Eu tinha cinco anos. Era pequena, barriguda e modéstia parte, tinha cabelos lindos. Adorava brincar com massinha de modelar - me sentia uma artista plástica quando me davam massinha. Adorava também a caixinha de sapato com itens de higiene ou a "caixinha de higiene", como chamavam lá na escola. Dentro dela a gente guardava 1 escova de dente, 1 pasta, 1 toalhinha, 1 sabonete e 1 pente ou escova de cabelo. Eu gostava de colocar o casaco verde do uniforme pendurado em um dos ganchinhos na parede lateral da sala.
Nesse dia específico eu estava voltando do banheiro a caminho da sala de aula, quando uma aluna bem menor do que eu se aproximou. Era loirinha, tinha cara de atrevida e devia ter uns 3 ou 4 anos. Bem, esse projeto de gente se aproximou de mim e ficou me olhando curiosa. De repente, me deu um beliscão no braço. Peste danada! Eu lembro de ficar confusa, nervosa (porque doeu!) e de pensar um pouco antes de tomar uma atitude. Então eu fiz exatamente o que me pareceu mais apropriado: dei um beliscão de volta na safada. "Pronto, agora estamos quites" eu pensei. Mas não! A miseravelzinha soltou um berro e começou a chorar escandalosamente. Ai meu Deus, e agora? Veio a professora, a diretora e mais um monte de curiosos.
- O que houve? - Perguntaram.
A menorzinha não esperou um minuto sequer e respondeu toda chorosa:
- Ela me deu um beliscão!
Ah, que atrevida!
- Ora, mas ela fez isso em mim primeiro. - Eu logo disse.
Sabe o que a diretora da escola me respondeu?
- Mas ela é bem menor que você, você não pode fazer isso! Vai ficar de castigo.
E esse foi o dia que eu, aos cinco anos de idade, descobri a miserável injustiça que assola os seres humanos desde o começo da vida.
terça-feira, 23 de setembro de 2014
Assinar:
Postar comentários (Atom)
As suas coisas espalhadas
Elas me observam andar pela casa, chorar escrever quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...
-
Naquela sexta-feira eu tinha um casamento. Ou talvez uma festa chique, não sei exatamente. Quis fazer meu cabelo, minhas unhas, maquiagem. P...
-
Tudo isso para tão pouco, talvez pior do que pouco, talvez pior do que nada. Tudo isso para um abismo.
-
Por que foges, beija-flor? Não vês que te espero? Não sabes onde estou? Eu vi o sol nascer -E morrer tantas vezes. A ti eu vi tão pouco, Não...
Um comentário:
Consigo imaginar vc pequena, minha linda!
Postar um comentário