terça-feira, 29 de abril de 2008

Eterna pergunta de um segundo


-E então isso é um adeus? Ele me perguntou.
Eu olhei para a lua, olhei para o infinito ali na frente, e o abracei. Queria dizer não, dizer: "Até amanhã" ou dar-lhe um beijo, mas não pude. O silêncio estava gritando bem mais alto. Os dias foram passando, sem que eu notasse. E foi só depois que eu descobri: aquilo era sim um adeus.

domingo, 27 de abril de 2008

Hoje eu andei de balão



Uma cestinha. As pessoas, que eram 16, entram naquela cestinha e o cara começa a soltar fogo pra esquentar o balão. Apavorante. A cestinha começa a subir, não tem nenhuma asa, nenhuma tecnologia de ponta, nenhum motor. Dá um tremendo desespero, até começar a ver as pessoinhas, iguais à formiguinhas, torcendo o pescoço pra olhar pra cima, emocionadas. É uma mistura de vista de um prédio bem alto com vista de avião. E você pode tocar no ar. Pode colocar a cabeça pra fora. Pode gritar. Eis que eu preferi fingir que estava voando (mesmo porque eu estava) e me calar. Durante o vôo confesso que me distraí bastante e fiquei pensando nas pessoas da minha vida, pessoinhas, iguais à formiguinhas... Fiquei lembrando de todos os nascer-do-sol que eu já vi na vida e que eu jamais pensei em ver o sol nascendo de cima de um balão. Fiquei pensando que eu não tive medo de estar ali, porque eu estava com a minha família e era só o que me importava. Olhava a carinha de pavor da minha mãe, sempre segurando a mão do meu pai, que fingia não estar com medo. Lá embaixo a vida ia amanhecendo, os pastos com suas vacas, os carros começando a seguir seus caminhos na rua, alguém que havia acabado de casar deixava restos da festa espalhados pela cidade. Então o balão subia mais um pouco e até dava para sentir a respiração de Deus, mesmo sem subir tão alto. Era ofegante, como se o mundo tivesse dando um certo trabalho. O mais estranho foi descer de volta, depois de imaginar que eu era um gigante perto de Deus. Foi esquisito voltar a ser formiguinha.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Dois olhares para as paisagens

Fardo muito grande esse, de ser o seu ar. Prefiro respirar o mesmo ar que você, do que sê-lo sozinha. Não jogue o seu mundo inteiro dentro de mim, não consigo carregá-lo. Já tenho o meu, que é grande e pesado. Segure minhas mãos e as beije com entusiasmo. Não queira elas sejam também as suas, já que mal conseguem limpar meu suor diário. Vamos caminhar lado a lado, talvez eu escorregue minha face sob o seu ombro e você mexa em meus cabelos lentamente. Não me carregue, eu caminho com meus próprios pés, sempre ao seu lado. Sejamos alheios, para que possamos sentir saudades na ausência, para que possamos sorrir ao ver o sorriso do outro, mas sejamos sempre juntos, para que compartilhemos as paisagens.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Dias cinzas

Pensei que estava com frio, mas era apenas saudades do sol.

Um lado só

Eu fiz um acordo unilateral com você: Deixei você me ver sob uma lente invisível e deixei você gostar do que viu. Eu deixei o seu sorriso ser dos meus olhos. Mas o meu sorriso continuou meu, eu continuei sentada, sem lentes e sem muitos sorrisos. Minha cadeira se manteve ocupada com a minha presença vazia. O acordo foi só para você, eu fiquei de fora. Agora que o acordo já foi revelado e você veio pedir a sua parte, eu não peço perdão por ter sido unilateral. Porque você, nesse acordo, venceu. Eu quis sair ganhando sem lhe dar nada, mas eu perdi. Eu perdi o direito de te chamar de amigo. Perdi os seus sorrisos todos de uma vez. Perdi as suas graças, as minhas graças, perdi um espaço no seu espaço, eu perdi o que eu nunca consigo ganhar. Não que você tenha vencido de fato, que tudo esteja lindo e nada tenha mudado para você, mas os seus são danos necessários. São danos reparáveis, são danos que a gente eventualmente tem de viver. Acho que esse acordo me mostrou uma coisa ao menos: Nada pode ser feito de um lado só. Sorrisos são feitos para dar e receber mutuamente, sem que alguém fique sentando esperando não sair ferido. Acordos unilaterais sempre acabam com alguém ferido, às vezes os dois lados.

Para P., quem eu perdi.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Constituição do Amor

Eu li em um livro que existem leis que determinam quem pode ser amado. E quando. São leis seríssimas e muito importantes. Não se deve quebrá-las jamais. Quando se quebra essas leis, coisas horríveis acontecem. Coisas fora do entendimento humano. Espero um dia na minha vida conseguir quebrá-las. É o que eu mais quero.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Durante todo o resto do dia

Acordava às 5h30 da manhã para ir trabalhar. Ainda estava escuro. E fazia frio, muito frio. Nem as nuvens haviam acordado direito. Mas tudo bem, porque depois das 6h, era essa a minha vista. Durante todo o resto do dia.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Pai menino

Ele veio conversar comigo. Disse que era sério, que não dava para adiar a conversa. Era, de fato, uma conversa séria. Mas por mim poderia ter sido adiada, eu nem gostava de falar sobre aquilo. Fui escutando com atenção, mas conforme ele foi ficando mais sério, eu fui criando medo. Era um papo desses que a gente não gosta de ouvir. Coisas que deixam triste, verdades. Comecei, sem que eu notasse, a me desligar da conversa. As palavras foram se dissolvendo e se transformando em um noturno. De Chopin talvez. Meus olhos penetraram no fundo dos olhos de meu pai, e ele, como pai, também se dissolveu. Transformou-se em um menino. No menino que ele já foi. Eu, com essa mania de tentar imaginar as pessoas como seriam na infância, consegui vê-lo direitinho. Ele carregava uma bola embaixo do braço direito, e corria atrás de uma galinha. Comecei a me divertir com aquela visão. Uma hora qualquer eu voltei da viagem e notei algumas palavras: "É preciso tomar providências, não é mesmo, filha?" -A galinha foge, vamos Quinzinho! "Sim" eu fiz com a cabeça. Quando meu pai terminou de falar, uma lágrima bem pequenina caiu do meu olho: é que eu queria tanto brincar com meu pai menino.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Talvez ela teria olhado mais

As crianças caíam, levantavam e continuavam a brincar de esconde-esconde. Chovia um pouco, mas o sol às vezes soltava uns raios brilhantes em algumas folhas no chão. A menina, enquanto se escondia, viu um pedaço do sol refletindo numa poça d'água. Gritou para seu amiguinho ver, achou aquilo incrível. O garoto, não entendendo nada, perguntou:
-Ei, por que você parou a brincadeira?
-Você não está vendo?
-Não. O que foi?
-Aqui, veja! É o primeiro arco-íris em preto-e-branco que eu vejo na vida!
O garoto fingiu que tinha enxergado, e saiu correndo de volta para a brincadeira. A menina ficou alguns minutos ali contemplando, mas também saiu correndo, afinal, ela era muito nova e ainda veria muitos arco-íris incolores durante sua vida. Mal sabia ela que aquele momento seria o único. Arco-íris em branco-e-preto não existem.

domingo, 13 de abril de 2008

Útima carta

Meu amor,
Estou o deixando. Vou deixar as chaves em cima da mesa e o meu coração no seu travesseiro. Não precisa acordar, amor meu, pode continuar dormindo. Estou o deixando porque ontem você não segurou a minha mão. Você sempre dizia que não gostava de andar de mãos dadas, e eu sempre deixava para lá, mas ontem eu queria segurar a sua mão. Porque eu estava insegura, porque eu queria sentir o seu calor enquanto a gente caminhava, porque eu queria lembrar que você estava ao meu lado. Mas você não a segurou. Não me importo se você tiver as suas dúvidas mas eu me importo se as respostas forem demorar para sempre para chegar, se é que um dia chegarão. Estou o deixando, mas eu sei de quanto em quanto tempo eu vou lembrar dos seus olhos pretos olhando para mim. Tenho certeza que você me olhava daquele jeito só para me agradar, mas você não queria agradar demais, então logo desviava o olhar. Eu estou partindo e estou completamente partida. Eu queria rasgar essa carta e me deitar ao seu lado novamente, mas eu sei que amanhã você vai continuar não segurando a minha mão. As suas dúvidas não vão acabar amanhã, por isso estou indo embora. Mas não se esqueça, meu amor: meu coração está no seu travesseiro, cuide dele para mim.
¨

sábado, 12 de abril de 2008

Uma Outra Morte

Toda ilusão é dolorosa. Dolorosa porque é ilusão. E não passará disso, no estado permanente que algumas coisas tem. Ela corrói o coração que fica ali, vulnerável a qualquer mariposa suja que repouse suas patas sobre ele. Porque é como esperar que alguém que já morreu volte para a cama que deixou desfeita. Ouvir palavras que jamais sairão da boca alheia. Olhar pela janela e enxergar os raios do sol iluminando flores delicadas, enquanto uma chuva cai cinza e violenta sobre aquelas flores. A gente pensa que a ilusão não mata, mas ela mata sim. Ela nos mata devagarzinho, enquanto a gente não enxerga a chuva, mas sente ela caindo. Mata enquanto a gente espera aquele que não virá. É um enorme perigo deixá-la entrar, porque se ela se instalar sobre o peito, a gente passa a vida inteira morrendo, lentamente.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Confusões maiores


Já vi gente brigando tanto que não se sabia de quem era o soco. Já vi casais esquecerem se era o aniversário de um ou do outro. Já vi mães coçando a perna do filho, pensando ser a sua. Já vi olhares, barrigas, pêlos, dedos, horizontes e pensamentos se misturando como tintas molhadas que o pintor vai pôr na tela. Azul e amarelo que misturados são verde. Mas foi hoje que eu vi a maior confusão da minha vida. Hoje eu vi as lágrimas de um choro se misturando com as gotas de uma chuva. Não se sabia onde começava a chuva e onde terminavam as lágrimas.

terça-feira, 8 de abril de 2008

A nossa troca silenciosa

Gosto do som do silêncio. De todos os sons que o silêncio faz. Eu gosto de me calar, só para ouvi-lo. Há um grande número de coisas para serem ditas por mim, mas eu não vou dizer. Ouço as coisas distantes da minha cabeça, vejo imagens, vejo os seus contornos e não digo. Seus pensamentos, às vezes, são ralos demais e não fazem som nenhum. Talvez por isso você me pergunte tanto. Mas eu não sei responder. Meu dever, nessa hora, será enviar sinais silenciosos. Eu recebo os seus, que você manda sem querer, e envio os meus. Seus pensamentos crescerão mais do que a palma de sua mão, você não poderá mais segurá-los. Eles farão muito barulho.
Então, você não vai mais perguntar quando eu estiver calada, pois vai se calar também.

Mesmo na razão


A poesia está nas suas mãos, no suor do fim do dia, nas covinhas do seu filho. E talvez você não tenha filhos, o dia esteja frio e não haja suor. Mas o seu olhar triste no espelho, o gosto doce da fruta, o sol de inverno são poesias. Você é todo feito de poesia. Mesmo na razão dos seus projetos, na certeza que você tem de tudo, na raiva do passado: é poesia. Você é. Porque sente a vida transbordando nas suas mãos, porque sabe onde está agora, porque tudo é feito de desejos, de amor e de incerteza. Você não manda nos seus desejos, você não manda no rumo do destino, tudo pode dar errado e derrubar a sua razão em um segundo: e isso é a poesia da vida.
Para M.
Sem todas as lutas
De cada dia
De cada palavra
Do ar que entra
Do mar que vai
Vão-se os dias
Em vãos momentos.

domingo, 6 de abril de 2008

Partitura do meu peito

Passo dias em silêncio para não ferir as palavras com a minha amargura. Calo-me para Deus, para a falta de um deus, para os meus pensamentos. São pensamentos mudos, já pensou? Mudos. Talvez haja, em algum lugar do mundo, alguém que grita de dor. Mas dentro de mim, não há mais som, nem mesmo para alguma dor. São palavras tão belas, as que existem por aí. Não as digo. O meu peito hoje é impronunciável.

Não saiba viver

Não vá sair por aí
Cantando com os passarinhos
Não vá sentando em cadeiras de balanço
Balançado assim
Não vá cantarolando por aí
Como se fosse hoje o último dia
De toda tristeza
Não faça isso
Não vá nadar na chuva de verão
Não procure os trevos de sorte no jardim
Deitando ali na grama molhada
Não vá pintar quadros no sol do quintal
Não, não, não
Não posso ver-te assim
Sabendo viver
Sem mim.

Retratos


Acho que eu entendi onde, dentro da gente,
Ficam as lembranças todas.
Aquelas histórias todas que arrepiam só a gente.
As fotos que ninguém vê de verdade.
(Os outros só procuram as belezas ali nos dentes.
Enquanto isso a gente consegue ouvir as risadas ridículas de todo mundo que tava ali naquela hora. A gente consegue sentir o bafo da pessoa que nos abraça na foto. Consegue sentir o friozinho de fim de tarde que tava ali na hora
E as outras pessoas não sabem de nada.
Não lêem nada daquilo. Não sentem o cheiro de piscina ou churrasco...)
E eu acho que entendi onde ficam aquelas lembranças todas das fotos:
Elas ficam em como a gente é.
Em como a gente lida com as coisas
Na nossa (im)paciência, na nossa raiva ou alegria constante,
Ficam no modo como pegamos o lápis para escrever
No modo como falamos com nossos pais,
Como corremos dos nossos medos...
As lembranças se tornam pedaços de quem somos.

Passos

Deite, meu amor.
Se deite nesse chão cheio de passos antigos.
Aprenda a ler os passos,
Do que já passou por aqui.
Aprenda a não seguir passos
Do que voltou,
Porque não conseguiu ir.
Aprenda a ouvir os passos de seu pai.
Deite, meu amor
Escute alguém que chega
E pisa forte
Acho que é seu amor que vem.
Escute,
Não deixe que ele passe.

A sua mão

Não olho para a noite, porque não há cor. Eu não gosto quando falta nada, e falta cor. Gosto de sentir a terra girando. E ela gira bem devagar, só pra me provocar. O relógio continua fazendo o barulho dos ponteiros cansados. Que giram num eixo tão pequeno. Olhem para os relógios: que erro! Esse eixo não vai conseguir segurar um dia todo! Consertem-no! Aumentem os relógios! Deixem os ponteiros girarem por mais tempo, eles precisam de mais segundos! E eu preciso de água. Esqueci de tomar água, de comer, de dormir. Eu esqueci, porque pensava naquele mistério: A sua mão que não segura a minha. Há mãos abanando, há mãos que falam pelas bocas surdas, há mãos que imploram perdão, há mãos que mostram uma idade longa, e há a sua, que não segura a minha. Eu sei que há maiores mistérios, como o arco-íris cheio de cores que se unem, e elas se unem tão bonito... Logo depois da chuva. É tão belo: cores claras, cores escuras. A natureza que as fez amarelas, azuis... Mas a noite não tem cor. E é por isso que eu não olho para a noite, porque ela não quis usar nenhuma cor.

Van Gogh, Cazuza e Eu


Eu senti pena de Van Gogh.
Todo incompreendido, todo mal-interpretado.
Cheio de angústias que ninguém podia ver.
Olhava seu rosto sem a orelha,
Suas mãos cheias de tinta,
E a solidão.
Tantos quadros belos e amarelos,
Quanta beleza ele pintou, diante de tanta tristeza interior...
Me lembrei de Cazuza: "Todo mundo é parecido quando sente dor."
Então, eu não senti mais pena de Van Gogh.

Um Poema Para o Nada

Já que o nada nada tem
Que nada lhe resta
Que nada tem a perder
Lhe dedico linhas
Lhe dedico tempos
-talvez apenas segundos,
Mas eu lhe dedico.
Porque um dia nada tive
Porque um dia eu hei de perder tudo também.
Porque entre uma coisa e outra, existe nada.
Porque tudo surge
Do nada.

pedaço

-Sabe quando eu mais gosto de você?
-Quando?
-Quando você vai embora.

Vinte e quatro horas e apenas dois acertos

Woody Allen disse em um dos seus filmes: "Até um relógio quebrado acerta as horas duas vezes ao dia." Sim, Woody, eu concordo, mas e aquela história que minha mãe diz que cometento sempre os mesmos erros se obtém os mesmos resultados? O relógio, pobre relógio quebrado, irá sempre acertar as mesmas duas horas, mas vai continuar errando as outras vinte e duas.

sábado, 5 de abril de 2008

Ensaio sobre o meu ver


Ocupo meu olhar com coisas tão pequenas, que quase não as enxergo. E quando vem a noite, o silêncio, a calmaria, o escuro, é que enxergo bem. No som do sono de meus pais, no som da casa dormindo completa, no silêncio dos sonhos, é que eu consigo ver. O dia enorme, claro, óbvio, barulhento, me cega. As pequenas coisas que vejo do dia me cegam. O grande e belo eu vejo à noite, quando não há nada para ser visto. Meu olhar, tão ocupado com as pequenas coisas, já está quase cego.

E agora?

Onde estará Deus, para quem não acredita nele?

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Cem anos de escuridão

Morre-se aos poucos.
Primeiro as luzes se apagam.
Depois o que apaga é a lua.
O sol resiste muito,
Mas apaga também.
Na escuro nada se enxerga.
Se não houver a luz própria,
A escuridão do mundo invade
E mata.

14 minutos de beijo

Uma vez, sem querer, eu olhei para o relógio e vi as horas durante o beijo. Ele durou 14 minutos, aquele beijo nosso. Foram 14 minutos de você, eu, e algumas borboletas no meu estômago. Agora que tanto já se passou, sou obrigada a pensar em tudo que posso fazer em 14 minutos: Discutir com meu pai sobre a II guerra mundial (seu assunto preferido). Ouvir uma música de Vivaldi. Ler um pedaço do meu livro enquanto tiro o esmalte do pé. Ouvir a Marina reclamar de alguma coisa da faculdade. Esperar minha vizinha terminar de comer (porque ela é sempre mais demorada). Caminhar pelo meu condomínio. Dançar, cantar, comer, preparar comida, jogar cartas fora, planejar viagens, esperar 14 minutos passarem olhando para o relógio. Agora que os seus 14 minutos não são mais meus, eu sou obrigada a achar graça em todas as coisas que posso fazer neste tempo. Mesmo que, em 14 minutos, eu prefira beijar os seus lábios.

O vácuo de tudo

Eu tenho certeza que há um espaço entre as diferentes partes do cérebro. Um vácuo. Há um descanso entre o pensar, o agir, o comandar, o contar. Há um descanso entre a dúvida e o tapa. Um descanso entre o ir embora e o pensar depois. Um espacinho sem nada: nem um glóbulo vermelho, nem um átomo. É neste espaço que ficam as dúvidas nunca tiradas. As respostas nunca ditas, as palavras nunca pronunciadas. Os rostos não esquecidos. Aqui fica o perdão. Todos os perdões que não dizemos nunca. Porque este espaço é longe demais dos olhos. Dos homens, do entendimento. Algumas crianças moram nesse vácuo cheio de coisas. Algumas nunca saem dele. Pouco importa o que dizemos, porque toda a poesia fica escondida neste espacinho do cérebro, que nunca alcançamos.

e assim por diante


Eu até poderia escrever alguma coisa sobre uma ira qualquer do passado. Mas eu prefiro fingir que entendo, suspirar um pouco (como se isso me desse certo alívio) e continuar caminhando, deixando as coisas onde elas foram colocadas.

Deve ser culpa do vento

É isso que o universo todo pequeno faz com a gente. Justo quando eu pensei em você, o telefone toca: é você. Justo quando aquela menina lembrou que eu existia, eu estava a enviando uma mensagem. Hoje, passei o dia lembrando de certa pessoa, chego em casa e eis que está lá: um e-mail dela. Há 10 anos eu não falava com ele, ontem, logo depois de lembrar de sua existência, esbarrei nele na fila do supermercado. E é só isso que esse universozinho faz o tempo todo. Ele brinca com a gente. Pode chamar de coincidência, destino, maktub. É um joguinho que o infinito joga. Eu fico feliz, sabe? Porque quando você virou as costas para mim, eu bem que estava tranquila, porque sabia que bem na hora em que eu pensasse em você, o universo iria colocar meu rosto no meio das suas memórias. Não ache que você lembrou de mim hoje por puro devaneio. Foi só porque eu pensei em você naquele mesmo instante.

Ela tinha nuvens nos olhos

Por isso não podia ver o sol. Não via estrelas, Nem os amigos ela via. Eram as nuvens nos olhos. Muitas nuvens, muito cinzas. E por mais lindo que estivesse o dia, Não bastaria empurrar as nuvens, era preciso chovê-las.

Sem a régua

Enquanto você fala, eu sonho. Suas palavras não entram nos meus sonhos e então a gente se separa. O espaço que nos divide não se encontra mais, nunca mais. Como duas retas paralelas, que aprendi na aula de artes, não se cruzam nem no infinito. Mas e se eu, de repente, der uma entortada na sua reta?

As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...