quarta-feira, 29 de abril de 2009

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Não peça

Sendo assim,
O amor para sempre,
Eu não posso ficar -
Porque tenho fim.
O amor é permanente,
E eu sou temporária.
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domingo, 26 de abril de 2009

Aos poucos me despeço


Há uma pequena parte de mim que quer ficar. Ela grita um gritinho suave, dentro de mim, pedindo que eu fique. Essa parte de mim quer rir quando o assunto é sério, e às vezes quer chorar no meio do trânsito. Essa parte de mim não pode ver um gramado, que já quer sair correndo. Ela tem medo de tudo e quase sempre quer fugir. Ela se sente perdida, tem saudades de tanta coisa antiga e tem sede de coisas que não são de beber. Essa parte de mim um dia já foi o meu todo, agora é apenas uma pequena parte de mim. É a parte que eu estou deixando de ter aos poucos, que está perdendo espaço para uma coisa maior. Uma coisa que as pessoas costumam chamar de maturidade. ¨
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terça-feira, 21 de abril de 2009

Desabafo de um segundo, tão rapidinho que já me arrependi de ter escrito

Minha mãe está dormindo no quarto da frente, não sei como, porque ouço os roncos altos de meu pai daqui. Minha irmã está está lendo com uma luz bem fraquinha, na sala de TV. Minha outra irmã acabou de me mandar uma mensagem: está super feliz em uma festa. Minha melhor amiga saiu da minha casa há poucos minutos, para voltar para a sua. Meus amigos, cada um de um lugar, hoje se comunicaram comigo de milhares de jeitos, inclusive por olhar. Falei ao telefone uma porção de vezes, mandei e recebi e-mails, abracei e fui abraçada. Falei "bom dia" e recebi sorrisos. Nada além de tempo me faltou. Mas hoje, especialmente hoje, eu me senti a pessoa mais solitária da face da terra.
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segunda-feira, 20 de abril de 2009

O calar-se de depois

Às vezes tudo que devemos fazer é dizer a frase que desejamos e então nos calar. Ir embora depois. Porque o que vem depois dessas frases são coisas sugadas de nós, que ainda não estavam prontas para serem expelidas. E tudo que nos é sugado, assim prematuramente, pode doer nos ouvidos de quem sugou. Não queremos dor. Ela costuma bater no vidro e voltar de onde veio.




sexta-feira, 17 de abril de 2009

Things that only a poet would know

Some questions are never meant to be aswered.
Some people are never meant to be forgotten.
And stars, they are meant to be reached.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O passado é sempre engraçado

Enquanto eu não dou risada disso tudo, sofro em agonia. Enquanto não dou risada, crio rugas, bem pequeninas, que me fazem mais velha. Rôo minhas unhas que estavam grandes há tanto tempo. E sofro bem quietinha. Mas eu espero, ansiosamente, pelo dia que eu vou olhar para trás e achar tudo isso uma tremenda tolice.

E eu vou dar muitas gargalhadas, afinal, essa é a parte boa disso tudo.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Olhar de quem olha

Adoro olhar para as pessoas. Mas olhar mesmo. Quando passa uma menina linda com um vestido todo florido eu paro a frase no meio e fico admirando-a assim, sem pudor nenhum. Algumas pessoas se incomodam, mas pouco me importa. Eu gosto mesmo é de olhar. Reparo também em crianças que começam a dançar no meio da rua, que conversam com o sorvete, que correm atrás de coisas coloridas que vêem no chão. [Eu também às vezes corro atrás de coisas coloridas que vejo. Às vezes descubro coisas lindas, às vezes me iludo.] Nunca deixo de olhar as pessoas. As pessoas e os seus olhares, os seus trejeitos, os seus jeitos de se vestir ou de caminhar. Essas coisas todas revelam muito. Às vezes muito mais do que as palavras que saem de suas bocas desesperadas. Uma vez eu disse a uma pessoa que falava demais: "Se você fosse mudo, você seria a pessoa mais doce que eu conheço." Eu gosto de olhar cada traço do rosto de alguém. Cada ruga, poro, cada detalhe. Gosto de tentar decorar os traços, embora seja uma tarefa quase impossível, levando em conta que não se pode acompanhar o que o tempo faz com nossos traços, mesmo quando se fica anos e anos casado. O tempo muda os nossos traços. O tempo puxa um pouco aqui, faz algumas manchas ali, muda tudo de maneira incontrolável. E é por isso que eu gosto tanto de olhar, eu sinto que se eu deixar escapar um pouquinho, talvez eu já não reconheça mais quem eu tanto conheço.
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quarta-feira, 8 de abril de 2009

Mas

Tenho fome,
mas empurro o prato.
Quero sair correndo,
mas me sento no sofá.
Tenho medo,
mas estufo o peito.
E vou, vou, vôo.
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segunda-feira, 6 de abril de 2009

Insônia

Amanhã só pode ser chamado de amanhã se eu dormir? Se eu não dormir nunca mais, minha vida passará a ser um eterno hoje?
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domingo, 5 de abril de 2009

Dedico

Aos peixes que morreram para que eu pudesse comê-los. Às formigas que pisei enquanto corria apressada. Às dores de cabeça que senti durante a ressaca. Aos apertos no meu coração que vieram no dia seguinte. Às unhas que roí até o meu dedo sangrar. Aos segredos que guardei tanto que se tornaram rugas. À tudo aquilo que desperdicei por não querer mais. Aos trabalhos em grupo que só participou o meu nome no papel. Às festas que me convidaram e eu não fui. Às cadeiras que ficaram vazias porque eu não sentei. Às lágrimas que escorreram em meu nome. Aos nãos que doeram em alguém. Às laranjas que espremi mas não tomei. Aos gritos que eu não ouvi, aos gritos que eu dei, aos gritos que não dei também.

A minha dor lhes é suficiente?




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O cérebro do meu coração

Eu perdi o meu tempo tentando te entender. E você perdeu tempo tentando me explicar. Mas no fundo nenhum de nós dois perdeu tempo algum.

Eu gostaria de entrar nos seus pensamentos e me comunicar com eles.

Tenho vontade de acelerar o tempo bem mais do que voltá-lo, porque as coisas que eu fiz, eu fiz por algum motivo, mas eu queria dar uma espiadinha do que vem depois.

Em um minuto eu sinto o meu peito lotado, em outro ele já está vazio.

Eu teria milhares de peixinhos coloridos no meu quarto, se eu não tivesse que limpar o aquário, porque às vezes eu sinto uma necessidade extrema de observar peixes.

Gostaria que o meu choro servisse para resolver as coisas uma vez ou outra.

domingo, 29 de março de 2009

A tal da reciprocidade

Às vezes ela vem sob um olhar retribuído. Às vezes vem em um bilhetinho deixado na mesa. Às vezes escondida nas entrelinhas das frases ou em um abraço prolongado. Mas tem vezes que a reciprocidade não vem. Ou então pode até ser que ela venha escondida em um passarinho feito de papel. Mas às vezes esse passarinho precisa voar, ele só não sabe como fazer.
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Quando o mundo inteiro me diz que é errado, eu continuo. Quando eu penso que é errado, eu páro.
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quarta-feira, 25 de março de 2009

Ainda bem que Galileu estava certo


Eu sei que posso estar sendo louca e imprudente, e estou mesmo de fato. Mas eu fico com aquela velha história na cabeça, de que Galileu Galilei foi considerado louco e imprudente quando defendeu o heliocentrismo, e eu sigo em frente. Porque afinal, o resto do mundo estava errado. O Sol está sim bem no centro do sistema solar. Loucos e imprudentes são aqueles que não defendem o que acham que devem defender.

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terça-feira, 24 de março de 2009

You are not as strong as you show

I am not sad, I just can see more than you.
I see more than you show me, more than you show people.
I see your weakness.

And I like you even more because of that.
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segunda-feira, 23 de março de 2009

domingo, 22 de março de 2009

A qualquer momento

Tenho um certo medo das coisas que não fiz. Elas estão entaladas dentro de mim, prontas para serem expelidas sob a forma de mil arrependimentos.
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Você, que não é perfeito

Ficou com um ou dois cds meus. Disse que eu tinha tido muitos amores e assim não dava. Disse que eu saía demais e você era calmo demais. Me enganou direitinho com aqueles olhares. Fugiu, depois voltou e aí fugiu de vez. Não disse adeus. Cortou demais o cabelo e ficou feio. Criticou-me dos pés a cabeça. Cantava alto demais no carro. Perguntava demais e odiava as respostas. Buscou todos os meus segredos na internet, e errou: eles não estão na internet. Estraçalhou todos os meus vidros, aqueles que protegiam a minha casa. Você, que não é nada perfeito, não vá a procura de perfeição: ela não existe.
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segunda-feira, 16 de março de 2009

Solidão

"A solidão, na verdade, eu acho que ela não passa de uma sobreposição de todas as suas camadas num único momento. Todas as suas camadas, todas as suas vontades, todas as suas verdades, elas se encaixam num único espaço de tempo. E ali você realmente enxerga que desde que você nasceu você é solitário."

http://www.youtube.com/watch?v=OOp0QFAnTS4
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domingo, 15 de março de 2009

Dente-de-leão


Um dia eu assoprei um dente-de-leão, aquela flor que realiza desejos, e coloquei uma das sementes num vidrinho. Fiz isso porque eu queria guardar uma das sementes daquele desejo e entregar ao desejado (que era o meu garotinho). Ele não entendeu nada. Olhou para aquele vidrinho tão sagrado para mim e fez cara de interrogação. Sorriu e colocou no bolso. Ele nunca entenderia a beleza daquela sementinha que eu guardei para ele. Nunca. Porque tem gente que entende e tem gente que não. O desejo que eu fiz com aquele sopro era simples, uma pequena bobagem. Eu pedi que ele não desistisse de mim nunca. Quando ele me deixou, eu não parei de acreditar que dentes-de-leão realizam desejos, e nem desisti de assoprá-los quando os vejo. Porque aquela flor me fez um favor enorme não realizando aquele desejo: eu jamais poderia amar alguém que não entende um vidrinho com uma semente de dente-de-leão dentro.
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sábado, 14 de março de 2009

Sorriso

Quando me lembro que o seu sorriso já sorriu só para mim eu me alegro. Por alguns poucos segundos. Porque o seu sorriso já está longe e eu nem mesmo sei se ele mudou de curva.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Enough.

Eu espero, tão conformada com a vida, que ela me traga alguma coisa extraordinária. Nada menos. Já me bastam as coisas ordinárias do dia-a-dia. Já me bastam os muitos 'nãos' e os poucos 'sims' que eu recebo. Já me bastam as mentirinhas diárias e as pequenas gargalhadas. Já me bastam. Quero algo extraordinário. Eu quero olhar para alguém como o meu pai olha para minha mãe. Mas eu quero alguém que me olhe de volta. Já me bastam as desistências covardes que me surgiram. Mas talvez o segredo seja outro, talvez o segredo seja não esperar.
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quarta-feira, 11 de março de 2009

chuva

Enquanto chove no bairro, na cidade, no Estado, em todo o país e em alguns outros lugares do mundo, há um barquinho bem no meio de algum rio, tentando se equilibrar.
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segunda-feira, 9 de março de 2009

Para Oscarlina

Cara,
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A gente não se conhece, eu sei. Mas eu resolvi escrevê-la para dizer que você é uma das maiores poetas que eu já conheci. Eu, na verdade, só conheço um trabalho seu, mas acho que já é suficiente para admirá-la. Escrevo para você, porque eu queria saber um pouco mais sobre seus pensamentos, sua inspiração. Deve ter levado tempo para conseguir lapidar esse pequeno diamante, não foi? Como eu também gosto de escrever às vezes, será que você me ensinaria uma coisinha ou outra? A parte que eu mais gosto da sua poesia é a pureza. Também gosto da paz que ela transmite. Gosto de todas as estrofes, todas. É, minha cara, eu estou falando do seu filho, ele é a poesia mais linda que alguém já escreveu.
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sábado, 7 de março de 2009

Átomos

A física sempre soube explicar por que dois átomos não conseguem ocupar o mesmo lugar no espaço.



Mas ela nunca soube explicar quando eles conseguem.

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Quando eu te vejo

Acordo com vontade de não acordar. Não há sol lá fora (e nem aqui dentro). Meu celular está cheio de promessas que não vingarão, porque eu não quero. Estou cheia de expectativas, porque é assim que eu vivo. Fico meio sem saber por onde começar. Então você me liga:
-Vamos tomar um sorvete? Olhar as ruas e as pessoas? Quero te contar sobre os meus sonhos de sempre.

Então nós vamos. O papo é o de sempre, o sorvete é o mesmo sabor de sempre e não há nada de novo. Mas de repente a gente começa as risadas, também de sempre, e eu começo a ficar com vontade não só de acordar, mas de não ir dormir nunca mais. De repente você me mostra o quanto eu sou divertida, o quanto eu importo no mundo e para você. De repente, você nem sabe disso, mas você salva a minha vida. E é assim todos os dias que eu te vejo.


Obrigada, Croki.
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sexta-feira, 6 de março de 2009

O perdão é assim

-Me perdoa? -Perguntou a menininha.
-Perdôo. -Ele respondeu.

E o joelho do menininho continuou com treze pontos.

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quinta-feira, 5 de março de 2009

segunda-feira, 2 de março de 2009

Ceneri

Quando você foi embora, você foi cremado.
As suas cinzas em uma jarra de ouro.
E em cada carta não respondida,
em cada mensagem não lida,
em cada silêncio e desprezo,
um pouco das cinzas eram jogadas ao vento.
Algumas vozes me ajudaram a atirar todo o resto das cinzas naquela forte ventania.
Eu relutei, mas acabei atirando tudo, tudo.
Já que não se pode ressucitar pessoas que viram cinzas.
Então não sobrou nem um pouquinho.
Eu sei que as fotos que tirei com meus olhos não foram com o vento e as cinzas,
eu sei que um grilo falante ao avesso me trará pedaços de você uma vez ou outra.
Mas isso já faz parte de mim, e eu sigo conformada.
A história ficou, mas as cinzas estão agora em um vento que segue norte.
Longe de mim.
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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

I've decided to say goodbye for good. So this is it. Goodbye.

Formigas e diamantes


Meu pai tinha razão aquela vez, quando a formiga me picou. Ele disse: "Não chore, filhinha. Suas lágrimas são preciosas, como diamantes. Se você chorar por essa formiguinha, depois não vão sobrar lágrimas para coisas importantes."

É, ele estava certo. As lágrimas são mesmo como diamantes e vão se esgotando. Ontem eu chorava tanto que hoje eu já quase não tenho mais lágrimas. Eu ainda não descobri se chorava por uma formiguinha ou alguma coisa importante. Isso meu pai não me ensinou a identificar, mas algo me diz que é a vida que mostra as formigas e às vezes nos traz alguns diamantes.
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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Don't disappear

É uma rua tranquila até, e eu quase sempre passo distraída por lá. Ou melhor, passava. Até eu conhecer esse vendedor de chicletes, cujo nome eu não sei, que fala inglês. Deve ter uns quarenta e poucos anos, todos os dias veste um terno cinza bem surrado e óculos escuros. Ele chega na janela do seu carro e começa a falar com um inglês bem razoável se você quer comprar os chicletes dele, que são ótimos, que você parece uma atriz de hollywood e mais um monte de abobrinhas. O cara é ótimo. Mesmo que você esteja horrorosa e deprimida ele te anima e ainda faz você comprar aquele chiclete com gosto de isopor. Eu sempre compro. Isso já faz um tempo e eu até criei certa amizade com ele, tendo em conta que o farol dali é bastante demorado. Fiquei um tempo sem aparecer naquela rua, e ele notou. Quando eu finalmente reapareci e começamos o nosso papo, o farol logo abriu e a única coisa que ele gritou para mim, num tom meio desesperado foi:

-Please, don't disappear!

Eu achei graça a princípio. Para um americano isso não faria muito sentido, porque o que ele quis dizer faz mais sentido em português. Depois comecei a pensar, e meu amigo do farol tem toda razão. É isso mesmo que as pessoas fazem: elas desaparecem.
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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Uma hora

Enquanto o dia ganhava uma hora, um gato comia ração. Uma folha seca caía de uma árvore velha e uma mãe gritava com um filho. O ponteiro de todos os relógios ficou parado, porque estava na hora de acabar com o horário de verão. Até o ponteiro do relógio daquela professora malvada ficou parado. Bem feito: ela esperava o marido chegar. A noite que já era longa, ficou mais longa, e a música não parou de tocar, porque ainda tinha uma hora de festa. Um avião que passava ali por cima avisou os passageiros: "Voltem uma hora nos seus relógios!" E todos os passageiros sorriram: "Ganhamos uma hora!". Enquanto os bombeiros não apagavam nenhum fogo que não acontecia naquela hora, eu, distraída, deixei a hora passar. Os ratos imundos entravam nos esgotos, as bolas de basquete pingavam no chão, as nuvens formavam suas chuvas, as barrigas de mães grávidas cresciam mais uns milímetros. E eu poderia ficar feliz que ganhei mais uma hora para o meu dia. Eu poderia sorrir ou celebrar, como todos faziam. Poderia tomar uma taça de champagne e me alegrar. Mas eu não, eu não me alegrei.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Os 50% do amor

Você falou milhares de frases desconexas e um pouco incompreensíveis.
E todas elas renderiam um post. Mas eu escolhi essa.

"As pessoas não tem culpa se você gosta delas. O sentimento é seu. A culpa é sua. A responsabilidade é sua."

Não concordo, garotinho. 50% para cada.

50% culpa de quem gosta, 50% culpa de quem é gostado. Porque ninguém gosta de alguém porque escolheu aquela pessoa, essas coisas a gente não escolhe. E ao mesmo tempo, há uma fração de segundo em que se é possível escolher: se encantar ou fechar a porta.

Os medrosos fecham a porta e põe a culpa no outro. Os aventureiros se jogam com tanta força que às vezes chegam até a quebrar alguns membros do corpo. Às vezes até um órgão vital. O coração, por exemplo.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Obrigada

Andava aflita para lá e para cá, com mil coisas para fazer. Estava estressada, minha cabeça voava em mil coisas. Tinha que ir para o andar de cima do prédio, então peguei o elevador. Assim que entrei no elevador, dei de cara com ele: o limpador de espelhos. Era um senhor bem velhinho que limpava o espelho do elevador com uma calma, uma paz tão grande. Esqueci de todos os meus problemas, esqueci para onde estava indo e por que eu estava ali. Fiquei observando a calma daquele ser. Ele passava o rodinho, tirava o sabão, depois repassava, até o espelho ficar brilhante. E como ficou brilhante! Aquele senhor devia ter muita experiência, pois tinha feito um excelente trabalho. E melhor ainda: me emprestou um pouco de sua paz.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Água doce

Se eu fosse um peixinho de água doce,
E eu te desse um beijinho,
Me diga: Ele seria docinho?
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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Ô tempo, seu safado! Quer tratar de curar o meu coração tonto? Ô tempo, seu malvado! Achei que você curava tudo, eu ouvi dizer. Era mentira? Quer tratar de passar logo por mim, para que esse vazio se torne uma bobagem de novo?
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domingo, 8 de fevereiro de 2009

Pode ir, meu príncipe.


Pode ir, meu príncipe. Pode pegar o seu cavalo branco e ir pela floresta! Você é o meu príncipe e eu vou sonhar com você todas as noites, mas pode ir... Eu gosto tanto do seu sorriso que dói. Vai doer tanto ver você indo embora, meu príncipe. Vai doer porque eu queria construir um castelo tão lindo para a gente morar! Com janelinhas para a gente ver a lua e as estrelas. Vai doer porque eu fiz um montão de poesias lindas para você, e eu ia deixá-las nas suas coisas, para você ir achando ao longo da vida. Mas pode ir. Eu quero tanto que você seja feliz, porque você é um príncipe tão lindo! Eu quero ver o seu sorriso em capa de jornal, em fotos de viagens, em competições que você ganhar. Que você ganhe todas! Você me fez tão bem, príncipe meu. Tão bem! Eu chorei bastante já, mas foram lágrimas boas! Eu chorei porque tudo foi tão lindo... Eu pisava no seu pé para não ser picada pelas formigas. Eu gostava de usar as suas blusas no frio. Gostava do seu beijinho com biquinho de guaxinim. Gostava de todas as suas manias: de falar "entendeu?", de ser curioso, da sua distração. Nossa, a sua distração! Como eu gostava de vê-lo viajando tão longe... Você é um príncipe lindo, aprendi a ser mais bonita, porque você me ensinou. Eu nunca não vou gostar de você, pode ir pelo bosque. Pode ir sim! Vai ser feliz, príncipe, muito feliz! Eu vou ficar aqui, e eu vou ser uma princesa boazinha, não vou chorar mais, tá bom?

Um dia você vai se orgulhar de mim, meu príncipe. Eu prometo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Eu li em um livro e lembrei de você

“Você sabe o que acontece quando a gente magoa as pessoas?” Ammu perguntou. “Quando você magoa as pessoas, elas começam a amar você menos. É isso que acontece quando se fala sem pensar. As pessoas amam você menos”. Uma mariposa fria com tufos de pêlos dorsais excepcionalmente densos pousou suavemente no coração de Rahel. No ponto em que as patas geladas a tocaram, ela se arrepiou. Seis arrepios em seu coração descuidado. Sua Ammu a amava menos.

(O Deus das Pequenas Coisas - Arudathi Roy)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Vá achar a tua menina

Talvez você encontre a menina que nunca disse eu te amo, a menina que não gosta de sair, que não escreve sobre você e nem ninguém. Tua menina deve estar em algum lugar, aquela que não te chama de nomes de bichos (porque você diz que não gosta) a menina que não come muito, que não bebe nunca, que não liga nem um pouco porque você paga todas as contas. Vá procurar em outro lugar a menina que não dá risada mesmo quando você está a mandando embora. Onde será que está a sua menina? A menina que só gosta de tocar piano e esperar acabar o seu treino. A menina que se apega a você tão rápido, mas que não desapega rápido de jeito nenhum, ela não pode ter essa doença. Você não deve perder tempo, mesmo no meio dessa sua confusão, vá achar a tua menina. Essa menina deve ser mesmo linda, eu até quero conhecer a menina que merece ouvir o seu eu te amo.

Espero

Que o fim seja breve, para que eu logo possa voltar a respirar alegremente.
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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O meu primeiro amor

Eu tinha um ursinho de pelúcia que era um porco. Eu devia ter uns 9, 10 anos. Ele vestia um suspensório e uma camisa social. Era pequeno, o porquinho. Eu dormia abraçada nele, acordava e o levava para onde eu fosse. Ele me dava paz, me protegia. Uma vez fui com a minha família para uma dessas viagens, devia ser a Disney, e eu levei meu companheiro porquinho. Ele não tinha nome, porque eu nunca precisava chamá-lo: ele não me abandonava. Fomos juntos em todos os brinquedos do parque, e na hora de voltar para São Paulo, eu o esqueci no banheiro do aeroporto. Ele me abandonou. Senti falta de tê-lo dado um nome, porque eu não pude chamá-lo. Me desesperei tanto, que pensei que minha vida não tinha mais sentido. Eu não queria voltar para casa, porque eu esperava que ele fosse voltar para mim. Mas ele não voltou. Ele nunca foi encontrado (ou se foi, foi por outra garotinha) e eu tive que voltar. Demorei muito tempo para superar a perda do porquinho de suspensório. Meu pai me deu outros bichos para tentar amenizar, tipo um tatuzinho cinza que usava lenço vermelho, mas nada substituiu o meu porquinho. Domingo eu faço aniversário. Completo 22 anos. E eu queria que o meu porquinho estivesse aqui para comemorar o meu aniversário comigo.
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

domingo, 25 de janeiro de 2009

Você me deixou

Estou acostumada com respostas doces, porque você sempre me dava uma resposta doce. Talvez eu não tenha o deixado nada. Nem mais forte, nem mais sábio, mais esperto ou mais alegre. Talvez eu tenha o deixado mais cauteloso, ou talvez um pouco mais triste. Não sei qual mensagem ou qual papel eu tive na sua vida, mas eu sei que eu estou acostumada com respostas doces. Uma das coisas que você me deixou foi isso: Eu só aceito respostas doces, se não for doce eu não quero. Você me deixou mais doce.
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Para G.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Se

Se eu fosse um pouco menos do que sou, eu seria pouco demais? Ainda assim eu caberia nos seus pensamentos?

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sábado, 17 de janeiro de 2009

Post-it na pele

Estávamos falando sobre tatuagens. Fiquei com vontade de fazer uma também. Uma que dissesse alguma coisa para mim, que todos os dias eu lesse uma mensagem no meu corpo, como um lembrete. Um post-it na pele. Talvez uma poesia, por que não?

Mas foi quando eu estava no meu carro, ouvindo uma das minhas músicas preferidas, que eu descobri o que vou tatuar.

Agora eu só preciso pensar como é que vou tatuar a minha música preferida na pele, porque ela é feita só de som. Enquanto eu penso, vou ficar sem tatuagem mesmo, eu não quero um lembrete que não me lembre de nada.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A interminável lista de coisas que eu queria saber


  1. Queria saber se Deus concorda que à noite os homens durmam, e de manhã os homens trabalhem. Se ele fez a noite ser escura só para que ninguém enxergasse nada e fosse dormir, ou se ele quis que os homens fizessem um esforço e vivessem a noite, mas ninguém o obedeceu.
  2. Queria saber se é verdade que todo mundo tem um dom. O dom de cantar, de contar, de correr, de nadar, de ser líder (como Gandhi) ou de transmitir paz (como Dalai Lama). Se for verdade mesmo, eu gostaria de saber qual o meu dom.
  3. Queria saber quem é Graça e se ela trabalha mesmo com os filhos. Porque todos os dias eu passo perto de um restaurante chique de São Paulo e vejo um monte de cestas, dessas de feira, com muitas frutas frescas e um rótulo escrito: "Graça & Filhos". A Graça é quem recolhe as frutas e os filhos a ajudam a colocá-las nas cestas e vendê-las?
  4. Queria saber se você, às vezes, pensa em mim.

Minha lista é interminável e eu não me atrevo a terminá-la.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Feliz ano novo

-Que nada! Eu penso. O único ano novo que existe é dentro da gente, e este ainda nem começou a se formar dentro de mim.
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domingo, 11 de janeiro de 2009

Enquanto espero que você venha [ou que a vida passe]

Penteio o meu cabelo. Escuto música. Enjoo da música. Passeio pelas novas fotos. Decoro os novos rostos. Escuto os pernilongos passearem pelo meu quarto. Olho o relógio (de novo). Apaixono. Desapaixono. Leio algumas páginas do meu novo livro. Fico sem entender as notícias que não acompanho. Sinto a terra girando. Pergunto a Deus se ele existe mesmo. Ele me ignora. Pergunto ao meu pai se ele está em casa. Ele grita lá do quarto que sim. (E nele eu posso acreditar). Resolvo mudar de nome. Alice. Penso na morte. (A vida é muito tola por aqui). Escrevo livros na minha cabeça. Apago algumas frases. Meu coração dispára. Não, não era o seu perfume. Meu coração demora, mas volta ao ritmo normal. Vou a procura de um motivo. Não encontro. Volto a me chamar Clara. Fecho os olhos e durmo. Amanhã é um outro dia, e a vida passou mais um pouquinho.
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Intocável

Às vezes eu desgosto tanto dos meus pensamentos, mas tanto. Nem o alto volume do rádio consegue abafá-los. Nem o desvio do meu olhar, nem outros pensamentos que tento pensar emcima daqueles. O que eu faço com esses pensamentos, se eles estão dentro de mim e tudo que é de dentro é intocável?

Tudo que é de dentro é intocável?
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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Esse meu sentimento de você

Eu sei que mal dá para me ver. Sei que já não é possível mais tocar nem em meus pés. Eu sei que não dei adeus a ninguém e que, de repente, subi. Sei, sei, eu sei que devia ter tocado uma última vez a minha valsinha e contado uma última piada, mas não deu. Eu tive que subir. Uma hora eu cansei de tantas mãos acenando adeus e outras cumprimentando. Eu cansei de tentar decorar olhos que eu não veria nunca mais. Eu cansei de tudo isso e encontrei um só olhar que não vai dizer adeus. Esse olhar agora só vai olhar para mim, e eu trouxe ele para cá comigo.

Sabe, já estava na hora de eu conhecer as nuvens.


segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Disfarce do tempo

Às vezes o tempo parece que está de gracinha com a gente: ele brinca de não passar.

Tudo bem que na grande maioria das vezes ele passa depressa demais, mas às vezes ele para e deixa a gente com cara de relógio. Desses relógios bem antigos que rangem para virar os minutos.

O tempo é um tremendo de um sacana. Ele é todo sabichão e sempre faz tudo na hora certa, mas ele se esconde em momentos errados. Confude todo mundo de propósito.

A gente sempre espera que o tempo conserte tudo, como se ele fosse um santo milagroso. E é por isso mesmo que ele é um sacana: ele é um santo milagroso disfarçado de malandro.
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domingo, 4 de janeiro de 2009

Heartless

Sempre que eu viajo no reveillon eu volto com um coração a menos. Quero saber quantos corações ainda me restam.
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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Sobrevivi

Eu passei no teste. Não reprovei em nada. Estou bastante viva. Não morri quando me apaixonei completamente e fiquei só. Ou quando senti tanta saudade mas não pude matá-la. Não morri por causa de gente que pisou na bola, nem de gente que mentiu por maldade. Sobrevivi. Sobrevivi também depois de ter passado por apertos financeiros, depois de ver meu melhor amigo partir sem deixar recado, depois de ter ficado por muito tempo sem chão. Não morri também depois de ter perdido a confiança, a alegria, a vontade de sorrir. Posso ter ficado triste por um tempo, desanimada, desconsolada, perdida. Mas sobrevivi. Estou mais forte, mesmo que eu não consiga ver isso agora. Estou mais esperta e mais consciente. Foi uma longa batalha, foi uma vitória difícil, mas fui campeã. Que o próximo ano também venha cheio de testes, e que eu continue passando, sempre.

Feliz ano novo a todos.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Temporal de dentro

Perdão pelo egocentrismo, mas eu acho que as enchentes e chuvas estão apenas refletindo o meu estado de espírito.




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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Tolice

Eu sempre pergunto ansiosa:

-Você gosta de poesia?

Mas eu suspeito de quem responde que sim.
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domingo, 21 de dezembro de 2008

Casamentos

Estávamos todos indo para o casamento da amiga da Mariana. Meu pai, minha mãe, a Carol, a Mari e eu. No caminho a minha mãe virou para o meu pai com sua vozinha doce e disse:
-Olha, bem, a sua gravata combina com o meu vestido!
'
A gravata do papai sempre combinou com o vestido da mamãe, há 25 anos.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Tópicos da minha madrugada

1. Did you miss me while you believed in strangers?

2. Quando se fala muito, corre-se o risco de falar demais.

3. Eu não queria ter conhecido aquele seu olhar antes da hora, tive medo do seu olhar.

4. Quando se faz uma escolha, deve-se afogar todas as renúncias no oceano, e não olhar para trás.

5. Por favor não tenha pressa. Esse é o tempo da correnteza do rio, se você se apressar, pode morrer afogado.

6. I love when you sound so interested in my day.

7. Acabo de me dar conta que eu avalio pessoas pelo modo como elas chamam o garçom. Até hoje não encontrei ninguém que tratasse o garçom exatamente do jeito que eu gosto.
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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Não adianta

Estou sim adiando a nossa conversa. É muita coisa que fica perdida na tradução de um sentimento partido. Não vamos entender, nem eu e nem você. Tanta coisa incompreensível...
Sobre o quê iremos falar? Sobre o que você nunca disse? Ou sobre o que eu sempre tive que adivinhar?
Podemos então falar sobre a praia que sempre ficou nos esperando, que eu fiquei esperando, mas você não me levou. Podemos falar também sobre as fotos que eu sempre quis tirar, mas você nunca levou a máquina. Ou então a gente pode falar sobre todos os textos que eu escrevi para você, mas você nunca disse nada. Você gostou?
Essas coisas a gente pode sim falar, mas por favor, não me pergunte por que eu fui embora.
Eu fui embora porque um dia eu percebi que o amor não é mudo. Porque eu percebi que eu quero ficar rouca de tanto conversar de madrugada. Porque eu vi como o horizonte é infinito e eu quero andar nele até cansar. Eu fui embora porque eu vi como a vida estava me chamando e eu não podia mais deixar o tempo passar assim, tão à toa.

domingo, 7 de dezembro de 2008

O meu jardim

Existe vida a essa hora da noite? Existe vida nos seus olhos agora, ou eles estão apagados? Existem pensamentos nos seus sonhos, ou apenas figuras desconexas? Eu sou uma figura desconexa nos seus sonhos?

Às vezes você me olha de um jeito que eu penso que sou uma figura desconexa do mundo.

Eu penso se, quando você se sente sozinho, você se lembra que a minha mão pode segurar a sua. Eu não penso na sua mão quando eu estou sozinha. Eu prefiro pensar num jardim enorme onde eu posso correr. Você agora dorme?

Eu durmo. E no meu sonho, o jardim onde eu corro é a sua mão.

sábado, 6 de dezembro de 2008

A falta de plumas do mundo

Ela podia ser minha amiga. Podia ser minha colega, minha prima, minha sobrinha, até a minha irmã. Mas não, ela não era nada meu. Nem conhecida. Aquela era a primeira vez que eu me deparava com aquela garota. A garota que recebeu um não da vida e que dormia na calçada. Tive vontade de chorar, um embrulho do estômago. Não consegui fazer como todos faziam, passando por cima e seguindo os seus caminhos. Também não havia muito que eu pudesse fazer. Só consegui ficar ali parada e olhar os seus olhos cheios de dor, que dormiam. A garota tinha roupas rasgadas, meias rasgadas, tênis rasgado e a alma profundamente rasgada. A única coisa que não havia se rasgado (tanto) era a sua beleza. E aquilo me doía mais. Ela podia ser minha amiga. Podia estar dando risada tomando um café comigo por aí. Mas não, ela estava deitada na calçada, por falta de onde deitar. Não, ela não tinha motivos para dar risada e nem dinheiro para tomar um café. Pensei em quem é que escolhe quem vai deitar na calçada e quem vai deitar em plumas. Pensei em quem escolheu aquela garota para deitar ali. Quem teve coragem de dizer: "Você não vai ter oportunidade. Você vai sofrer e dos seus olhos só sairão lágrimas. A sua alma vai estar rasgada e essa vai ser a sua condição." Quem é que tem coragem de escolher o sim e o não? Quem tem coragem de dizer não a olhos tão tristes? Quem teve coragem de tirá-la de uma cama? Quem não inventou mais espaço no mundo para as pessoas não precisarem deitar na calçada? Como consegue alguém deixar que algumas almas se rasguem? Só conseguia pensar em como ela podia ser minha amiga, mas não. Ela deitava na calçada.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Estação das flores

Acho incrível as flores terem as suas estações para aparecer. Algumas no verão outras no outono. Algumas são do frio e outras abrem quando as folhas das árvores caem. Eu costumava perguntar para minha mãe: "Quando é época de joaninhas?" Só mais tarde eu fui descobrir que eram as margaridas que tinham se fechado, fazendo as joaninhas esperarem em algum outro lugar. Onde se escondem as flores quando não é a estação das flores? Acho lindo as flores ficarem pacientes esperando a sua época do ano para florecer. Se o sol chegar mais cedo, as flores florecem mais cedo também? E se a chuva prolongar, elas tem de esperar mais tempo? Quando alguém as arranca do chão, elas sobrevivem pouco tempo no vaso. O vaso as deprime. O vaso é uma jaula. Eu não gosto de vasos. E se eu fosse uma flor, eu iria nascer fora de época, porque o meu sol já apareceu e nem era a minha época.

domingo, 30 de novembro de 2008

Em breve

Eu te encontrarei em breve, muito em breve. Quando a chuva parar de inundar o mundo e os meus olhos. Quando as ilhas pararem de flutuar sobre as águas do mundo e da minha mente. Quando eu souber escutar os pedidos de ajuda, quando eu lembrar o nome das pessoas que me ajudaram. Eu lhe avistarei de longe. Será como quando alguém que anda pelo deserto consegue enxergar a alguns metros um poço d'agua. Como quando uma criança se perde da família e depois reconhece os pés de sua mãe. Ou quando acaba a energia e se fica no escuro por muito tempo, a luz volta e as coisas parecem voltar ao seu rumo. Eu vou achar o meu rumo quando eu escutar o seu pedido de ajuda, e eu vou lembrar do seu nome.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

As mãos que eu soltei

Odeio despedidas, mais do que todo o mundo. Principalmente porque eu nunca consegui segurar a mão de alguém que eu nunca mais quis soltar. Todas as minhas despedidas são tristes, desesperadas e me ardem tanto, porque elas apenas me lembram das mãos que eu soltei.
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sábado, 22 de novembro de 2008

Ei,

Só porque você tem uma medalha de ouro no seu pescoço não significa que você venceu.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Curva

Não era de você que eu gostava, era da curva que o meu sorriso fazia quando eu ficava do seu lado. Acho que o meu sorriso ficou agora reto.

Secretamente

Eu quis, secretamente, que ele não viesse.
Quis ficar em silêncio só com os meus sons.
Não quis escutar mais nada além de mim,
E nem ter que espalhar as minhas palavras pelos ouvidos dele.
Mas ele veio.
Ele veio e trouxe milhares de barulhos, cheiros e caras, dessas que ele faz pra tentar me seduzir.
Eu tive de dividir os meus sons com os dele.
Os meus cheiros com os dele.
Os meus pés também.
E tive que fazer aquelas caras que eu faço quando o resto do mundo não me interessa mais.
A gente riu: eu dele e ele de mim.
E então eu quis, secretamente, que os pés dele nunca mais andassem para longe dos meus.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Arre-perder

O que eu faço com o arrependimento?
Jogo num rio, onde ele se dissolverá e sumirá para sempre?
Dou para você guardar de souvenir, junto com seus outros caprichos?
Guardo para mim, e deixo que ele me encolha?

O que eu faço com o arrependimento, diz?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Platão de perto

Eu queria que você ficasse me olhando de longe, enquanto eu estivesse distraída. Queria que você escrevesse poemas secretos para mim e eu nem imaginasse. Queria que você olhasse minhas fotos, procurasse os meus amigos e chamasse o meu nome sem eu saber. Eu queria que você me descobrisse antes, que eu fosse escolhida por você. E que assim, bem de repente, nossos olhares se encontrassem, depois de tanto se procurar em outros olhares.
Você é dessas pessoas que observam as outras de longe?

domingo, 16 de novembro de 2008

Os morangos da minha irmã


A minha irmã tem cheiro de morangos. Não sei como ela faz isso, mas mesmo no dia de maior calor, mesmo sem perfume, mesmo dormindo, o seu cheiro é de morangos. Eu nunca disse isso a ela, e acho que ela nem sabe, mas sempre que ela fica longe por um tempo, até os morangos ficam sem cheiro.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Tênis de corrida

Eu queria escrever alguma coisa, mas tenho medo que você leia e saia correndo. Eu tenho um medo constante de que as pessoas saiam correndo, mesmo porque as pessoas estão no direito de saírem correndo. Eu sempre saio correndo, bem mais do que o mundo todo. Acabei de terminar uma longa corrida, e não venci, porque não era dessas corridas que alguém na frente ganha. Não sei porquê exatamente, mas acho que eu não vou correr de você. Só que eu não tenho certeza ainda. Então eu deixo o meu tênis ali, só para garantir.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Pequena constatação

Eu poderia criar um enorme dicionário das palavras que eu digo mas ninguém pode entender. E mesmo nessa incomunicação que tenho com o mundo, eu bem que consigo fazer poesia.

sábado, 8 de novembro de 2008

Um poeta sem alma

Manuel Bandeira recomendou-me, em um de seus poemas libertinários, que largasse a minha alma, se eu quisesse sentir a felicidade de amar. "Porque os corpos se entendem, mas as almas não". Sim, eu largarei minha alma. Deixarei-a vagando por aí, infeliz, solitária, perdida.

Largarei-a para que ela se encontre em um nirvana profundo do paraíso das almas. Largarei-a em uma esquina, sem nenhum radar. Deixarei-a em paz, na paz que as almas encontram quando encontram a si mesmas.

Eu deixarei minha alma passear pelo mundo, pelos cantos, pelas casas e pontes, para que eu encontre a felicidade de amar.

Mas peço a ela, a alma que é, que não me abandone. Que vagueie por muito tempo, que se incomunique com outras almas, que se encontre em espelhos do mundo. Mas que volte para o meu corpo. Porque há muito tempo ele já sente a falta desta alma.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Nem cinco minutos

Sou uma pessoa muito demorada. Demoro para me vestir, para comer, para tomar decisões. Resolvi adiantar meu relógio em cinco minutos, só para ver se me acelerava.

Hoje eu finalmente notei que eu estava envelhecendo cinco minutos. Eu estava vivendo cinco minutos na frente do tempo. Eu estava adiantando a minha vida. Pior: Adiantando a minha morte!

Atrasei cinco minutos o meu relógio. Prefiro chegar sempre atrasada do que viver cinco minutos a menos.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

sábado, 1 de novembro de 2008

Presa

É meu passo que prende.
É meu olho que sente.
É você que vem, é o que sei.
Eu sinto o seu cheiro, de gente que chega.
Se a gente vai, é pra lá que vamos.
Você quer ficar, nos amarramos.
Mas eu não vou, sou eu que fico.
Porque é o meu passo
-o que me prende.

A sua boca não pode dizer adeus

Se for pra me dizer que vai
Não diz
Só se for pra ficar
É que eu vou ouvir.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O pai e a filha (ou a minhoca e o urso)

A filha chegou em casa toda chorosa. Logo se esparramou na cama do pai e chorou tudo que a incomodava: o coração, o trabalho, a faculdade e todas as suas picuinhas de filha. O pai ficou de certo um pouco preocupado: bolou gráficos, tabelas e métodos para melhorar a alma bagunçada da sua pobre filha. Explicou-lhe sobre meninas que andam vazias e precisam de outros artefatos para se preencher, sobre como conseguir sair de onde está, sobre propagandas de conhaques italianos e sobre outras coisas que só a filha e o pai podem entender. A filha enxugou suas lágrimas e se conformou por hora. Abraçou o pai e foi tratar dos seus desesperos. O pai ficou parado por uns instantes e sorriu. O desespero da filha, suas lágrimas tristes e inquietude eram mesmo ruins, mas ele não podia deixar de alegrar-se em ver que sua filha ainda precisa dele, e muito.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Não conto




Eu tenho segredos que escondo até de mim mesma. Esses segredos eu levarei ao meu túmulo. Serão todos comidos pelos vermes que se infiltrarem no meu corpo esverdeado.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Frustrated Fears

I am scared of the possibility of being alone. Scared of the possibility of getting lost. Of the possibility of not doing what I really desire to do, and not doing what I think I was made to be doing (Because right now I do what I do, no pleasure gained). I am scared of not finding my better-half. I am scared that he's lost out there and he won't find the way to my arms. I am scared of so many people in the world: will I be forgotten? Will I ever be noticed? I have so many fears and they are so heavy, that I am scared I might not be able to walk with this weight. I am so scared of all the possibilities I have from the moment I wake up, but I am mostly scared of not seeing them, and letting them go before my eyes. Like I always do.

domingo, 26 de outubro de 2008

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

In-definitivo

Quando você foi embora eu descobri que nada é definitivo. Quando eu fui embora eu estava com medo de ficar definitiva. Hoje eu só quero que dure até amanhã.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Partes

Bem naquele segundo em que eu olhei para fora da janela, eu deixei de te amar. Você nem sabe, mas eu não o amo mais. Foi muito rápido: eu nem tive tempo de pensar. Agora eu só amo algumas partes de você. Eu amo o canto embaixo da sua orelha, parece que lá sempre tem um pouco do seu perfume. Eu amo o instante antes da sua boca sorrir, quando os lábios estão se transformando em sorriso. Eu amo o seu abraço, só porque eu tenho medo de procurar outros braços. E eu amo os seus olhos, mas só quando eles não estão olhando para mim.


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Às vezes funciona (a meu favor)


Eu só gosto de fazer as coisas todas se for assim: Num ímpeto tão forte que não dá tempo de escutar o que o arrependimento tem a dizer.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Entre aspas

Ontem me perguntaram (o meu psicólogo perguntou) qual era o meu sonho, se eu tinha algum.
Na hora eu não soube bem responder,
e isso só o ajudou a pensar que eu realmente não sei quem eu sou.
Me desculpe, eu não sei mesmo. Não faço idéia.
-Na verdade eu nem me importo muito com isso agora.
Seja como for, é assim que eu sou (por enquanto).
Acontece que hoje eu me lembrei que eu sempre tive um sonho, só nunca soube colocá-lo em palavras.
Eis que acabo de conseguir juntar as palavras exatas:

O meu sonho é um dia ler algumas palavras minhas, quaisquer que sejam, entre um par de aspas.

É esse o meu sonho.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Pensamento

Resolvi andar um pouco hoje. Às vezes eu resolvo ir andar.
Encontrei aquele velho senhor que eu encontrava quando caminhava com maior frequência.
Eu simplesmente acenei e iria continuar minha caminhada, mas ele falou:
-Como vai?
-Bem, e o senhor?
-Estou bem, faz tempo que você não caminha por aqui, antes eu te encontrava sempre...
Conversamos mais um pouco e eu estava prestes a virar, como pedia o meu trajeto, mas eu precisei seguir em frente para não deixá-lo falando sozinho.
Então, eu me dei conta de que minha insignificância é significante para um senhor que caminha todos os dias. Eu me dei conta que eu fiz alguma falta na vida de uma pessoa que não fez falta na minha. Eu, de fato, ocupo um espaço qualquer em um universo.
Aquele senhor naquele momento ocupou um espaço no meu universo, porque ele sem se dar conta, mudou o meu trajeto.
Sabe, às vezes as pessoas nos fazem mudar nosso trajeto.

domingo, 5 de outubro de 2008

sábado, 4 de outubro de 2008

Depois do fim

Eu te quero quando tudo acabou.
Te quero quando não quero mais nada.
Eu desejo o seu beijo, quando todas as bocas secaram.
Eu te vejo quando meus olhos cansaram de ver.
Te chamo quando minha voz rouca não atinge mais outros ouvidos.
Você está onde só restou o fim da festa,
-E não há mais ninguém no salão.
Porque depois de todo fim, é você que permanece.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Anti-espelho

Eu queria conseguir ver a mim mesma.
O espelho é mais uma janela sem fim.
No reflexo: rugas que ainda virão.
Algumas lágrimas e muita máscara.
Eu não sei onde fica o meu rosto,

é no pé ou é no coração?

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Eu nunca fico

Acreditei em algumas besteiras que me disseram uma vez. Então, quando eu terminei de escutá-las, eu saí por aí, toda acreditosa. Mas aos poucos eu fui ficando pequenina. Porque as árvores pareciam rir de mim. O vento parecia rir de mim. As estantes e os relógios: tudo ria de mim. Eu quis chorar e me esconder -era tudo mentira e eu tinha acreditado. E foi então que eu decidi virar uma mentirosa. Eu falo que fico, mas me vou. Eu nunca fico.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Alguns dias

Desde a última vez que eu o vi, você cresceu alguns dias. Será que você mudou muito e já nem me reconhece mais?

A tristeza de hoje

As coisas todas não saem de dentro de mim nem se eu vomitar um pouquinho.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Beija-flor

Por que foges, beija-flor?
Não vês que te espero?
Não sabes onde estou?
Eu vi o sol nascer
-E morrer tantas vezes.
A ti eu vi tão pouco,
Não fujas de mim.
Ei, beija-flor,
Me dê um de teus beijos:
Não vês que sou flor?

domingo, 21 de setembro de 2008

Desperdício

Faz um tempo que eu já não consigo mais contar as horas. Eu olho para o meu relógio, vejo esses números todos dançando em círculo, e eu só consigo entender que mais um dia está chegando ao fim. Ele parece que rouba o sol, a claridade do mundo. Prefiro que as horas passem desbercebidas. Assim, dói menos o desperdício de mais um dia sem tudo que me falta.

domingo, 7 de setembro de 2008

Medo

Eu não tenho medo da morte porque eu quero que ela se dane. Não tenho medo da morte porque ela vai me matar de qualquer jeito, nem adianta tentar qualquer coisa. O meu pai mesmo sempre fala com aquele jeito de sabe-tudo: "A única certeza que se pode ter é a morte." Como eu poderia ter medo da minha única certeza? Mas sabe, hoje eu acordei com um pouco de medo dela. Não que eu ache que eu vá morrer daqui a pouco, mas eu fiquei com medo de ela chegar atrasada. Eu não suporto esperar. Imagine se eu fico sozinha esperando, e ela não vem? Porque da solidão sim, dessa eu morro de medo.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Única condição

Hoje eu estou triste. Estou triste e nada faz mudar o meu estado. Estou triste e não quero que ninguém me entenda. Não quero abraços, não quero palavras, não quero consolo. Não quero mais ficar triste, mas hoje é assim que eu estou.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

(des)inspiração

Quando eu sinto vontade de escrever, eu estou quase explodindo de vontade. E não há cadernos, livros, papéis ou blogs que me segurem. Eu vou escrevendo desesperadamente em qualquer canto do mundo. Do meu mundo. Escrevo até na parede se me for preciso. Minha mãe grita lá da escada: "Menina que loucura é essa? Se isso não sair da parede vou fazer você apagar com a boca!" Mas quando essa vontade não vem, não há beijos, saudades, dores ou alegrias no mundo que me façam escrever. E parece até que a terra gira um pouco mais rápido, para ver se me inspira.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

"O Homem faz planos e Deus dá risada"

Minha primeira despedida

Eu ficava lá, sem precisar me preocupar com respiração, comida, palavras. Às vezes eu ouvia sua voz bem distante cantando uma música suave para mim. Eu dormia bem. Sonhava com coisas que eu não conhecia. Sonhava uns sonhos sem cor ou formas. Era tudo tão tranquilo, em paz. Um oceano sem começo nem fim. A única coisa que importava é que eu cabia ali, o espaço era suficiente para eu e você. Mas eu comecei a não caber mais... Eu comecei a precisar ir embora dali, forçadamente. Eu não queria partir. Eu não queria ouvir maldades, sentir tristeza, solidão, desconforto. Mas eu tive que partir. Foi então que eu senti o meu primeiro trauma: quando eu tive que sair do útero da minha mãe.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Era tudo tão frágil

Eu tenho tanto medo da fragilidade. Ela consegue transformar um objeto inteirinho em milhares e milhares de pedaços em um segundo. Conheço uma menina que em algumas horas se transformou em milhares e milhares de pedacinhos, por causa da fragilidade das coisas. Era ela e ele. Agora são milhares dela.

domingo, 17 de agosto de 2008

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O passo que falta

Ele espera que ela se mova,
Ela espera que ele fale.
Ele não diz, ela não sai do lugar.
Eles se amam assim: mudos e parados.
Mas nenhum dos dois sabe...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Linguiças, tremas e unhas roídas



Hoje eu não vou postar nada, mas só porque hoje nada me inspirou. Não acho legal esse negócio de ficar enchendo lingüiça só para atualizar o blog.

E por falar em lingüiça, a trema, que antes tinha nesta palavra, não terá mais em 2009. A trema será extinta. Essa geração da internet ajudou a mudar bastante a acentuação da língua portuguesa, e eu particularmente achei isso muito bom. Já é tudo muito complicado na nossa língua e a trema não serve para nada.

Acho que podemos até marcar uma festa de despedida para ela, a trema. Afinal, é uma viagem só de ida ao céu das coisas extintas. Será que existe um céu de coisas exintas? Acho importante saber disso porque aqueles adesivos brilhantes que eu colecionava quando era pequena agora devem estar nesse céu. Junto com algumas barbies e algumas manias minhas, como roer unhas, que eu consegui parar no ano passado.

até o barulho da porta

No café da manhã te conto um sonho você finge não entender  te beijo e abraço suas costas você beija de volta e vai embora fico com as suas ...