terça-feira, 22 de abril de 2008

Um lado só

Eu fiz um acordo unilateral com você: Deixei você me ver sob uma lente invisível e deixei você gostar do que viu. Eu deixei o seu sorriso ser dos meus olhos. Mas o meu sorriso continuou meu, eu continuei sentada, sem lentes e sem muitos sorrisos. Minha cadeira se manteve ocupada com a minha presença vazia. O acordo foi só para você, eu fiquei de fora. Agora que o acordo já foi revelado e você veio pedir a sua parte, eu não peço perdão por ter sido unilateral. Porque você, nesse acordo, venceu. Eu quis sair ganhando sem lhe dar nada, mas eu perdi. Eu perdi o direito de te chamar de amigo. Perdi os seus sorrisos todos de uma vez. Perdi as suas graças, as minhas graças, perdi um espaço no seu espaço, eu perdi o que eu nunca consigo ganhar. Não que você tenha vencido de fato, que tudo esteja lindo e nada tenha mudado para você, mas os seus são danos necessários. São danos reparáveis, são danos que a gente eventualmente tem de viver. Acho que esse acordo me mostrou uma coisa ao menos: Nada pode ser feito de um lado só. Sorrisos são feitos para dar e receber mutuamente, sem que alguém fique sentando esperando não sair ferido. Acordos unilaterais sempre acabam com alguém ferido, às vezes os dois lados.

Para P., quem eu perdi.

Um comentário:

William Maia disse...

Você é uma carregadora. Mas ainda não sei porquê.

uma mordida na perna um veneno de lagarta no dedo uma conta negativa no banco uma franja que eu não gosto um bloqueio criativo um medo que n...