domingo, 4 de abril de 2010

Uma tristeza bonita que não acaba mais


Eu escolhi dar risada porque é muito mais fácil, não nego.
Escolhi deixar que todos riem de mim (ou comigo, tanto faz)
e assim todos ficarão bem distraídos.
Vou disfarçando a morte que acontece o tempo todo.
Vou disfarçando o amor se desfazendo dentro de mim.
Disfarço a poesia que trago.
Disfarço o cansaço, o desespero, a agonia e o medo.
Ah, o medo. Principalmente o medo. O medo de tudo.
Até chega a parecer que vejo o mundo engraçado, mas é mentira.
É puro disfarce.
Eu vejo o mundo em fotografias preto-e-branco,
numa tristeza bonita que não acaba mais.
O mundo é uma espécie de espelho quebrado,
é um troço esquisito que eu estou descobrindo, não sei o que é,
mas me apavora ficar nele sozinha por muito tempo.
E quando eu dou risada, eu me protejo disso tudo.
Eu finjo que sou maior que essa tristeza toda,
eu finjo e acabo acreditando.
Mas não é sempre assim, claro.
Há dias em que alguém segura na minha mão,
ou alguém precisa de mim para um abraço,
e é claro que a risada acontece tão verdadeira.
Há músicas, imagens, crianças e muitas piadas engraçadas.
Mas a graça é tão efêmera... E eu me escondo.
Ninguém sabe que eu deixo tanto amor escapar.
Todo dia o amor me escapa.
Ninguém sabe que eu tenho vontade de ser menos eu.
Às vezes eu só finjo, às vezes eu só minto.
Há de chegar o dia em que eu não vou mais precisar me proteger,
há de chegar esse dia.

5 comentários:

Bruno disse...

Muito bom! O sentimento que teve quando escreveu isso é único, porém dá para se aproximar deles. Sinto toda essa enfermidade que sofre o mundo e por mais que façamos a nossa parte, nos sentimos sempre de mãos atadas, pequenos diante de toda essa complexidade, toda essa desigualdade que vivemos. Daí o medo... O medo se torna fuga, fortaleza. Triste ver o mundo que deixaremos para nossos filhos.

Anônimo disse...

Eu estou aí ao seu lado o tempo todo...
Não é preciso ter medo...

Ariett disse...

Me senti representada nesse texto, já que sou a rainha da risada. Mas, no fundo...

calina disse...

acho que a gente se identifica tando...
andando e disfarçando...

amo te

Lebrão disse...

Era uma vez uma princesa que um dia, de repente abriu os olhos!

Só nesse dia, de repente, a princesa viu...
Que era uma princesa!
Que era a forte - uma leoa!
Que não precisava do riso-farsa,
Porque tinha dentro de si
o riso-verdade!
De repente, numa fração de segundo,
a princesa viu o reino que era só seu!

uma mordida na perna um veneno de lagarta no dedo uma conta negativa no banco uma franja que eu não gosto um bloqueio criativo um medo que n...