segunda-feira, 5 de outubro de 2009

5 de outubro de 2009


Eu fico achando que eu sou enorme. Que sou toda forte, que eu posso tudo, que tudo vai ser maravilhoso para onde quer que eu vá, que tudo está bem assim. Eu fico achando que aguento tudo, que tudo sempre dá certo. Dou discursos, conselhos, dicas e lições de moral para quem quiser ouvir. Tenho palavras para dar e vender. Mas aí, acontece uma coisinha como aconteceu comigo hoje, uma coisinha dessas que faz a gente ficar meio nervosa, e então tudo cai por água abaixo. Eu já não sei mais onde estou, quem eu sou e para onde estou indo. Eu fico fraquinha, como aquela abelha que acabou de morrer na minha janela. Eu não sei mais onde estão meus propósitos, quais são os meus propósitos. Para quê eu sirvo, para quem eu sirvo, eu sirvo para alguma coisa? Já não sei mais nada. Mais o pior disso tudo é pensar que eu estou sozinha nisso tudo.

Desculpa, pai. Desculpa, desculpa, desculpa.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Eu acho que é isso


Às vezes a gente tem que despistar todo mundo para que ninguém veja a alegria absurda que estamos sentindo. Para que ela não escape no meio de tantos olhares curiosos, para que ninguém nos a tome (mesmo que sem querer). Assim também acontece com a tristeza profunda. Temos que despistar todo mundo, para que ela não se espalhe e acabe penetrando outras vidas e deixando tudo azul. Para que ela não saia de nós e passe para quem precisamos ver sorrindo. As máscaras diárias protegem a nós mesmos e salvam vidas. É preciso saber usá-las, no entanto, para que a vida não seja vivida por trás da máscara, na solidão. É preciso saber deixar o pouquinho exato de tristeza e o pouquinho exato de alegria transbordarem para todos os lados e penetrarem em alguns cantos.

Vingança

Tem dias em que eu quase me desculpo ao resto do mundo por ter nascido, e me escondo dentro da cama, por vingança à minha enorme vontade de sair vivendo.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Acabei nem dizendo

Se eu não soube me despedir
A vida fará isso por mim
Um dia, por fim
Enquanto eu estiver distraída
Ou enquanto eu dormir

Que seja enquanto eu durmo, para que eu não veja o último instante
Que seja incompleto, para que eu fique com o restante

Eu nunca vi isso antes

Nunca vi essas cores, esses sinos, essas flores
Tudo que há no seu peito
Tudo que causa esse efeito

Mas se eu implorar mais um adeus,
Se jurar partir para nunca mais
Me segure
Me peça para ficar
Me impeça de falar
Não deixe que eu parta
-ao meio
jamais

domingo, 27 de setembro de 2009

Eu não gosto de domingo

Porque nesse dia eu me sinto mais só do que todo silêncio que a Terra faria se não existisse mais nada.

sábado, 26 de setembro de 2009

Feliz aniversário

Quando olhei para você depois de ser jogado na piscina, eu finalmente vi que mais um ano se passou, e você ainda não foi embora de lugar nenhum.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Rascunho no guardanapo

Uma vez você disse que eu deveria aceitar apenas o extraordinário
Pra mim você sempre foi o que eu deveria esperar
Você disse para eu ficar
Mas você sempre foi embora
Os seus olhos mentem, e eu já sabia
Mesmo assim eu gostava de olhar
Você já ia comprar aquela guitarra
E eu achei que era para mim
Você já tinha planos formados
E eu achei que era tudo por impulso
Você nunca teve coragem
Nunca teve certeza
Nunca soube o que fazer
E pra mim não importava
Mas no fundo eu ficava esperando
Eu poderia até fazer uma música
Para o beijo que você me deu
E depois você poderia cantar
Acho que todos os dias eu fazia músicas
E guardava para um dia você cantar
Eu era uma flor caída no chão
Você me pegou
Mas eu não coube no seu buquê
E você me deixou cair sem querer

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Minha foto preferida

Resolvi começar a tirar fotos de todas as coisas lindas que eu vejo durante o dia com o meu celular. Tudo que eu acho lindo eu tiro uma foto. Hoje eu descobri como faz para passar essas fotos para o computador, fiquei muito feliz. Consegui ver as tantas fotos de troncos de árvores que tirei (porque alguns troncos são realmente lindos), fotos do pôr-do-sol na Marginal Pinheiros, a própria Marginal à noite com suas tantas luzes, uma loja de brinquedos, uma ou outra pessoa querida, e essa foto, que de longe é a minha preferida:




E já que o meu amigo William disse que adora fotos com histórias, vou contar a história dessa. Estou fazendo um videodocumentário sobre professores de escolas públicas. Hoje fomos entrevistar uma professora cujo apelido é "pink" porque ela adora cor-de-rosa. Eis como estava a lousa da sala de aula onde ela leciona. Achei essas perguntas extremamente difíceis de responder. É possível que eu tirasse zero.

Não se assuste

Me disseram que todas as coisas que não são relacionadas a saúde têm cura. É por isso que eu estou com essa cara esquisita, estou procurando um remédio para mim nessas prateleiras todas.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

As cores das coisas


As cores são exatamente o que elas não são. Lembra da aula de física? O Azul, por exemplo, é de todas as cores menos azul. Newton explicou que as coisas absorvem cores, e refletem as cores não absorvidas. Então se uma folha é verde, é porque ela absorve todas as cores menos o verde, e reflete somente o verde. A folha é de todas as cores menos verde. E é assim com todas as coisas. Às vezes a gente se pega numa situação que Newton não saberia explicar tão bem... A gente pode jurar que o sinal está verde, mas lá no fundo, bem lá no fundo, a gente bem sabe que essa é a cor que nós estamos refletindo, porque o sinal está de todas as cores, menos verde.
-
"Não vemos as coisas como são: vemos as coisas como somos" (Anais Nin)

domingo, 13 de setembro de 2009

Estar aqui

Alberto Caeiro, um dos heterônimos do Fernando Pessoa, dizia que não sabemos o que há além da curva da estrada, e que não importa o que há por lá. E mesmo se houver buracos, e mesmo se tivermos que cair nesses buracos, e mesmo se não houver nenhum jardim e mesmo se houver alguém, e, pior, se não houver ninguém:

"Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer"

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Não deixe que escape

As coisas todas aparecem.
Misteriosamente aparecem com o nada.
No chão, com o vento, para o céu.
(Aparecem e podem sumir).
Segurem-nas com as duas mãos.
Não as deixem voar com os pássaros,
Não as deixem escorrer para o ralo,
Com a água do banho.
Não as deixem soltas como pétalas caindo da flor,
Porque não são flor.
O vento é fragil, fraco, não se vê,
Mas às vezes leva tudo o que se tem,
(Violentamente, como se as coisas não precisassem de despedidas),
Como se tudo bastasse no momento em que se acaba,
Como se nunca ficasse um talvez, um suspiro, uma lágrima.
As coisas todas aparecem. Sempre.
Tudo que se quis, tudo que se quer, tudo que não se tem: aparece.
Não deixe que nada escape.
Porque as coisas se vão, misteriosamente.

is it really?

Feel this. It's my heart, and my doctor said it is beating.

Coleção


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Para onde foram?

Para onde foram as palavras que um dia sussurrei em um ouvido? Elas foram para algum lugar? Ficaram naquele ouvido? Foram para algum órgão, o coração? Queria seguir o percurso de cada palavra, letra por letra, para garantir que elas chegassem em algum lugar. Eu não gosto de desperdiçar palavras, sinto que já desperdicei demais.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Fotografia


E a sua fotografia continua ali, imóvel e calada como ela sempre foi. Talvez um pouco mais imóvel e um pouco mais calada. E agora ela me dói. Seu rosto de lado, como se fizesse uma pose sem querer. Porque a impressão que tenho de você é que faz tudo sem querer. Sem querer me olhou, sem querer me quis, sem querer me prendeu em armadilha. E a sua fotografia agora me dói, porque eu estou presa à sua armadilha. E você, (será sem querer?) levou embora um pouquinho de mim.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Apenas o necessário


Eu tenho um amigo incrível. Ele faz festa na casa dele toda sexta-feira, não pára quieto, faz amizade com qualquer pessoa que passa na vida dele e o mais legal de tudo, ele adora ler. É dessas pessoas que é muito, muito difícil mesmo de não gostar. Ele tem umas frases bem divertidas que são marca registrada dele, e a que eu mais gosto é sempre pronunciada nas festas de sexta-feira: "Pessoal, quebrem apenas o necessário". Essa frase anda ecoando na minha cabeça. Tenho vontade de dizer para todas as pessoas que fazem festa no meu coração: "Ei, quebre apenas o necessário..."

domingo, 30 de agosto de 2009

Iniciais

Gosto de iniciais. H.O., R.E., S.K., M.C., gosto de como elas são misteriosas. Eu fico imaginando os nomes que as iniciais guardam. Gosto de como elas guardam pessoas misteriosas de óculos pretos, ou pessoas inseguras de vestido azul. Algumas iniciais protegem bem os nomes e outras nem tanto. Gosto de como iniciais pertencem a reis, rainhas, marcas de camisetas e à pessoas que cometem erros.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

à-braços

De todas as coisas que eu prefiro, eu prefiro um abraço. Deixo que me abracem por horas e horas seguidas. Não vejo outra utilidade para meus braços senão abraçar. Porque eu, criatura perdida nesta vida que Deus me deu, sou feita inteirinha de abraços que recebi.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Avisos vãos

Disseram que ia chover e eu deveria ter escutado, porque eu não trouxe o meu guarda-chuva e a garoa já começou. Eu nunca ouço essas coisas, e a vida sempre trata de me deixar encharcada.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

How to explain?

If any man in this world asked me right now:
-Will you marry me?
I'd tell him that I'm too young. That I still have a lot of things to live. That I want to study some more, that I want to work at a place where I'd have very few money but many pleasure, that I want to see so many things. I'd tell him that I can't right now. I have pictures to take. I want to play a little bit more with the child inside of me. I have too many parties to go to, too many interesting people to meet, too many flowers to receive. "I can't marry you yet", I'd say.
But if you asked me:
-Will you marr...
-Yes!

And we could do all of that together.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Me basta


Para mim, me basta que tu me olhes.
Não preciso de muito: de presentes ou promessas.
Não preciso tocar o teu corpo, não preciso beijar os teus lábios.
Me bastam os teus olhos cheios de vontade do que não pode ser.
Me basta a tua vontade.
Que quando falas, tuas palavras são doces, mesmo que fales de abandono e solidão.
Que quando me beijas, são os teus beijos que desejo.
Mas para mim, me basta o teu olhar.
É do teu olhar que eu tiro toda poesia.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

One silly little thing


- I will give you the world. I will give you anything you'll ask. Anything you want.

- Do you promise me?

- Yes, I promise you. But hey, there is only one thing, one silly little thing that I can't give you.

- What? What is it?

- My heart.

- It's the only thing that I want.

- Should we say goodbye?

- I wish we didn't have to.


quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Se molhava você

Sem saber onde te encontrar
Fui caminhando devagar
De esquina em esquina eu virava pra ver,
Se quem vinha era você
Você, como sempre, não veio
Tudo ficou assim, tão feio
Eu triste, vazia
A minha tristeza invadiu o dia
Invadiu o céu, as nuvens
E o mundo, de repente, começou a chover
Só pra ver se molhava você...

,

E que perder tudo não é só perder o que se tem...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Bailarina que atravessa a rua

Eu gosto de deixar uma luzinha bem fraca enquanto eu escrevo. Quase no escuro eu fico. Porque eu gosto de pouca coisa me denunciando. Não gosto de holofotes enquanto eu escrevo, não gosto que se torne uma coisa pública. Eu gosto de fingir que escrevo por acaso. Assim como quando uma bailarina atravessa a rua, meio que sem perceber, ela atravessa dançando.

domingo, 9 de agosto de 2009

Ampulheta de nós dois


Tudo que você diz guarda uma despedida triste. Mas só eu posso ouvir o adeus de cada palavra sua. Você tem um jeito manso de dizer que o mundo está desmoronando. E eu, secretamente, às vezes desejo que ele desmorone logo. Que tudo recomece com outro começo. E você sabe o que eu queria que mudasse, mas você, secretamente, não sabe se também queria recomeçar. A gente sorri para toda essa areia caindo na ampulheta, porque somos tão tolos... Mal sabemos que o mundo está prestes a rachar ao meio, e que cada um de nós vai ficar de um lado.

Na verdade

Na verdade,
Eu só gosto de ser quem eu sou
Porque tem você,
Para gostar do que eu sou...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Negativas que trago


Eu não pertenço a mundo nenhum, a hora nenhuma, a nada. Não pertenço a nenhum cheiro e a nenhuma mão. Eu não me encaixo em um quadrado e nem em um círculo. Eu não me encaixo. Eu não entendo as coisas, eu não sei das coisas, eu não encontro nada. Eu não sei o que é o amor do meu peito entupindo as minhas veias e bloqueando as minhas passagens, não sei. Nunca encontrei um cãozinho abandonado na rua e cuidei dele até ele crescer. Eu nunca cuidei de uma planta só minha. Eu nunca consegui traduzir meus pensamentos. Não entendo quase nada que me dizem. Não entendo palavras, desenhos, símbolos. Não entendo. Não faz sentido, não faço sentido. Tenho medo lá de fora, tenho medo do mundo. Tem dias em que eu sinto que eu não sou daqui. Tem dias que eu realmente não sou daqui. Sabe, eu acho que não sou daqui.


Upside down love

Quando tudo começa pelo fim, onde é que fica o começo?

sexta-feira, 31 de julho de 2009

I just had to let you know

Quando eu olho para você, eu não tenho vontade de beijá-lo loucamente. Eu tenho vontade de saber tudo que você pensa, tudo que você fez e vai fazer na sua vida. Eu tenho vontade de entender as frases que você não fala. Eu tenho vontade de conversar sobre tudo que eu quero saber e tudo que você sabe. Tenho vontade de sugar todos os seus pensamentos para dentro dos meus. Eu fico com vontade de roubar a sua calma, de roubar os seus medos e de te dar os meus. Eu fico achando que você me protege, mesmo que você nem se aproxime de mim. Sei lá o que me acontece, o seu olhar me acalma, mesmo que minhas mãos tremam um pouco. Eu não sei o que acontece, mas eu não consigo evitar. Quando eu olho para você, eu tenho vontade de descobrir um planeta novo.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Algum lugar


Tenho vontade mesmo é de jogar tudo pro alto e ir caminhar.
Não quero fugir de tudo como fez a minha irmã, e nem ficar parada sem saber.
Quero apenas caminhar.
Encontrar pessoas no caminho.
Sentar um pouco debaixo da sombra de uma árvore.
Acenar para as pessoas que vão ficando, e acenar conforme eu vou chegando.
Eu queria mesmo era caminhar,
até chegar em algum lugar.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

domingo, 26 de julho de 2009

Anúncios

"Os verdadeiros poetas não lêem os outros poetas. Os verdadeiros poetas lêem os pequenos anúncios dos jornais".

Mário Quintana

Um garotinho que sorri assim


Tem um clipe no youtube que chama "Candy", o cantor é o Paolo Nutini. O clipe é uma graça, está entre os meus preferidos. É um casamento em um vilarejo. Você vê, pelo olhar do noivo, pelo sorriso dele, a alegria que ele estava sentindo na hora. Os convidados, os arranjos pelos cantos... É um casamento ao ar livre. São pessoas simples, mas como sorriem! É claro que eu imediatamente quis viver um casamento assim. Eu espero o quanto for, quero um casamento assim. A foto que eu selecionei não tem a ver com toda a história do clipe, com o que citei, mas é uma cena mágica. A carinha desse garoto aparece aos 1:31, e some em uma fração de segundo. Eu quis ter, além do casamento simples no vilarejo, um garotinho que sorri assim também.

sábado, 25 de julho de 2009

Chegar, partir.

Não sei quem decide a hora de partir, se é o vento, se são os pêlos do braço que cansaram de se arrepiar, se é o sol esperando a Terra dar a volta em torno ou se é uma mão que chamam de Deus. Eu não chamo de nada, eu vou embora porque é a minha hora, e eu deixo que partam, porque não cabe a mim decidir. Eu não sei de nada, mas eu não tenho medo de partidas. Me assustam as chegadas: nada determina a hora de chegar. As pessoas tiveram de partir de alguém e de algum lugar para chegarem até aqui. Me diz: de onde foi que você partiu?

Protetor

As pessoas usam óculos escuros e dizem que é para se proteger do sol.

Mentira.

Elas querem se proteger das outras pessoas.


quinta-feira, 23 de julho de 2009

se o seu olhar fosse

Posso me esconder do seu olhar?
Posso fechar os meus olhos?
Os seus olhos mentem -e eu tenho medo de mentira.
Os seus olhos que me seduzem, já são de alguém -e eu bem sei.
Pobres olhos meus:
serão enganados, serão magoados, serão abandonados?
Se o seu olhar fosse tão só quanto o meu, poderíamos olhar juntos -para qualquer lugar.
Mas os seus olhos mentem.
E os meus olhos são fragéis demais para as tantas lágrimas que viriam.

A memória é um velho álbum de fotografias

Todo mundo é um fotógrafo.

A percepção da beleza se dá com uma foto tirada pelos olhos.


terça-feira, 21 de julho de 2009

domingo, 19 de julho de 2009

Efêmero

1: Vem do grego epheméros, que signifca: que dura um só dia;
2: De pouca duração; Curto; Passageiro; Transitório; Breve.

Antônimos
permanente
eterno


E no meu dicionário viria assim:

O pulo da bailarina. O sopro que apaga a vela. A vontade que precede o realizar. O "não" que quer dizer "sim." A vida da mosca. A vida do beija-flor. O bater de asas. O sono antes de dormir. A minha vontade de ir embora e nunca mais voltar. O caminho da gota de chuva, entre a nuvem e a superfície que ela toca. O nunca mais. O que se sente, e que de repente, não se sente mais. O último olhar descendo a escada rolante do aeroporto. O passarinho que nunca deixa que se aproximem. A água escorrendo para o bueiro. A sujeira indo com a água. O instante de uma fotografia. Uma barra de chocolate na mão de um garotinho no recreio. A hora do recreio para um garotinho que come uma barra de chocolate. Um amor que tive antes de saber que não era amor. O beijo de quem não queria dar um beijo. Um abraço forçado. A música preferida que começa a tocar em um lugar inesperado. Uma espera de três horas para alguém que esperou uma linda mulher que surge descendo a escada. Um amor de verão. Um inverno sem graça. Uma vida sem graça.


[Uma pequena ressalva: algumas das coisas citadas são simultaneamente eternas.]

O crime de partir


Meu cachorro é muito esperto, muito. Em absolutamente todas as vezes que alguém se despede, mesmo que efemeramente, ele pára todos os seus movimentos, fica estático. Começa a encarar a pessoa que parte de tal forma que a gente se sente culpado. "Calma, eu já volto! Só vou até ali." Não adianta. Ele fica extremamente triste. A gente fica achando que está cometendo algum tipo de crime, porque para ele talvez ir embora seja um crime.
Muito esperto, muito.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Cazuza cantava:

"Que coincidência é o amor, a nossa música nunca mais tocou"

E eu escrevo:

Que coincidência é a vida, eu nunca mais vi você

A morte para mim

A morte, para mim, é uma espécie de sono prolongado onde, durante os sonhos da morte, não se revive o dia, mas a vida toda.

domingo, 12 de julho de 2009

Minhas continuações

Eu gosto de ler textos que não tem um fim. Textos que contam um pedaço de uma história ou relatam uma experiência, mas que não acabam. Uma frase encerra aquele relato com um ponto final, mas a história fica assim meio suspensa. Então eu começo a criar o que viria depois. Eu começo a colocar a minha vida naquele texto e as coisas ficam com a minha cara. Eu li sobre uma noiva que conhecia o pai do noivo. O encontro é puro, é bonito. Aquele texto termina com uma frase "e caminhamos calmamente para o carro" mas não acaba a história. E eu, na minha cabeça, criei um abraço, um casamento bonito e, como minha imaginação sempre manda no final, ninguém nunca mais sente frio. Não sei porquê, mas nas minhas histórias as pessoas não acabam felizes para sempre, elas apenas nunca mais sentem frio. E ficam com as mãos entrelaçadas, para o resto do que for. Felizes, é claro, mas não para sempre, por que a tristeza é linda. Tem que ter um pouco de tristeza entre um para sempre e o outro. Pelo menos nos meus finais.
Estou me sentindo um enorme e grosso livro de clichês.

Qual a escala do seu mapa?

Eu não me importo com os caminhos que você tenha percorrido até chegar no ponto onde a gente se encontrou sem querer. Você pode ter sido famoso, pode ter tido milhares de namoradas em todos os cantos do mundo, pode ter sido um cantor charmoso ou até um mendigo. [Mas o momento do nosso encontro marcou um ponto no mapa da sua vida.] Esse ponto é um começo. Esse ponto é o resto que vai vir a partir de então. As fotografias não vão sumir, as namoradas vão continuar no mapa também, mas a partir daqui eu vou estar nas fotos, eu vou sorrir com você, e o seu mapa vai se misturar com o meu. A gente vai traçar o resto juntos. Por isso, nada disso importa: eu já fui um alguém antes também.
Seremos juntos agora.
¨

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Eterna condição


E no final das contas o melhor é assumir a solidão. Não adianta fugir para um lugar lotado de pessoas, não adianta fazer trezentas ligações ou se esconder no edredon quentinho da cama. Talvez um livro, talvez. E talvez nem um livro. A solidão grita mais alto que a música, mesmo que as caixas de som estorem. A solidão é maior que a festa mais cheia da noite. A solidão segue o caminho mais longo. O importante mesmo é não ter vergonha ou medo dela. Porque no final das contas a gente descobre que a solidão faz parte da gente. Cada pessoa no mundo guarda um pouquinho de solidão dentro de si. Das mais alegres às mais solitárias. A solidão é a eterna condição humana.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Se dissolvem as perguntas

Não fico mais me perguntando para que servem as coisas. Por quê me sinto de tal forma com relação a algumas pessoas e a outras me sinto exatamente o contrário. Não me pergunto mais do que são feitas certas pessoas e por que tanta gente não vê o que eu vejo. Eu não pergunto mais. Talvez eu tenha enjoado de tanto buscar algo que não vai me tirar deste lugar. talvez eu não tenha mais aquelas curiosidades antigas. E talvez eu saiba, talvez eu simplesmente saiba, que a resposta é tão misteriosa quanto todas as minhas perguntas...

Aquela menina

A diferença dela com as outras tantas milhões de meninas do mundo era a sua calma. Ela tinha calma para viver, para respirar e, principalmente, calma para aceitar todas as outras pessoas.

sábado, 4 de julho de 2009

Acontece

Tenho milhares de coisas para escrever. Preciso tirá-las de mim, arrancá-las dos meus pensamentos, livrar-me de todas, e são muitas mesmo. Acontece que chega a inspiração, e leva tudo embora.

Tudo isso

-E isso tudo.... É paixão?

-Não. Curiosidade.

domingo, 28 de junho de 2009

Impressão

A impressão que eu tenho é que a noite apaga o sol, todos os dias.

E o sol acende de novo, todos os dias seguintes.

sábado, 27 de junho de 2009

Branco


Dizem que quando se ama, surpreende-se ao ser amado de volta. A reciprocidade não é exigência do amor. Dizem que aquele que ama, não espera ser amado de volta, porque ele apenas sente, não sabe dizer porquê ou como. Erra-se ao esperar que o outro ame de volta. Esse tipo de amor é egoísta, mesquinho. Se o outro ama de volta, sorte dos dois. Sorte do destino. Sorte, apenas. O amor não tem causa, não tem resposta, não tem consequência. É clichê falar sobre o amor, e eu nada sei. Mas sempre achei que o amor é a como a cor branca, uma mistura de todas as cores que existem. Todos os sentimentos misturados formam o amor.
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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Eu tinha escrito e guardei


O jeito dele de gostar das pessoas é diferente. Ele mesmo que me contou. Ele não se encanta em primeiros encontros. Ele nunca sentiu uma paixão dessas que leva tudo embora. Ele é um passarinho. E quando ele bate as asas, todo mundo espera para ver onde ele vai pousar. Mas ele não pousa nunca, ele voa. Eu criei um monte de ninhos em árvores que já nem sei mais. Claro que os meus ninhos ficaram lá, claro que foram bonitos um dia. O menino-pássaro tem muito o que aprender sobre os tantos tufões do amor. Eu posso ajudar nisso, sobre tufões eu sei. Mas eu aqui observando o seu vôo, acho que é ele quem precisa me ensinar a voar.

¨

terça-feira, 23 de junho de 2009

O hoje da minha irmã

Olha só que engraçado isso: minha irmã, lá na Austrália, falou que a noite daqui é dia de lá. Claro que eu já sabia, claro que isso é óbvio, claro. Mas eu nunca tinha parado para pensar direito. Eu nunca me importei com o fuso horário dos cangurus australianos, até terça passada. Ela falou ainda, brincando: "quem sabe eu espio a resposta dos seus problemas aqui no futuro e te ligo para contar!" Pensei, então, que eu nunca mais vou ficar sozinha enquanto ela estiver lá.

domingo, 21 de junho de 2009

Ele pesou a alma humana

Em 1907, um cientista completamente poético fez um experimento pesando pessoas antes e depois de morrerem. Ele criou a tese de que, como as pessoas perdiam 21 gramas após falecerem, este seria o peso da alma.

Eu não sou cientista e nem me atrevo a fazer experimentos. Apenas escrevo e crio as minhas pseudoteorias. A respeito da alma, eu acredito que não tenha peso. Ela flutua sob nossas carcaças e às vezes se perde com o vento. Às vezes ela viaja para longe e volta uns tempos depois. Nem sempre a nossa alma nos acompanha.

Minha alma, por exemplo, já nem sei. Outro dia pensei que a tinha aqui comigo, engano meu. Eu a perdi já faz um tempo, mas ainda espero que ela volte.



MacDougall é conhecido até hoje pelo seu experimento dos 21 gramas, chegando até a inspirar um filme americano. No dia 16 de outubro de 1920, o The New York Times anunciava sua morte com o título: "Ele pesou a alma humana".

sábado, 20 de junho de 2009

an outflow

I really enjoyed the movie. I enjoyed the company, the cold weather and your laugh. Everything could not be more perfect. I even felt as if I was in paris at a certain point, with the skyscrapers, the lights and everything. Nothing is wrong with you or your beautiful smile. I just hope that my lonelyness did not turn me into a cold, distant, empty person. Did it?

sexta-feira, 19 de junho de 2009

True-life fairytales

Minha mãe uma vez me disse que por trás de toda história há um conto de fadas. Muitas foram as noites violentas, os silêncios ensurdecedores, as lágrimas sem sal, até me esqueço da frase da minha mãe. Como aquela vez que ralei meu joelho no chão e perdi a vontade de correr. Ou quando perdi o meu primeiro amor, o segundo e o terceiro também. Ou como acontece todos os dias quando abro o jornal e não acho nenhum conto de fadas em histórias de gente que morreu, ou que ainda vive, mas vai morrendo todos os dias de tristeza ou fome. Os fins que a gente dá mas que nunca se darão. As portas trancadas com suas chaves perdidas por aí. As tristezas que você vem me dizer enquanto chora. As pessoas que batem no meu vidro pedindo um pouco do que eu tenho. As coisas me confundem e não encontro contos de fadas. É incrível, mesmo depois de tanto tempo eu só consigo encontrar conto de fadas no colo da minha mãe.
¨

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Rótulos

Adoro tentar descobrir as frases que as pessoas teriam nos seus rótulos, se as pessoas viessem com rótulos. Claro que eu já tentei criar um para mim, mas eu sempre mudo. Hoje eu entrei em um blog e encontrei uma menina que dizia que é "uma pessoa feita de pequenas saudades". Ei, menina desconhecida, posso usar o seu rótulo para mim também?

terça-feira, 16 de junho de 2009

Ele ficou esperando

Há pouco, uma menina quase partiu para abraçar um sonho que a esperava do outro lado da calçada. Acontece que um ônibus desses de dois andares parou bem no meio da rua e a menina não pôde atravessar. O farol custou para ficar verde novamente e a menina ficou bastante irritada. Ah, mas como foi bonito ver o ônibus saindo da frente e a menina correndo para abraçar o sonho que ficou ali esperando, você precisava ver que cena mais linda.
¨

domingo, 14 de junho de 2009

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Livro

Eu guardei o seu livro na estante dos meus livros preferidos. Prometi a você que eu o devolveria assim que terminasse de lê-lo, pois é, eu ainda não terminei. Eu li até a penúltima página e o fechei, guardei na estante. Sempre cumpro as minhas promessas e eu não faria diferente desta vez. Apenas não li o final do livro para não ter de devolvê-lo. Enquanto eu lhe dei minha vida inteira e o meu órgão vital, esse livro é a única coisa sua que eu tenho. E eu não pretendo nunca ler a última página, se você quer saber.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Perda de tempo

Não é que eu seja tola ou inocente. Eu apenas amo as pessoas muito antes de descobri-las. E na hora de descobri-las eu as descubro já com os olhos do amor, que são tantas vezes cegos. Todas as vezes, as boas e as ruins, houve o meu amor e ele nunca foi desperdiçado. Todas as pessoas que eu amei, de uma forma ou de outra precisaram do meu amor. E eu não me importo em saber se elas o mereciam, isso já seria perda de tempo.
¨

domingo, 7 de junho de 2009

Sem novidades

Só queria avisar,
que o mundo todo morreu,
que a água acabou,
que o céu se fechou,
que eu não moro mais aqui,
e nem ali,
e nem em lugar algum.
Tudo se foi,
sem deixar espaço para perguntas,
respostas, ou afirmações.
Aqui nada mais cabe nem vive.
De resto, estou sem novidades.


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sábado, 6 de junho de 2009

Peça

Tenho procurado em outros lábios o modo como os seus lábios calavam os meus. Tenho procurado apenas, e às vezes observado de longe outros lábios que se beijam. Há dias em que me contento com a busca, e dizem ser interminável. Eu busco o silêncio e a cor que tinham os fins de tarde, que agora nem pássaros mais tem. Gosto de imaginar a minha janela cheia de árvores que balançam alegres e fazem flores a cada dia. Tem dias que nem nuvens cinzas eu vejo na janela, apenas mais um dia indo para onde vão os fins. Quando me chamam de triste, eu lembro que você não gostava da minha alegria exagerada e fico aliviada que você sabia tão pouco de mim. Em cada lugar que eu vou, espero para ver se você não chega. É triste mesmo ver a vida assim passando tão à toa, me sinto uma peça que não se encaixa em quebra-cabeça nenhum.



quinta-feira, 4 de junho de 2009

Cemitério

Sabe, eu resolvi escrever para você, porque hoje eu passei na frente de um cemitério, e ele me fez pensar que nunca é a hora certa de partir.

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domingo, 31 de maio de 2009

Olhos que não fecham

Quero dormir, mas me faltam olhos para fechar. Os olhos que tenho não fecham mais e eu não durmo. Terei de conversar com corujas e vagalumes, e quem sabe aprender a viver à noite. Meus olhos não fecham, mas não posso dizer que eu vejo tudo. Se um dia eu fechar os olhos novamente, será que volto a enxergar?



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terça-feira, 26 de maio de 2009

Deus,

Aqui embaixo todo mundo procura pelo Senhor o tempo todo. O chamam de milhares de nomes, o vêem em milhares de imagens. Dizem que o senhor olha feio quando as pessoas fazem coisas esquisitas e que o senhor escolhe quem vai ficar aí em cima com o senhor: não é todo mundo. É verdade mesmo? Não acredito em tudo que dizem, mas uma coisa ou outra eu até suspeito. Sabe Deus, todo mundo aqui embaixo precisa do senhor, embora muita gente não assuma. O senhor vai mesmo descer daí um dia e abraçar toda essa gente? É muita gente, meu Deus! Eu até que tenho sido boazinha, cometo apenas um ou dois pecados por dia. Será que o senhor vai me escolher pra ficar aí em cima também? Não que eu tenha medo lá de baixo, claro que não, mas ouvi dizer que por aí tem marshmellow para todo mundo e uns garotinhos de cabelos encaracolados tocando harpa. Mas harpa, meu Deus? Por que harpa? Acho que prefiro violão. Deus, será que vossa santidade poderia descer um pouquinho antes e me dar só um abracinho? Eu prometo que não contarei para ninguém, e quando eu o reencontrar aí em cima, eu finjo que nunca o vi antes. O que o senhor acha? Talvez seja só o seu abraço que possa salvar a minha vida...
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O pior fica com você

Eu perdôo todo o mal que você me fez.
Mas e você, se perdoa?
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quinta-feira, 21 de maio de 2009

É, talvez a vida não seja mesmo um conto de fadas, mas eu vou garantir o meu final feliz.
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A minha garantia

Será preciso muita força do mal para derrubar todo o bem que eu construi, muita. Foi muita brincadeira de rua, muito amor de mãe, muita proteção de irmã mais velha, muitos livros do Pequeno Príncipe e do Pequeno Nicolau. Foram muitos anos de alegria para essa tristeza sua me penetrar. Pode me fazer chorar, pode me empurrar da escada, pode me desejar o mal, mas você não vai conseguir me transformar. Eu saio daqui, você vence. Mas sua vitória será temporária, porque para as pessoas do bem a vida é um conto de fadas, e contos de fadas sempre têm finais felizes.

As coisas que não são tão simples

Elas não são tão simples,
porque a gente não as olha com olhos de criança.
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terça-feira, 19 de maio de 2009

domingo, 17 de maio de 2009

E agora, José?

Agora limpe o que restou da festa. Talvez alguns copos jogados no chão, talvez uma ressaca das fortes, talvez muitas dívidas, muitas dúvidas, pouco sossego. Talvez não reste ninguém para ajudar a limpar, talvez reste um sorriso amarelo. Talvez, talvez, talvez, José. Mas veja José, veja quantos retratos bonitos você tem para guardar na lembrança. Não deixe de ver os retratos, José, porque é isso que restou afinal.
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quarta-feira, 13 de maio de 2009

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Sirenes dos meus ouvidos




Peço então que todas as sirenes dos meus ouvidos se aquietem, por favor. Quero ouvir apenas os grilos e as cigarras. Talvez eu não saiba mesmo a dimensão do que está por vir, e isso me dá um enorme prazer. Já fui chamada de sonsa. Talvez sonsa, talvez distraída, talvez indiferente ao que não posso mudar. Eu não alcanço o que está por vir, e isso explica a minha grande preferência por grilos à sirenes.

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domingo, 10 de maio de 2009

Na outra vida

Não é que a madrugada me faça companhia. Isso parece coisa de louco. É que eu gosto de silêncio às vezes, esse vazio. Todo mundo faz muito barulho. Mesmo as teclas do teclado que batem agora. É fácil fazer barulho. Difícil é calar-se e só observar. Difícil é reconhecer a solidão da noite, do escuro, e acolher-se nesse preto todo. Todo mundo dormindo e em silêncio. Sonhando com outras vidas. Eles tem razão, sabe, eu deveria dormir também. As outras vidas que eu teria se fechasse os olhos seriam muito mais coloridas e cheias de vida do que esta. Ainda mais agora, nesse escuro sem fim. Vou dormir, estou até ficando com medo. Quero viver minha outra vida. Nela as pessoas são muito mais reais do que nessa. As pessoas da outra vida me abraçam com mais vontade e quando não querem que eu fique, elas me deixam ficar. Quem vai embora são elas.
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É pedir demais querer ver-te hoje? E amanhã, e depois, e depois e o dia depois disso?
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sexta-feira, 8 de maio de 2009

Pausa para o poeta

Às vezes um poeta se cala. Às vezes tanta coisa acontece na vida dele, que ele não consegue mais enxergar as coisas com seus olhos de poesia, e não consegue mais escrever. Ele fica surdo para o barulho das nuvens se movendo no céu e fica cego para as cores que um abraço exala. Isso passa, claro que passa. Logo o poeta volta a entender o que os passarinhos dizem (porque só um poeta consegue entender), logo ele volta a colher poesia nas flores, logo ele volta a amar. Mas às vezes até o amor pede uma pausa para o poeta.
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quinta-feira, 7 de maio de 2009

Ensaio sobre o grito

Quando a gente grita, todo mundo pensa que estamos loucos. Todo mundo pensa que o silêncio é muito mais lúcido do que o grito. Pensam que o grito é um estágio alto do desespero. Pode ser, não sei. Aquela vez quando eu gritei, ninguém me chamou de louca ou me deu um calmante. Acho que viram a alegria do meu olhar. Quando a gente grita porque está feliz, ninguém nos chama de loucos. Ou então é a única loucura que todo mundo respeita.
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terça-feira, 5 de maio de 2009

sorte de quem ama

Estou gravando um cd para levar. Enquanto ele não fica pronto, eu vou juntando minhas outras coisas: o santinho que minha mãe me deu, o amuleto da minha irmã, o beijo do meu melhor amigo e a minha paz. Eu vou levar tudo isso e o que for preciso para que eu me sinta forte. Eu acho que a gente fica mesmo mais forte só porque uma pessoa nos deu um abraço e uma coisinha, e disse que aquilo trará sorte.



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segunda-feira, 4 de maio de 2009

Resposta um pouco tarde

Eu lembro que uma vez você me perguntou se eu achava que um mês era pouco tempo para se apaixonar por alguém, lembra disso? A resposta me faltou aquele dia, mas te eu respondo por aqui (se você um dia ler):

Experimente passar um dia com uma pessoa encantadora. Um dia só. Eu duvido que até a lua chegar no meio do céu, você já não vai estar apaixonado por essa pessoa. Quando alguém é encantador, a gente se apaixona. Às vezes pode demorar meses, mas às vezes em um dia nossos olhos estão inevitavelmente mais brilhantes.

Eu sei, foi assim com você...
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domingo, 3 de maio de 2009

quarta-feira, 29 de abril de 2009

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Não peça

Sendo assim,
O amor para sempre,
Eu não posso ficar -
Porque tenho fim.
O amor é permanente,
E eu sou temporária.
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domingo, 26 de abril de 2009

Aos poucos me despeço


Há uma pequena parte de mim que quer ficar. Ela grita um gritinho suave, dentro de mim, pedindo que eu fique. Essa parte de mim quer rir quando o assunto é sério, e às vezes quer chorar no meio do trânsito. Essa parte de mim não pode ver um gramado, que já quer sair correndo. Ela tem medo de tudo e quase sempre quer fugir. Ela se sente perdida, tem saudades de tanta coisa antiga e tem sede de coisas que não são de beber. Essa parte de mim um dia já foi o meu todo, agora é apenas uma pequena parte de mim. É a parte que eu estou deixando de ter aos poucos, que está perdendo espaço para uma coisa maior. Uma coisa que as pessoas costumam chamar de maturidade. ¨
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terça-feira, 21 de abril de 2009

Desabafo de um segundo, tão rapidinho que já me arrependi de ter escrito

Minha mãe está dormindo no quarto da frente, não sei como, porque ouço os roncos altos de meu pai daqui. Minha irmã está está lendo com uma luz bem fraquinha, na sala de TV. Minha outra irmã acabou de me mandar uma mensagem: está super feliz em uma festa. Minha melhor amiga saiu da minha casa há poucos minutos, para voltar para a sua. Meus amigos, cada um de um lugar, hoje se comunicaram comigo de milhares de jeitos, inclusive por olhar. Falei ao telefone uma porção de vezes, mandei e recebi e-mails, abracei e fui abraçada. Falei "bom dia" e recebi sorrisos. Nada além de tempo me faltou. Mas hoje, especialmente hoje, eu me senti a pessoa mais solitária da face da terra.
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segunda-feira, 20 de abril de 2009

O calar-se de depois

Às vezes tudo que devemos fazer é dizer a frase que desejamos e então nos calar. Ir embora depois. Porque o que vem depois dessas frases são coisas sugadas de nós, que ainda não estavam prontas para serem expelidas. E tudo que nos é sugado, assim prematuramente, pode doer nos ouvidos de quem sugou. Não queremos dor. Ela costuma bater no vidro e voltar de onde veio.




sexta-feira, 17 de abril de 2009

Things that only a poet would know

Some questions are never meant to be aswered.
Some people are never meant to be forgotten.
And stars, they are meant to be reached.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O passado é sempre engraçado

Enquanto eu não dou risada disso tudo, sofro em agonia. Enquanto não dou risada, crio rugas, bem pequeninas, que me fazem mais velha. Rôo minhas unhas que estavam grandes há tanto tempo. E sofro bem quietinha. Mas eu espero, ansiosamente, pelo dia que eu vou olhar para trás e achar tudo isso uma tremenda tolice.

E eu vou dar muitas gargalhadas, afinal, essa é a parte boa disso tudo.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Olhar de quem olha

Adoro olhar para as pessoas. Mas olhar mesmo. Quando passa uma menina linda com um vestido todo florido eu paro a frase no meio e fico admirando-a assim, sem pudor nenhum. Algumas pessoas se incomodam, mas pouco me importa. Eu gosto mesmo é de olhar. Reparo também em crianças que começam a dançar no meio da rua, que conversam com o sorvete, que correm atrás de coisas coloridas que vêem no chão. [Eu também às vezes corro atrás de coisas coloridas que vejo. Às vezes descubro coisas lindas, às vezes me iludo.] Nunca deixo de olhar as pessoas. As pessoas e os seus olhares, os seus trejeitos, os seus jeitos de se vestir ou de caminhar. Essas coisas todas revelam muito. Às vezes muito mais do que as palavras que saem de suas bocas desesperadas. Uma vez eu disse a uma pessoa que falava demais: "Se você fosse mudo, você seria a pessoa mais doce que eu conheço." Eu gosto de olhar cada traço do rosto de alguém. Cada ruga, poro, cada detalhe. Gosto de tentar decorar os traços, embora seja uma tarefa quase impossível, levando em conta que não se pode acompanhar o que o tempo faz com nossos traços, mesmo quando se fica anos e anos casado. O tempo muda os nossos traços. O tempo puxa um pouco aqui, faz algumas manchas ali, muda tudo de maneira incontrolável. E é por isso que eu gosto tanto de olhar, eu sinto que se eu deixar escapar um pouquinho, talvez eu já não reconheça mais quem eu tanto conheço.
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quarta-feira, 8 de abril de 2009

Mas

Tenho fome,
mas empurro o prato.
Quero sair correndo,
mas me sento no sofá.
Tenho medo,
mas estufo o peito.
E vou, vou, vôo.
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segunda-feira, 6 de abril de 2009

Insônia

Amanhã só pode ser chamado de amanhã se eu dormir? Se eu não dormir nunca mais, minha vida passará a ser um eterno hoje?
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domingo, 5 de abril de 2009

Dedico

Aos peixes que morreram para que eu pudesse comê-los. Às formigas que pisei enquanto corria apressada. Às dores de cabeça que senti durante a ressaca. Aos apertos no meu coração que vieram no dia seguinte. Às unhas que roí até o meu dedo sangrar. Aos segredos que guardei tanto que se tornaram rugas. À tudo aquilo que desperdicei por não querer mais. Aos trabalhos em grupo que só participou o meu nome no papel. Às festas que me convidaram e eu não fui. Às cadeiras que ficaram vazias porque eu não sentei. Às lágrimas que escorreram em meu nome. Aos nãos que doeram em alguém. Às laranjas que espremi mas não tomei. Aos gritos que eu não ouvi, aos gritos que eu dei, aos gritos que não dei também.

A minha dor lhes é suficiente?




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O cérebro do meu coração

Eu perdi o meu tempo tentando te entender. E você perdeu tempo tentando me explicar. Mas no fundo nenhum de nós dois perdeu tempo algum.

Eu gostaria de entrar nos seus pensamentos e me comunicar com eles.

Tenho vontade de acelerar o tempo bem mais do que voltá-lo, porque as coisas que eu fiz, eu fiz por algum motivo, mas eu queria dar uma espiadinha do que vem depois.

Em um minuto eu sinto o meu peito lotado, em outro ele já está vazio.

Eu teria milhares de peixinhos coloridos no meu quarto, se eu não tivesse que limpar o aquário, porque às vezes eu sinto uma necessidade extrema de observar peixes.

Gostaria que o meu choro servisse para resolver as coisas uma vez ou outra.

domingo, 29 de março de 2009

A tal da reciprocidade

Às vezes ela vem sob um olhar retribuído. Às vezes vem em um bilhetinho deixado na mesa. Às vezes escondida nas entrelinhas das frases ou em um abraço prolongado. Mas tem vezes que a reciprocidade não vem. Ou então pode até ser que ela venha escondida em um passarinho feito de papel. Mas às vezes esse passarinho precisa voar, ele só não sabe como fazer.
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Quando o mundo inteiro me diz que é errado, eu continuo. Quando eu penso que é errado, eu páro.
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quarta-feira, 25 de março de 2009

Ainda bem que Galileu estava certo


Eu sei que posso estar sendo louca e imprudente, e estou mesmo de fato. Mas eu fico com aquela velha história na cabeça, de que Galileu Galilei foi considerado louco e imprudente quando defendeu o heliocentrismo, e eu sigo em frente. Porque afinal, o resto do mundo estava errado. O Sol está sim bem no centro do sistema solar. Loucos e imprudentes são aqueles que não defendem o que acham que devem defender.

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terça-feira, 24 de março de 2009

You are not as strong as you show

I am not sad, I just can see more than you.
I see more than you show me, more than you show people.
I see your weakness.

And I like you even more because of that.
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segunda-feira, 23 de março de 2009

domingo, 22 de março de 2009

A qualquer momento

Tenho um certo medo das coisas que não fiz. Elas estão entaladas dentro de mim, prontas para serem expelidas sob a forma de mil arrependimentos.
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Você, que não é perfeito

Ficou com um ou dois cds meus. Disse que eu tinha tido muitos amores e assim não dava. Disse que eu saía demais e você era calmo demais. Me enganou direitinho com aqueles olhares. Fugiu, depois voltou e aí fugiu de vez. Não disse adeus. Cortou demais o cabelo e ficou feio. Criticou-me dos pés a cabeça. Cantava alto demais no carro. Perguntava demais e odiava as respostas. Buscou todos os meus segredos na internet, e errou: eles não estão na internet. Estraçalhou todos os meus vidros, aqueles que protegiam a minha casa. Você, que não é nada perfeito, não vá a procura de perfeição: ela não existe.
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segunda-feira, 16 de março de 2009

Solidão

"A solidão, na verdade, eu acho que ela não passa de uma sobreposição de todas as suas camadas num único momento. Todas as suas camadas, todas as suas vontades, todas as suas verdades, elas se encaixam num único espaço de tempo. E ali você realmente enxerga que desde que você nasceu você é solitário."

http://www.youtube.com/watch?v=OOp0QFAnTS4
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domingo, 15 de março de 2009

Dente-de-leão


Um dia eu assoprei um dente-de-leão, aquela flor que realiza desejos, e coloquei uma das sementes num vidrinho. Fiz isso porque eu queria guardar uma das sementes daquele desejo e entregar ao desejado (que era o meu garotinho). Ele não entendeu nada. Olhou para aquele vidrinho tão sagrado para mim e fez cara de interrogação. Sorriu e colocou no bolso. Ele nunca entenderia a beleza daquela sementinha que eu guardei para ele. Nunca. Porque tem gente que entende e tem gente que não. O desejo que eu fiz com aquele sopro era simples, uma pequena bobagem. Eu pedi que ele não desistisse de mim nunca. Quando ele me deixou, eu não parei de acreditar que dentes-de-leão realizam desejos, e nem desisti de assoprá-los quando os vejo. Porque aquela flor me fez um favor enorme não realizando aquele desejo: eu jamais poderia amar alguém que não entende um vidrinho com uma semente de dente-de-leão dentro.
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sábado, 14 de março de 2009

Sorriso

Quando me lembro que o seu sorriso já sorriu só para mim eu me alegro. Por alguns poucos segundos. Porque o seu sorriso já está longe e eu nem mesmo sei se ele mudou de curva.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Enough.

Eu espero, tão conformada com a vida, que ela me traga alguma coisa extraordinária. Nada menos. Já me bastam as coisas ordinárias do dia-a-dia. Já me bastam os muitos 'nãos' e os poucos 'sims' que eu recebo. Já me bastam as mentirinhas diárias e as pequenas gargalhadas. Já me bastam. Quero algo extraordinário. Eu quero olhar para alguém como o meu pai olha para minha mãe. Mas eu quero alguém que me olhe de volta. Já me bastam as desistências covardes que me surgiram. Mas talvez o segredo seja outro, talvez o segredo seja não esperar.
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quarta-feira, 11 de março de 2009

chuva

Enquanto chove no bairro, na cidade, no Estado, em todo o país e em alguns outros lugares do mundo, há um barquinho bem no meio de algum rio, tentando se equilibrar.
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segunda-feira, 9 de março de 2009

Para Oscarlina

Cara,
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A gente não se conhece, eu sei. Mas eu resolvi escrevê-la para dizer que você é uma das maiores poetas que eu já conheci. Eu, na verdade, só conheço um trabalho seu, mas acho que já é suficiente para admirá-la. Escrevo para você, porque eu queria saber um pouco mais sobre seus pensamentos, sua inspiração. Deve ter levado tempo para conseguir lapidar esse pequeno diamante, não foi? Como eu também gosto de escrever às vezes, será que você me ensinaria uma coisinha ou outra? A parte que eu mais gosto da sua poesia é a pureza. Também gosto da paz que ela transmite. Gosto de todas as estrofes, todas. É, minha cara, eu estou falando do seu filho, ele é a poesia mais linda que alguém já escreveu.
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sábado, 7 de março de 2009

Átomos

A física sempre soube explicar por que dois átomos não conseguem ocupar o mesmo lugar no espaço.



Mas ela nunca soube explicar quando eles conseguem.

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Quando eu te vejo

Acordo com vontade de não acordar. Não há sol lá fora (e nem aqui dentro). Meu celular está cheio de promessas que não vingarão, porque eu não quero. Estou cheia de expectativas, porque é assim que eu vivo. Fico meio sem saber por onde começar. Então você me liga:
-Vamos tomar um sorvete? Olhar as ruas e as pessoas? Quero te contar sobre os meus sonhos de sempre.

Então nós vamos. O papo é o de sempre, o sorvete é o mesmo sabor de sempre e não há nada de novo. Mas de repente a gente começa as risadas, também de sempre, e eu começo a ficar com vontade não só de acordar, mas de não ir dormir nunca mais. De repente você me mostra o quanto eu sou divertida, o quanto eu importo no mundo e para você. De repente, você nem sabe disso, mas você salva a minha vida. E é assim todos os dias que eu te vejo.


Obrigada, Croki.
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sexta-feira, 6 de março de 2009

O perdão é assim

-Me perdoa? -Perguntou a menininha.
-Perdôo. -Ele respondeu.

E o joelho do menininho continuou com treze pontos.

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quinta-feira, 5 de março de 2009

segunda-feira, 2 de março de 2009

Ceneri

Quando você foi embora, você foi cremado.
As suas cinzas em uma jarra de ouro.
E em cada carta não respondida,
em cada mensagem não lida,
em cada silêncio e desprezo,
um pouco das cinzas eram jogadas ao vento.
Algumas vozes me ajudaram a atirar todo o resto das cinzas naquela forte ventania.
Eu relutei, mas acabei atirando tudo, tudo.
Já que não se pode ressucitar pessoas que viram cinzas.
Então não sobrou nem um pouquinho.
Eu sei que as fotos que tirei com meus olhos não foram com o vento e as cinzas,
eu sei que um grilo falante ao avesso me trará pedaços de você uma vez ou outra.
Mas isso já faz parte de mim, e eu sigo conformada.
A história ficou, mas as cinzas estão agora em um vento que segue norte.
Longe de mim.
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até o barulho da porta

No café da manhã te conto um sonho você finge não entender  te beijo e abraço suas costas você beija de volta e vai embora fico com as suas ...