Filho,
Olá. Escrevo de um tempo muito antigo. Escrevo de 2014, quando eu ainda não tinha você. Escrevo para dizer que estou vivendo o estopim de uma Guerra Mundial. Ou uma Catástrofe Mundial, não sei bem. Quero te contar o que vejo, como é que eu vejo e o que eu sinto. Hoje o Jornal Nacional começou com uma matéria sobre a trégua na Faixa de Gaza. O Rodrigo Alvarez e o Jeremy Portnoy mostraram as pessoas andando no meio das ruínas, as crianças nos parques, as mães nas feiras. Porque em dias de guerra, só se vê tiros e bombas e homens do exército e homens mortos e crianças mortas e hospitais bombardeados. Mas não. Hoje foi um dia atípico, as crianças foram surgindo da fumaça como anjos. Os homens e mulheres sorriam um sorriso medroso. Todos podiam ver o sol e respirar o ar. Essa guerra foi horrorosa, foi triste, foi suja, mas acho que parou desta vez. Sabemos que haverá uma próxima, só espero que não seja muito em breve. A segunda matéria do JN de hoje foi sobre o vírus da Ebola que infectou duas pessoas da Europa e 1600 africanas. É gente à beça morrendo, sofrendo e se contaminando. É claro que só as duas pessoas da europa receberam um tratamento digno. Eu vi uma moça gritando ao repórter que o irmão ou marido dela não era europeu e não tinha dinheiro pra ir se tratar lá fora. "Não é justo!" - ela gritava. E não é mesmo, filho. Nunca vai ser. O Templo de Salomão, que eu espero que hoje seja só uma lembrança do passado, é um exemplo da injustiça tanta que é esse mundo, meu amor. Milhões e milhões de dinheiros que pessoas pobres deram para que se construísse esse exemplo de riqueza e ostentação. Esse templo imenso, frio de pedra. Esse templo triste, esse templo vazio, esse templo de ninguém. O templo que envergonharia Jesus, tão pobrezinho. Envergonharia o nosso São Francisco, envergonha a mim. Pelo menos essa Copa do Mundo, meu filho, foi memorável (acho que sou a última pessoa da minha geração a usar essa palavra: memorável). Foi lindo, foi maravilhoso, foi especial. Eu estava tão cética, com medo de que acabasse a luz, que acabasse a energia, que acabasse o Brasil. Estava pessimista com tudo, desde a infra-estrutura até os jogos. De repente veio a Copa (e que viesse de novo!). A Copa das Copas no Brasil. Buzinas, bandeiras, cervejas, cornetas, festas, gringos e mais gringos, manchetes sobre o Brasil no mundo todo. E as nossas meninas, e as nossas praias e as nossas festas e o Leonardo Dicaprio numa lancha e Jennifer Lopes deslumbrante e tanta coisa legal! Sabe, eu hoje agradeço. Ainda bem que veio a Copa pra alegrar nosso povo! Obrigada David Luis, você alegrou muito o seu povo! Ah, filho, vamos parar essa carta por aqui, porque aí acaba bem. Você acaba sorrindo e lembrando que eu vi de perto o 7X1.
terça-feira, 5 de agosto de 2014
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2 comentários:
E esse filme roda. Roda esse filme.
Amor!
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