Penso em você nas horas mais estranhas: quando tenho raiva do trânsito, quando penso que serei demitida, quando não sou demitida e quando sou também. Penso em você quando cometo erros de português, quando penso por que existe o português e quando penso que eu poderia ter nascido no Japão. Eu penso demais em você. Questiono a sua existência no mundo, se você é mesmo desse mundo, se você existe em algum lugar ou lugar nenhum. Penso se você pensa em mim também, se você sabe que eu existo, se você já me viu passar. Eu penso muito se eu ando fazendo as coisas certas, do jeito certo, do jeito que talvez você se orgulhasse de mim. Eu penso se todo mundo tenta falar com você, se alguém consegue, se alguém já conseguiu. Eu penso se você tem mesmo vários nomes, se você tem nome, se alguém acertou o seu nome. Eu queria saber se ter um nome é mesmo importante, se existir é mesmo lindo como dizem. Se você se cansa de ser você, se você pensa em desistir como eu. Eu penso em desistir o tempo todo. Tudo que eu tenho eu penso em deixar pra lá e o que eu não tenho também. Eu não gosto quando alguém tenta comprovar que você está por aqui porque eu não consigo ver e nem sentir e fico me sentindo tão burra, tão insensível e tão sozinha. Foi você mesmo que fez tudo? E por que não desfez até agora? Você está esperando a gente desfazer tudo sozinhos? É por preguiça, raiva, decepção, desilusão? Eu tenho tantas perguntas, eu e todo mundo. Mas eu sei que você não responde nada. Não sei se por covardia ou por não existir mesmo: como pode responder se não existe? O fato é que eu pensei em você hoje e eu quis pegar a sua mão enquanto ouvia a minha mãe tocar piano. Ela nunca toca piano, mas hoje ela tocou.
domingo, 15 de junho de 2014
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