As coisas todas aparecem.
Misteriosamente aparecem com o nada.
No chão, com o vento, para o céu.
(Aparecem e podem sumir).
Segurem-nas com as duas mãos.
Não as deixem voar com os pássaros,
Não as deixem escorrer para o ralo,
Com a água do banho.
Não as deixem soltas como pétalas caindo da flor,
Porque não são flor.
O vento é fragil, fraco, não se vê,
Mas às vezes leva tudo o que se tem,
(Violentamente, como se as coisas não precisassem de despedidas),
Como se tudo bastasse no momento em que se acaba,
Como se nunca ficasse um talvez, um suspiro, uma lágrima.
As coisas todas aparecem. Sempre.
Tudo que se quis, tudo que se quer, tudo que não se tem: aparece.
Não deixe que nada escape.
Porque as coisas se vão, misteriosamente.