café, palitos de dente
guardanapos com marcas de batom
Eu olho a mesa vazia:
nós já saímos.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Livro de flores

Toda sexta-feira (ou quase toda) era dia de brinquedo. Na verdade, acho que só uma sexta-feira por mês. É, devia ser uma por mês porque eu lembro de ser um dia especial, devia ser raro. Naquela vez eu tinha ganhado um livro do meu pai sobre flores, um livro duro com ilustrações em papel transparente mostrando as pétalas, as sementes, os bichinhos que ficam em flores. Eu tinha adorado o livro, mas eu gostava mesmo era de brincar de boneca. Fui pegar as bonecas na prateleira para levar para o dia do brinquedo quando o meu pai perguntou: "vai levar o seu livrinho novo?". Eu não ia levar, ia pegar minhas bonecas cor de rosa, mas algo me fez ficar com não sei que tipo de sentimento: pena, gratidão, carinho. Levei o livro. Ele sorriu, mas eu tenho certeza que nem se deu conta a importância daquele meu gesto. Cheguei na escola um pouco nervosa, as aulas foram todas meio difíceis, mas eu sobrevivi até a hora do recreio. E então, na hora do recreio, eu mergulhei em profunda tristeza: as meninas se juntaram todas numa rodinha com as suas bonecas e brincaram. Eu fiquei do outro lado, sentada na escada com meu livro de flores, só olhando.

Coraçõezinhos

Sempre penso naquele dia que a D foi a rainha soberana entre os colegas. Ela mandava e todos tinham que fazer o que quer que fosse, embora a ordem fosse basicamente para ficar bem ou mal com alguma pessoa. Era um código secreto que nós crianças fazíamos sem que nossos professores percebessem. Nesse dia a ordem era para ficar mal comigo, todo mundo obedeceu. Todo mundo menos o Arthur que, distraído como sempre, nem percebeu o que estava acontecendo. Ele sentou do meu lado e aceitou brincar de desenhar comigo. Eu lembro direitinho do desenho no papel: coraçõezinhos de ponta cabeça. Ele ficou tão vermelho quando reparou no papel que eu acho que ele - tão pequenininho - interpretou qualquer coisa no meu desenho.

D.

Muitas das minhas lembranças da infância levam D comigo. Acho tão doce esse pensamento de que quando eu era pequena brincava tanto de boneca, de faz de conta, de pequenas pessoinhas do tamanho de um grão de arroz. Mas o mais doce é pensar que o meu jeito de brincar era igual o jeito que D brincava. E a gente mais ria que brincava. A gente ria de absolutamente tudo. Lembro de nós duas descobrindo a adolescência juntas. Ficávamos espantadas com meninos olhando nossas saias. "Mas que diabos tem de tão legal nessa sainha de praia?". A gente era maior que tudo isso. Maiores que qualquer coisa. Porque a gente tinha aquela cumplicidade de quem brincava de Barbie juntas. Um dia eu tive uma despedida importante na minha vida e ela estava do meu lado. Ela chorou comigo. Mas acho que aquele dia foi nossa despedida também, nunca mais eu vi D.

Tento não

Tento não pensar muito nas coisas, nos tempos.
Tento não raciocinar, igual àquelas pessoas que frequentam igrejas, cegas.
Tento não me aproximar demais de certas pessoas, dessas que arrepiam
os nossos pelos da pele
Tento, tento, tento
E de tanto tentar
continuo tentando.



terça-feira, 23 de setembro de 2014

Beliscão

Eu tinha cinco anos. Era pequena, barriguda e modéstia parte, tinha cabelos lindos. Adorava brincar com massinha de modelar - me sentia uma artista plástica quando me davam massinha. Adorava também a caixinha de sapato com itens de higiene ou a "caixinha de higiene", como chamavam lá na escola. Dentro dela a gente guardava 1 escova de dente, 1 pasta, 1 toalhinha, 1 sabonete e 1 pente ou escova de cabelo. Eu gostava de colocar o casaco verde do uniforme pendurado em um dos ganchinhos na parede lateral da sala. 
Nesse dia específico eu estava voltando do banheiro a caminho da sala de aula, quando uma aluna bem menor do que eu se aproximou. Era loirinha, tinha cara de atrevida e devia ter uns 3 ou 4 anos. Bem, esse projeto de gente se aproximou de mim e ficou me olhando curiosa. De repente, me deu um beliscão no braço. Peste danada! Eu lembro de ficar confusa, nervosa (porque doeu!) e de pensar um pouco antes de tomar uma atitude. Então eu fiz exatamente o que me pareceu mais apropriado: dei um beliscão de volta na safada. "Pronto, agora estamos quites" eu pensei. Mas não! A miseravelzinha soltou um berro e começou a chorar escandalosamente. Ai meu Deus, e agora? Veio a professora, a diretora e mais um monte de curiosos. 
- O que houve? - Perguntaram. 
A menorzinha não esperou um minuto sequer e respondeu toda chorosa: 
- Ela me deu um beliscão! 
Ah, que atrevida! 
- Ora, mas ela fez isso em mim primeiro. - Eu logo disse. 
Sabe o que a diretora da escola me respondeu? 
- Mas ela é bem menor que você, você não pode fazer isso! Vai ficar de castigo. 
E esse foi o dia que eu, aos cinco anos de idade, descobri a miserável injustiça que assola os seres humanos desde o começo da vida.   

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Bobagens guardadas no iphone

Desde as tragédias gregas, Roma, Cristo, os homens das cavernas, a época que quiser, desde lá atrás o drama humano sempre foi o mesmo. Concordo com Helio Schwartsman que diz que a moral é historicamente determinada. Então, o pensamento é o seguinte: o homem sempre foi deprimido, homossexual, transsexual, drogado, pervertido, inconstante, mal caráter, frágil, enfim, todas essas coisas que ele é hoje. A diferença é a moral, que depende de cada época. Somos prisioneiros de nosso tempo (essa frase também é do Helio). Se antes era normal escravizar, hoje não é mais. Se antes era um escândalo divorciar, hoje não é mais. Acho que os tempos atuais estão mais caretas em muita coisa - não se pode nem mais ser triste em paz. Existe agora esse insuportável do politicamente correto, fumar virou quase um crime. Claro, lógico que é muito mais fácil listar as coisas que ficaram mais liberais e por isso nem vou perder tempo. Eu só fiquei pensando que oras bolas, já se passou tanto tempo desde o tempo das cavernas, por que é que o homem não evoluiu? Por que não adaptamos as questões morais, as filosofias, as discussões, as leis, as normas que regem o mundo para que a gente se tornasse seres melhores? Por que é que a gente não deixou de ser inseguro, frágil, depressivo, mal caráter, assassino, todas as características ruins, por que diabos elas ainda não foram eliminadas? O homem é tão gênio a ponto de criar uma coisa tão, mas tão revolucionária quanto um Smartphone, mas para as questões tão primárias de comportamento e sentimento não existe genialidade no mundo que possa transformar todos os homens em Dalai Lamas.

domingo, 14 de setembro de 2014

O Ganso

Eu tinha nove anos, talvez menos. O trabalho era de ciências e a gente precisava formar dupla e escrever sobre algum animal. Eu me juntei a uma menina tímida, boazinha, quietinha chamada Fernanda. Por onde anda a Fernanda? Será que já se casou? Será que continua tímida e boazinha? Decidimos escrever sobre o ganso. Fomos espertas, porque a avó da Fernanda tinha um ganso em casa e por isso seria mais fácil desenhá-lo, falar sobre sua alimentação, etc. [Lembrando que naquela época as pesquisas eram feitas nas enormes enciclopédias que pesavam nas estantes das casas.] Fomos até a casa da avó da Fernanda e passamos o dia atrás do ganso. A parte triste é que descobrimos que o ganso é um animal bravo, que está sempre a postos para se defender, por isso não podíamos nem sonhar em chegar perto para sentir suas penas. Eu me lembro do meu desenho com setas indicando onde ficavam as penas, o bico, as patas. Mas me lembro mais ainda de ficar durante muito tempo da minha vida ressentida com os gansos por serem tão bravos.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Conto (quase) infantil

Esse é o caso de uma raposa fêmea e um besouro macho. Dois bichos muito próximos que sempre que podiam ficavam juntos.
- Mas juntos como? - Você poderia perguntar.
Juntos, bem juntos, parecido com a mamãe e o papai quando voltam do supermercado. Eles ficavam rindo ou conversando ou só dizendo coisas sem sentido, juntos. Um dia a raposa, que lembre-se: era fêmea, e o besouro (macho) combinaram de fazer um passeio juntos no dia seguinte. A raposa então passou a se preparar. Nem esperou o dia seguinte e já foi logo escolher a roupa que usaria, o casaquinho que combinaria com a camisa e os sapatinhos de raposa. Preparou tudo e foi dormir. No dia seguinte a raposa ficou ansiosa, como sempre ficava quando o besouro anunciava uma visita. Ela tomou café cheia de bom-humor, fez a ginástica matinal e foi ajeitar os seus bigodes de raposa. Depois, ainda passou uma pitada extra de perfume e deu uma lustrada extra nos seus sapatinhos, só para deixá-los mais bonitos para o besouro. Ela então sentou-se na cadeira e passou a observar o relógio, preocupada.
- Ora, a essas horas o besouro já estaria aqui, esticando as asinhas e mexendo as patas lentamente como fazem os besouros. - Pensou a raposa.  
A raposa não entendia por que o besouro não vinha, mas decidiu tirar os sapatinhos que apertavam tanto as suas patas. Em seguida deicidiu tirar também o casaquinho já que ele era só um detalhe para combinar com a camisa cheia de florzinhas azuis. O tempo passou e a raposa achou que não teria mais importância se de repente seus bigodes não estivessem ajeitados e coçou o focinho com a pata direita. O bigode ficou mais bagunçado do que a hora do recreio na escola. Olha, para falar bem a verdade a raposa acabou se bagunçando toda. Ela enfim esticou as patinhas e deu um cochilo na cadeira. O besouro nunca apareceu. Mas também se tivesse aparecido talvez eu não estaria contando essa história, eu estaria mexendo nas asas do besouro com as minhas patas de raposa.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Minhas pálpebras quase encobrem todo o meu rosto e eu mal enxergo a letra "e" no teclado.

Quem

Eu me pergunto se algum psicólogo vai me dizer quem sou eu. 
Depois que eu descobrir, o que é que eu faço com isso? 
"Seja dono do seu barco", ele me diria. 
Mas quem disse que eu quero ser dona de alguma coisa? 
Eu quero é sair andando.

Se é

Eu vivo em tempos estranhos. De comunicação ao extremo, mas muita muita muita falta de olho no olho. Muita pele e pouco papo. São tempos tristes. Isso, tristes, muito tristes e solitários. Como uma música do Chet Baker, exatamente assim, com aquela voz de tristeza pura. Tempos de querer aparecer, se mostrar, tempos de mostrar felicidade. Tempos de Rivotril, porque a tristeza não é bem-vinda. A tristeza é perigosa na verdade. Ela tem matado pessoas com cintos no pescoço. Pessoas engraçadas, pessoas que eram felizes. Mas hoje quem é feliz? Não sabemos nem direito o que é isso, confundimos com dinheiro. Confundimos com amor, com drogas, com espelho, com televisão. Eu não sei também, não olhem pra mim. Eu tanto não sei que às vezes chego a pensar que é Pink Floyd. Aquela música que ela grita, grita: The great gig in the sky. Eu tenho vontade de gritar como ela. Tenho vontade de me jogar dum penhasco pra ver como é - e depois sair andando. Ser feliz, que coisa imbecil. Ser vivo, ser o que se é, ser. Ser, coisa difícil. Como é que se é?

Interessante

Que diabos você queria dizer quando dizia que as músicas que eu ouvia eram óbvias? Algum deslocamento você me provocou e eu estou com mania dessa palavra: deslocamento. Acho que é o que eu busco na minha vida. Mas sabe, eu aprendi que quando a gente universaliza o que a gente escreve as pessoas acham mais interessante o que temos para escrever, mas eu nunca fui interessante. Eu sei disso. Quando alguém me diz o contrário eu não acredito, acho tão improvável.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Ao meu filho

Filho,

Olá. Escrevo de um tempo muito antigo. Escrevo de 2014, quando eu ainda não tinha você. Escrevo para dizer que estou vivendo o estopim de uma Guerra Mundial. Ou uma Catástrofe Mundial, não sei bem. Quero te contar o que vejo, como é que eu vejo e o que eu sinto. Hoje o Jornal Nacional começou com uma matéria sobre a trégua na Faixa de Gaza. O Rodrigo Alvarez e o Jeremy Portnoy mostraram as pessoas andando no meio das ruínas, as crianças nos parques, as mães nas feiras. Porque em dias de guerra, só se vê tiros e bombas e homens do exército e homens mortos e crianças mortas e hospitais bombardeados. Mas não. Hoje foi um dia atípico, as crianças foram surgindo da fumaça como anjos. Os homens e mulheres sorriam um sorriso medroso. Todos podiam ver o sol e respirar o ar. Essa guerra foi horrorosa, foi triste, foi suja, mas acho que parou desta vez. Sabemos que haverá uma próxima, só espero que não seja muito em breve. A segunda matéria do JN de hoje foi sobre o vírus da Ebola que infectou duas pessoas da Europa e 1600 africanas. É gente à beça morrendo, sofrendo e se contaminando. É claro que só as duas pessoas da europa receberam um tratamento digno. Eu vi uma moça gritando ao repórter que o irmão ou marido dela não era europeu e não tinha dinheiro pra ir se tratar lá fora. "Não é justo!" - ela gritava. E não é mesmo, filho. Nunca vai ser. O Templo de Salomão, que eu espero que hoje seja só uma lembrança do passado, é um exemplo da injustiça tanta que é esse mundo, meu amor. Milhões e milhões de dinheiros que pessoas pobres deram para que se construísse esse exemplo de riqueza e ostentação. Esse templo imenso, frio de pedra. Esse templo triste, esse templo vazio, esse templo de ninguém. O templo que envergonharia Jesus, tão pobrezinho. Envergonharia o nosso São Francisco, envergonha a mim. Pelo menos essa Copa do Mundo, meu filho, foi memorável (acho que sou a última pessoa da minha geração a usar essa palavra: memorável). Foi lindo, foi maravilhoso, foi especial. Eu estava tão cética, com medo de que acabasse a luz, que acabasse a energia, que acabasse o Brasil. Estava pessimista com tudo, desde a infra-estrutura até os jogos. De repente veio a Copa (e que viesse de novo!). A Copa das Copas no Brasil. Buzinas, bandeiras, cervejas, cornetas, festas, gringos e mais gringos, manchetes sobre o Brasil no mundo todo. E as nossas meninas, e as nossas praias e as nossas festas e o Leonardo Dicaprio numa lancha e Jennifer Lopes deslumbrante e tanta coisa legal! Sabe, eu hoje agradeço. Ainda bem que veio a Copa pra alegrar nosso povo! Obrigada David Luis, você alegrou muito o seu povo! Ah, filho, vamos parar essa carta por aqui, porque aí acaba bem. Você acaba sorrindo e lembrando que eu vi de perto o 7X1.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Segunda ou terça-feira

Sempre penso em câncer. Penso em gravidez, em solidão, em catástrofe e em milagre. Penso na loteria, na fama, na decadência e na morte. Eu sempre penso nessas coisas. Passo debaixo de um viaduto e imagino ele caindo sobre mim, passo perto de um hospital e imagino minha mãe carregando o netinho que saiu de mim. Esses pensamentos me mantém em outra camada: a camada do mistério, da possibilidade, da hipótese. Eu fico rindo e chorando de dor. Fico criando histórias que podem ou não acontecer - mas dentro da minha cabeça eu vivo um milhão de vidas ao longo de um dia normal de trabalho.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

1053 bloco A

Naquela sexta-feira eu tinha um casamento. Ou talvez uma festa chique, não sei exatamente. Quis fazer meu cabelo, minhas unhas, maquiagem. Pensei na roupa que eu iria usar, pensei se meus brincos novos combinariam. Fiquei pensando nisso e quando saí do cabeleireiro fui direto pra casa, direto, sem antes passar em lugar nenhum. Sem passar, por exemplo, no hospital. Sem passar em nenhum quarto onde meu pai estaria deitadinho esperando a minha visita. Sem passar pra ouvir como foi a cirurgia, pra ouvir que ele estava bem, que nem sentia dor. No dia seguinte me dei conta de coisas que ninguém precisa falar pra gente: coisas que a gente sente. Eu senti e doeu, doeu lá no fundo. Quis tatuar no meu braço 1053 bloco A. Escrevi de caneta no meu antebraço 1053 bloco A e sai atrás de um dia que já tinha passado, porque aquele já era o dia seguinte.

Tom crítico

Não gosto de ouvir há tantos anos que nós não conversamos direito. Conversamos sim, mas eu acho que você deve talvez não se dar conta. Porque mesmo pessoas experientes e vividas e tão (tão!) inteligentes como você às vezes não se dão conta de coisas assim. Sento ali no cantinho da cama e fico ali, horas. Conto minhas dúvidas, meus medos no trabalho, quando não estou feliz e quando estou. Você já me disse uma vez que conversar sobre livros não é abrir a alma. Engana-se e engana-se tanto. "Mas você achou que ele escreve num tom crítico? Porque, sabe, minha chefe fala muitas coisas num tom crítico e eu me sinto tão mal." Já faz tanto tempo que isso acontece. E alguns dias eu não quero falar sobre nada porque eu ainda estou aprendendo como é que se vive e às vezes eu erro tudo. Nesses dias eu quero ir direto pro quarto, pra cozinha, pro armário. E você vai se esquecendo que eu às vezes fico assim, porque eu sou assim mesmo. E você vai ficando triste, e vai se afastando mais e quando vejo, vários livros novos se acumularam no criado-mudo e eu não sei nada sobre eles, mas eu sempre sempre sempre quero saber tudo sobre eles.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Vigiada

Não soará falso a você se eu passar a escrever pensando em quem irá ler? Haverá uma faixa de preocupação tomando o espaço da minha alma. Não tente me fazer voltar a escrever, eu não vou mais. Perdeu a graça pensar que a minha alma está sendo vigiada.

terça-feira, 17 de junho de 2014

de tudo isso

Estou arrependida
de ter saído do útero da minha mãe
de ter dito o que eu disse
de ter ido aonde eu fui
de ser assim como eu sou
de não ser como eu poderia ser
e eu não vou mais parar de me arrepender
não hoje, não por enquanto
não aqui
não tem como.

siamo felice insieme




Ficção

Desde quando vc me falou que tudo que eu escrevia estava me expondo demais eu não parei de pensar nisso. Mas ninguém lê isso aqui e se lê, nunca vai saber quando é realidade e quando é ficção. Eu misturo tudo 

"And I am not frightened of dying
Any time will do, I don't mind
Why should I be frightened of dying?
There's no reason for it
You've gotta go sometime.
I never say I was frightened of dying"

domingo, 15 de junho de 2014

Eu penso em você

Penso em você nas horas mais estranhas: quando tenho raiva do trânsito, quando penso que serei demitida, quando não sou demitida e quando sou também. Penso em você quando cometo erros de português, quando penso por que existe o português e quando penso que eu poderia ter nascido no Japão. Eu penso demais em você. Questiono a sua existência no mundo, se você é mesmo desse mundo, se você existe em algum lugar ou lugar nenhum. Penso se você pensa em mim também, se você sabe que eu existo, se você já me viu passar. Eu penso muito se eu ando fazendo as coisas certas, do jeito certo, do jeito que talvez você se orgulhasse de mim. Eu penso se todo mundo tenta falar com você, se alguém consegue, se alguém já conseguiu. Eu penso se você tem mesmo vários nomes, se você tem nome, se alguém acertou o seu nome. Eu queria saber se ter um nome é mesmo importante, se existir é mesmo lindo como dizem. Se você se cansa de ser você, se você pensa em desistir como eu. Eu penso em desistir o tempo todo. Tudo que eu tenho eu penso em deixar pra lá e o que eu não tenho também. Eu não gosto quando alguém tenta comprovar que você está por aqui porque eu não consigo ver e nem sentir e fico me sentindo tão burra, tão insensível e tão sozinha. Foi você mesmo que fez tudo? E por que não desfez até agora? Você está esperando a gente desfazer tudo sozinhos? É por preguiça, raiva, decepção, desilusão? Eu tenho tantas perguntas, eu e todo mundo. Mas eu sei que você não responde nada. Não sei se por covardia ou por não existir mesmo: como pode responder se não existe? O fato é que eu pensei em você hoje e eu quis pegar a sua mão enquanto ouvia a minha mãe tocar piano. Ela nunca toca piano, mas hoje ela tocou.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

As unhas

Quando machuco os meus dedos de tanto arrancar as unhas ou as peles em volta delas eu penso no que pode estar errado. Pode ser muita coisa, mas eu aumento o som do rádio e falo mais alto do que deveria falar - para não pensar no que pode ser. Me dá ânsia de vômito pensar na quantidade de coisas que me incomodam aqui e agora. Mas o que eu posso fazer?

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Sequestro

Ontem eu sonhei que tinha sido sequestrada. A polícia chegou e no lugar de prender os meus algozes, me prendeu - num presídio de segurança máxima. Eu ficava isolada, com medo, desesperada, me sentindo sozinha, longe. Eu recebia notícias de que a polícia estava atrás dos criminosos, mas que enquanto não os encontrasse eu ficaria presa. Acordei num impulso com vontade de chorar. Freud, pelo amor de deus me explica. Eu estou sofrendo, não estou?

terça-feira, 27 de maio de 2014

Seremos nós

Tenho medo da falta de água, da falta de energia e da falta de um partido para votar. Tenho medo também de ficar sem emprego, de me explorarem no próximo emprego, de nunca mais me empregarem. Tenho medo dos assaltos no meu bairro, da greve que virá amanhã, do silêncio e omissão dos políticos. Porque está todo mundo normal, ninguém tem medo e eu me sinto sozinha. Ninguém percebe que a sociedade está se revoltando, que somos todos atores da peça Marat-Sade, que desse jeito não dá mais pra ficar? O povo viu, o povo sabe, não adianta mais enganar. Brecht se revira no túmulo tentando entender se no fundo haverá mesmo uma revolução, porque o mundo está silencioso diante dos gritos das massas. Como se quem não visse fosse o foco. E como eles não viram nada mesmo, eles caem na mentira. E o mundo começa a morrer ao poucos (ou só o Brasil), mas  a verdade é que não está dando mais vontade de morar aqui, e quando isso acontecer com todos nós, seremos nós mesmos os haitianos.

domingo, 25 de maio de 2014

9.855 dias

Depois de tudo que eu passei
continuo igual 
Desde que nasci, um feto perdido 
não mudei nada
Sou assim, estou assim
e assim sempre fui
Será que todo mundo sabe 
que acabei de chegar?

Antes

Antes eu preciso descansar. Minha cabeça dói e eu acho um pouco que estou pagando por alguns pecados. Espera um pouco, você já perdeu a sua chance de me chamar.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Porque não é

Não gosto de escrever pra você,
porque é o que eu sei fazer
e eu sei que vou ficar sem resposta
porque não é o que você gosta de fazer.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Eu fujo

Tenho medo de ficar sozinha, tanto medo.
E é desse medo mesmo que eu fujo.
Fujo tão depressa que acabo ficando sozinha.

Confusion

Eu já não quero mais morrer cinco minutos depois de ter morrido, já não sei mais o que fazer com você cinco minutos depois de termos nos amado. E eu quero partir hoje, agora, cadê minhas malas, onde estão minhas coisas? Não adianta tentar me segurar, eu não amo mais você. Mas por que você está indo embora? Não se vá, fique. Por favor fique. Não sei ficar sem você não sei, te juro. Estou mansinha e é assim que eu sou. Me perdoe se às vezes me exalto. Adeus, sou eu que estou indo embora. Estou moída demais, não posso mais ficar aqui. Adeus.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Antes da hora

Eis que ir embora é uma desgraça.
Não se pode nem ir embora sem magoar todo mundo que fica.
Fica todo mundo querendo entender.
Mas entender o quê, minha gente? Deu vontade de ir.
Não se pode nem sair de fininho pela porta dos fundos.
Não adianta não fazer barulho e nem se fazer de bobo.
Mas sabe, acho que tem uma lógica.
Se desse pra sumir assim sem deixar rastros,
um dia ou outro, todo mundo ia embora antes da hora de ir.
Só ia ficar no mundo tristeza e espaço vazio.


Recolho as minhas coisas

Há uma ingratidão.
Não sei se é minha ou da vida, mas alguém está sendo ingrato.
Já que a vida é muito maior do que eu,
recolho as minhas coisas no chão e vou saindo de fininho
(mas eu não peço perdão).

sexta-feira, 9 de maio de 2014

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Ainda não

E pra que esperar, você me pergunta. 
Eu não sei. E não sei mesmo.  
Mas eu espero, porque um dia eu ainda hei de saber.

The great gig

Ninguém falou nada, porque todo mundo ficou com medo de falar.
E então ela entrou na sala puxou o ar pra dentro, inalando profundamente, e soltou-o gritando até o fim.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

No amor, estranhamento

Os olhos amarelados
o cabelo macio
a pinta do lado esquerdo da boca
e a boca.

O abraço que cabe de forma exata
no meu braço
o beijo que tem o gosto
que eu gosto
a mão que sempre encontra
a minha.

O horóscopo dizia:
“no amor, estranhamento.”
No meu poema eu digo:
 “no amor, exatidão.”

quarta-feira, 23 de abril de 2014

O adeus da mamãe

Minha mãe não conseguiu falar. Como a rosa do Pequeno Príncipe que só conseguia tossir, mamãe colocou os óculos escuros e observou. De quando em quando ela chorava, mas o papel dela ali não era chorar. Também não era conversar com ninguém. Embora ela tenha uma fala calma, doce, que pode levantar qualquer um, mamãe não estava ali para isso. O papel dela era outro, poucas pessoas sabiam. Ela estava ali para garantir que a travessia do Zé fosse tranquila, que ele tivesse algum anjinho para lhe dar a mão, para que ele chegasse sem medo. Mamãe passou boa parte do tempo fingindo que estava ali, mas ela não estava, ela estava pedindo um anjinho assim e assado para ele. Um anjinho que lhe empreste um avião para ele consertar um pouquinho antes de subir, porque ele gosta muito de fazer isso, ela me contou hoje. Pouca gente sabe disso, mas o Zé saiu de fininho, de mãos dadas com o anjinho que mamãe encomendou.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Uma visita

Um aviso interrompeu a noite
e a noite não parou para rezar
nem esperou ninguém recuperar o fôlego. 
Veio a escuridão da noite
e ninguém mais falou nada.
O telefone tocou umas três ou quatro vezes
mas não tinha ninguém do outro lado da linha
- ou quase ninguém,
ou alguém sem chão, 
ou alguém com muita dor.
Essa noite todo mundo falou mais baixo, 
todo mundo ficou tentando entender:
por quê? Por quê, meu Deus?
Mas Deus nunca responde,
e hoje Deus está muito ocupado, 
Ele tem uma visita especial.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

de 1 a 10

1. sim
2. é bonito começar qualquer coisa que seja com um sim
3. mas eu não quero ver nada bonito, me basta fingir
4. aqui dentro sou eu que mando
5. e eu vou fugir
6. é bonito achar que se pode fugir
7. mas a gente sempre fica
8. porque é obrigado a ficar
9. isso é tão triste
10. fim

suspiro

Meu último suspiro é esse.
Mas o que é um suspiro, você se perguntaria.
Não sei, só posso supor:
uma manifestação qualquer de insatisfação,
ou de satisfação plena.
Um barulho qualquer, que eu não faço mais.
Nem importa mais o que é um suspiro,
é uma das coisas que você vai aprender com alguém,
como eu aprendi com você.


Suor

Caiu uma gota de suor nessa carta, mas você vai achar que é uma lágrima. Eu deixo que você pense isso, porque talvez seja bonito pra você pensar que eu sofro também. Eu morro de calor, isso sim.

Quiet

Hoje eu não vou ser eu,
porque é muito mais fácil não ser
em tempos de dor,
de arder o peito, 
de sangrar as unhas de tanto roer.
É mais fácil sair
e disfarçar caminhando. 
Lá fora, com tanta gente,
os barulhos se misturam
com o meu silêncio.

domingo, 13 de abril de 2014

O livro

Eu queria mesmo era escrever. Poder escrever um livro, contar uma história, arrancar todas essas frases desconexas do meu peito e conectá-las em vários capítulos. Eu queria isso, mas eu não consigo. As frases não se conectam, as palavras querem ficar sozinhas e o tempo. Ah, o tempo. Sempre o tempo. O livro todo podia ser sobre ele - a falta dele. Falta tempo para me espreguiçar melhor quando acordo, tempo para lavar melhor o meu rosto, tomar mais uma xícara de café, passar mais uma camada de esmalte nas unhas, escrever um livro. Ele nunca sobra, e eu sei que é assim com todo mundo. O meu livro podia chamar "A falta dele" e iam faltar várias páginas por falta de tempo.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Ditado popular

De galinha em galinha, o bico enche o grão.

Você não está mais aqui

Eu penso em você às vezes.
Às vezes me dá até um pouco de medo, parece meio sombrio.
Você não está mais aqui para me manipular assim.
Você era tímido demais para me manipular.
Às vezes você se entregava - e eu nem percebia.
Essa foi a mágica.

Sede ao pote aquariana

Vivi, eu detesto chocolate meio amargo. Se você soubesse disso você daria risada porque eu acabei de terminar um saco de chocolate meio amargo.

1,2,3.

Ouvi a sua música e criei uma letra. A gente chegou até a pensar num contrato: eu faço a letra e você o som. Mas falhou. Falhou pra burro: eu tava lá e você aqui. Eu não podia cantar pra você de longe. Então foi criando-se a distância e a sede e então tudo acabou.

Eu e eu mesma

Eu já deixei de ter medo de ser mim, mas às vezes ainda me pego nervosa quando me vejo sozinha comigo. Ser eu às vezes me magoa, às vezes me amedronta, às vezes me acalma: sou só eu. Mas acontece que eu costumo mais ficar nervosa comigo. Chego a esquecer quem eu sou. Sabe, às vezes eu penso: ainda bem que eu tenho a mim.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Longe

Às vezes eu penso que se eu não tivesse medo
poderia governar alguns países
poderia ser rainha ou uma atriz de hollywood
se eu não tivesse medo
acho que eu seria Napoleão
e por que não?
Achar que tudo é possível, que dá
mas não dá - e eu tenho medo
mal saio do lugar
só vou daqui para lá
E se eu não tivesse medo, imagine?
Não estaria aqui, não.
Tem tanto lugar bom:
agora eu estaria longe, longe.

sábado, 22 de março de 2014

Sem nada

Queria fazer uma poesia,
mas estou ilhada.
Não consigo juntar as palavras
e aqui não há sinal
nem para uma poesia urgente
como essa.
Queria fazer uma poesia,
mas estou perdida.
Não encontro nada
- nem palavras e nem espaço.
Não há tempo para poesia
nesse meio
nesse fim de mundo
nesse espaço
sem nada.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Pra onde?

Para onde foi o meu peito 
com todos os meus sentimentos dentro? 
Talvez eu saiba, mas não posso falar, 
acho que faria a minha mãe chorar. 
O meu peito é tão brincalhão, 
poderia ter pregado uma peça.
Mas acho que não,
ele tinha um pouco de pressa.
Só sei que aqui ele não ficou,
só sei que as coisas que ele me levou,
são tudo que eu sou.

Tem o tamanho

Acho tão injusto 
cada minuto desses 
com dor no peito.
Como se a vida fosse terminar amanhã.
Mas ela não acaba nunca - e a gente sabe,
mas fica chorando como se fosse rápida, curta, única.
É nada.
A vida tem o tamanho 
de uma vida inteira.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Sobre a seca (hai kai)

Cai a chuva
em outro lugar
que não aqui.
Aqui fica a seca
que não cai
só fica.

Nesse planeta tão grande

Eu tenho o meu espaço em algum lugar de algum canto
Nem sei onde fica o lugar que eu fico 
Nesse planeta tão grande
Mas quem falou que eu me preocupo?
Algum lugar eu ocupo. 

Cazuza

Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou 
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois
Dói dentro de mim, um filho que não nasceu. E esse aqui nem vai nascer - porque é imaginação e uma coisa eu aprendi: a realidade é só o que eu posso tocar. Como essa coisa de sonho, essa coisa mesquinha que a gente faz só para satisfazer o nosso peito, que quer sempre chamar a nossa atenção.

Cruz + Espada

É tanta tristeza que eu vejo 
que eu já quase nem vejo mais.
É tanta saudade que eu sinto,
que eu só quero paz.
Mais nada, nada, nada.
O que mais eu poderia querer,
se estou entre a cruz e a espada?


Nadar

Faltam poucos dias para a China -
uma viagem até um outro continente -
mas em que continente afinal nós estamos?
Estamos juntos, aqui nesse planeta?
Estamos aqui, eu e você, em algum lugar.
Mas que lugar é esse? É distante esse lugar
- de quê?
E quando eu penso que tem muita terra ainda
- mas tem muito mais mar -
Eu tenho medo de me perder na água,
é tanta água nesse mar que tem na terra.
Muita água e eu não sei nadar.

Desloca

Tudo que provoca um pequeno deslocamento dentro da nossa cabeça, do nosso peito, dentro da gente - é para esses deslocamentos que a gente vive.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

De tão nada

Ai como me dói não ser nada,
todo dia não ser nada dói -
dói porque nada é tão pouco,
e nada é ainda menos.
Eu não sou nada, mas todo dia quero
ser mais um pouco.
E de pouco em pouco talvez eu possa ser
um pouco mais do que nada.
- mas, sabe, se um dia eu algo for,
é capaz que eu nem perceba.

Na cama

Quando você me perguntou,
eu tinha várias coisas pra dizer,
mas eu nunca sei como é que você vai ouvir.
Se eu disser o que eu sinto,
o que é que você pode dizer?
Tenho medo sim, medo sim, receio.
Tenho medo, medo, medo.
Mas e daí? Você nem repara se eu virar e dormir.
E fica tudo por isso mesmo.
E eu esqueço que tenho medo.
Medo, tenho medo sim, receio.
Medo, medo. medo.
E vamos dormir.

dizer sim

Não custa nada dizer 
um alô 
Só pra dizer se tá tudo em paz, tudo beleza
Me leva pra um restaurante
bacana, bonito
Me leva pra passear
num lugar tão delicado
que de repente eu posso gostar
e gostar, e gostar
e um dia eu posso dizer sim
e ficar.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Yusk Imai

He feels it.

Um recado da vida

Diga a ela que se não for agora não há outra hora.
Diga a ela isso e que eu não posso esperar.
Pra falar a verdade, só aqui entre nós,
- e que fique em segredo -
eu acho que já não dá mais tempo.

Saramago

Pode se morrer de pessimismo?
Pode se morrer de achar que não vai dar certo, que não vai melhorar?
Porque se puder é bem possível que Saramago tenha morrido disso.

Brilho eterno de uma mente sem lembranças

Eu acho que esse filme é sobre como não importa quantas vezes a gente esqueça, quantas vidas a gente viva, o quanto a gente apague o que viveu. Não importa quantas vezes. Vai vir um erro, um arrependimento, uma vontade de fugir - ou de apagar absolutamente tudo. Sempre vai vir, apagar não podemos, mas mesmo se pudéssemos, nada ia adiantar. Nada, meu amor, nada.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

E a dor também

Grande mesmo é essa vontade de fugir, sempre
mas fugir não leva a nada
porque os pensamentos vão junto
- e a dor também.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Quando o sol desce

Quando chega o verão, meu pai parece que derrete no chão.
Papai não aguenta o calor, ele fica estranho, sabe? É assustador.
Quando sai o sol papai parece um lobisomem
mas no caso dele é às avessas: era lobo e vira homem.
Papai, me diz o que acontece
quando faz calor e o sol desce?

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Meu amor,

Hoje eu resolvi finalmente escrever pra você, diretamente pra você, assumidamente pra você. Já escrevi outras vezes, mas dessa vez é diferente: não tem nenhuma ocasião especial. É que eu fui extremamente grossa com você e não consigo parar de pensar nisso. Eu demorei pra perceber o quanto eu tinha sido rude e nem cheguei a pedir desculpas, só fiquei expondo o meu lado. Assim que eu me dei conta eu pedi desculpas, mas você já tinha me desculpado - e tudo ficou por aquilo mesmo. Mas não! Giu, acho que você já leu a quantidade de textos que escrevi para outras pessoas. Você viu que conheci muita gente, tive muitos amores e desamores. Mas já faz quase quatro anos que é só você que faz parte da minha vida, da minha história, do meu coração. Desde quando a gente se conheceu você tem sido paciente com os meus deslizes, as minhas falhas, as minhas coisas meio loucas. Você sempre me dá a mão, sempre tenta me entender, sempre fica ao meu lado. Eu fico até espantada com a sua capacidade de esperar a tormenta passar, quando há uma tormenta, a capacidade de sempre me agradar, mesmo quando nada parece me agradar mais. Já pensei em desistir de nós dois, já me irritei, já quis ir embora. Mas eu volto, eu volto sempre pra você. Você, sempre tão paciente, parece já saber da minha volta e fica ali sorrindo, me vendo rodar como uma barata tonta. Olha, eu nunca deveria ter sido grossa daquele jeito com você, porque você é a pessoa mais doce, mais carinhosa e mais companheira que eu conheci. Você não merece nenhuma grosseria minha, jamais. Eu sou tão grata por tudo que você me ensinou e continua me ensinando, eu só tenho o que te agradecer, sempre. Eu nunca amei ninguém como eu amo você e eu sei que eu parei por aqui. É com você que eu quero seguir em frente: atrás dos meus sonhos, da minha felicidade, atrás do resto de vida que eu tenho pela frente. Desculpa, tá?

Dia-adia

O cotidiano me parece uma interminável sucessão de pequenos assuntos que contrariam o grande objetivo.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Só aquela

Eu nunca guardei o nome dele
e acho que ele nunca guardou o meu rosto
mas ele deve lembrar da minha voz
eu gritava, eu ria, eu falava bem alto
misturando as palavras e as linguas
a dele e a minha
Ele respondia falando baixinho
que tava todo mundo olhando
Quem se importa, eu gritava
QUEM SE IMPORTA
A gente dançou a noite toda
ele suava e os meus pés urravam de dor
mas a gente não parou de pular
pensando que dançava.
Eu não sabia, mas ele não tinha mais ninguém
eu nem imaginava, mas era só aquela noite
e mais nunca mais.
Andei distante, andei triste e andei bastante
só que eu voltei pra cá, o lugar que dizem ser meu.
Qual é esse lugar que eu ainda não vi:
será aqui, será um lugar, será você?

Talvez passe

Quando eu pus o dedo na ferida,
o dedo doeu mais do que a ferida
mas eu não chorei, fui corajosa
porque é isso que é ser corajosa:
não chorar.]
Eu tinha um segredo pra contar pra alguém,
só que não tinha pra quem contar
e o segredo se desfez
- na água ou no vento, tanto faz.
Guardei pra mim o que eu tinha pra mostrar,
porque talvez não fosse interessante
(e tem tanta coisa interessante nesse mundo,
pra que desperdiçar?)
O que passa mais rápido: o amor, o tempo ou a idade?
O amor não passa não, alguns dirão.
Não sei, talvez passe,
talvez não.



Astronauta

Me sinto um astronauta no meu corpo. Não conheço direito nem o meu nariz, principalmente o meu nariz. As minhas mãos eu até conheço porque rôo todas as minhas unhas. Os olhos, conheço só de vista. Minhas pernas às vezes surgem enquanto corro, mas só assim que eu as vejo. É uma pena que eu me conheça tão pouco depois de tanto tempo. Mal sei do que eu gosto, só sei do que eu corro. E eu corro de mim mesma. 

Ralo

Quando eu chego em casa e quero tudo
eu me esqueço o que é que eu queria,
e não quero mais nada.
É assim que funciona:
não amar mais, cinco minutos depois de ter amado.
Pra onde foi todo aquele amor?
Pra onde foi o que eu queria?
Devem estar lá na piscina,
quando eu mergulhei devo ter deixado lá embaixo.
Se tiver ralo, o ralo levou o meu amor.

Final

Um ponto final
final
final
fim.

Podia ser vírgula,
mas acabou
(e ponto).

Dois pontos:
foi um final.


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O seu nome

Qual seria o seu nome,
se não fosse o que eu chamo?
Mesmo que às vezes eu confunda,
esse seu nome, qual seria,
se eu deixasse de chamar?

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Quadrilha

Não sei até onde a gente pode chegar com esse negócio de amor, mas eu acho que parte disso deve ter algum fundamento. Por que a gente fica com vontade de algumas pessoas e rejeita outras? É um jeito que Deus viu de segurar as pessoas? Pura taxa de natalidade? E daí, às vezes, uma pessoa não se interessa por outra que deveria ser seu par porque ela está distraída com outra pessoa. É uma loucura, Deus.

O que foi amor?

Por quê, de repente, você me perguntou:
-O que foi amor?
Quando você sabia que nada amor,
não havia nada que pudesse ser?

Meu amor

Você exige esforço nenhum.
você exige paz, você exige silêncio
você chegou em silêncio, como se não fosse nada
mas exige silêncio, exige paz, exige estar vivo.

eu ajunto a coragem

eu só quero o que desejo porque  há o seu abraço o seu tempero o seu tempo, temperamento  há tempos eu percebo  minha vida, meu sossego  bem...