Ele veio conversar comigo. Disse que era sério, que não dava para adiar a conversa. Era, de fato, uma conversa séria. Mas por mim poderia ter sido adiada, eu nem gostava de falar sobre aquilo. Fui escutando com atenção, mas conforme ele foi ficando mais sério, eu fui criando medo. Era um papo desses que a gente não gosta de ouvir. Coisas que deixam triste, verdades. Comecei, sem que eu notasse, a me desligar da conversa. As palavras foram se dissolvendo e se transformando em um noturno. De Chopin talvez. Meus olhos penetraram no fundo dos olhos de meu pai, e ele, como pai, também se dissolveu. Transformou-se em um menino. No menino que ele já foi. Eu, com essa mania de tentar imaginar as pessoas como seriam na infância, consegui vê-lo direitinho. Ele carregava uma bola embaixo do braço direito, e corria atrás de uma galinha. Comecei a me divertir com aquela visão. Uma hora qualquer eu voltei da viagem e notei algumas palavras: "É preciso tomar providências, não é mesmo, filha?" -A galinha foge, vamos Quinzinho! "Sim" eu fiz com a cabeça. Quando meu pai terminou de falar, uma lágrima bem pequenina caiu do meu olho: é que eu queria tanto brincar com meu pai menino.
quarta-feira, 16 de abril de 2008
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Um comentário:
De repente,
não mais que de repente, ela viu.
Viu o menino correndo
atrás da galinha,
viu o menino com a bola
e a cara de assustado.
De repente,
ela viu
que o velho-menino
estava tão assustado quanto ela.
E que uma lágrima
(escondida,é verdade)
escorreu pela face
do menino-velho.
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