quarta-feira, 23 de abril de 2014

O adeus da mamãe

Minha mãe não conseguiu falar. Como a rosa do Pequeno Príncipe que só conseguia tossir, mamãe colocou os óculos escuros e observou. De quando em quando ela chorava, mas o papel dela ali não era chorar. Também não era conversar com ninguém. Embora ela tenha uma fala calma, doce, que pode levantar qualquer um, mamãe não estava ali para isso. O papel dela era outro, poucas pessoas sabiam. Ela estava ali para garantir que a travessia do Zé fosse tranquila, que ele tivesse algum anjinho para lhe dar a mão, para que ele chegasse sem medo. Mamãe passou boa parte do tempo fingindo que estava ali, mas ela não estava, ela estava pedindo um anjinho assim e assado para ele. Um anjinho que lhe empreste um avião para ele consertar um pouquinho antes de subir, porque ele gosta muito de fazer isso, ela me contou hoje. Pouca gente sabe disso, mas o Zé saiu de fininho, de mãos dadas com o anjinho que mamãe encomendou.

Um comentário:

Babbo disse...

Querida, Eu já sabia que ela falava com anjos mas sempre me surpreendo e me emociono com isso. Alem disso, ela tambem foi capaz de fabricar alguns anjinhos, não é ?

eu ajunto a coragem

eu só quero o que desejo porque  há o seu abraço o seu tempero o seu tempo, temperamento  há tempos eu percebo  minha vida, meu sossego  bem...