terça-feira, 14 de abril de 2009

Olhar de quem olha

Adoro olhar para as pessoas. Mas olhar mesmo. Quando passa uma menina linda com um vestido todo florido eu paro a frase no meio e fico admirando-a assim, sem pudor nenhum. Algumas pessoas se incomodam, mas pouco me importa. Eu gosto mesmo é de olhar. Reparo também em crianças que começam a dançar no meio da rua, que conversam com o sorvete, que correm atrás de coisas coloridas que vêem no chão. [Eu também às vezes corro atrás de coisas coloridas que vejo. Às vezes descubro coisas lindas, às vezes me iludo.] Nunca deixo de olhar as pessoas. As pessoas e os seus olhares, os seus trejeitos, os seus jeitos de se vestir ou de caminhar. Essas coisas todas revelam muito. Às vezes muito mais do que as palavras que saem de suas bocas desesperadas. Uma vez eu disse a uma pessoa que falava demais: "Se você fosse mudo, você seria a pessoa mais doce que eu conheço." Eu gosto de olhar cada traço do rosto de alguém. Cada ruga, poro, cada detalhe. Gosto de tentar decorar os traços, embora seja uma tarefa quase impossível, levando em conta que não se pode acompanhar o que o tempo faz com nossos traços, mesmo quando se fica anos e anos casado. O tempo muda os nossos traços. O tempo puxa um pouco aqui, faz algumas manchas ali, muda tudo de maneira incontrolável. E é por isso que eu gosto tanto de olhar, eu sinto que se eu deixar escapar um pouquinho, talvez eu já não reconheça mais quem eu tanto conheço.
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