sábado, 22 de dezembro de 2018

não espero que você volte
e lembre de me ligar
não espero nada de você
mas confesso eu gostaria
de poder esperar



quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

você sabe

Não há esforço
e a tosse
quando vem
vira risada
gargalhada
ou lambida
temos personagens
bobagens, segredos
vi todo meu medo
partir sem olhar
para trás
tudo é natural
autoral, criado na hora
é fácil de ver
que temos a ver
até óculos
estamos trocando
estou segurando
sua mão
mas não posso dizer
deve ainda ser
cedo
não tenho certeza
pode ser miragem
como já vi antes
viagem
da minha cabeça
acontece
que não sei direito
como proceder
mas acho que eu
você sabe o quê.



segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

apt. 104


as conversas no sofá
às vezes surpreendiam
você pensava em coisas
que nunca tinha pensado antes
coisas que eu pensava o tempo todo
uma vez você me disse
que nunca tinha falado sobre aquilo
com ninguém
não me lembro o que era aquilo
algo profundo
eu me sentia bem e pensava
que talvez você poderia
se apaixonar por mim um dia


quinta-feira, 29 de novembro de 2018

troca

te dei
um pedaço de mim
uma gota
um pequeno fragmento
por um tempo
peguei
um átomo seu
um grão
uma partícula
veio um vento
uma brisa qualquer
um sopro
levou pouco
muito pouco
quase nada
apenas toda
nossa troca

domingo, 25 de novembro de 2018

viagem

naquela viagem
eu vi a minha própria alma
cheia de crianças e Deus
dei um abraço na minha mãe
entendi porque me despedi dele
que nunca ia me amar
vi uma alma cheia de flores
coisas belas e brilhantes
me achei tão linda e pensei
ainda bem que eu moro aqui



sometimes we leave before we hurt 
but it still hurts to leave

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Neste instante

Enquanto eu passava argila no seu rosto
te falei que ele tinha voltado
a sua barba ficou cheia de argila,
você fugiu atrás de um cigarro e eu vi 
que nunca é hora de falar de outro amor
fumando na varanda 
você falou sobre o perigo de amar
de estar vivo, de ficar preso na cama
eu quis ir embora, mudar de assunto
ele voltou, mas ele não vem 
ele quem? 
fiquei olhando o seu rosto todo marrom
os seus gestos cuidadosos e inseguros
a argila pingando 
eu não gosto de tomar vinho em copo de requeijão 
preciso estar perto de árvores e plantas,
eu não sei se vou ficar 
mas olha, a argila está pingando bem na sua frente
quer que eu te ajude a tirar? vai sujar o chão

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Frio

Disseram que ia fazer frio, ainda não senti
se senti, não me incomodei
difícil incomodar ultimamente
nem a falta de um amor
meu amor tem sido borrifado
em pequenos amores cotidianos
(alguns grandes)
e na falta de você
que podia estar em todos os lugares
mas está sempre longe
Sinto um pouco de frio agora
mas não vou borrifar meu amor
quero ver se você sente
e resolve voltar

domingo, 11 de novembro de 2018

observo as fases com cuidado

a espera passou a fazer parte da paisagem
tento me lembrar da última vez que você me abraçou
faz tempo
agora eu sei contar os dias com a lua também
observo as fases com cuidado 
o modo como ela se revela devagar 
enquanto espero 
em que cidade você está ou em que país
talvez aqui mesmo
numa festa que eu não fui
eu vi a lua agora há pouco
ela já está pequena de novo
não sei por que eu insisto 
você já disse que não sabe ler poesia


domingo, 4 de novembro de 2018

Flor no lixo

Eu nem sabia o que tinha
ao meu redor
quando você me arrancou do chão
disse que eu era uma flor
no lixo
mas eu te reconheci
quando você me mostrou sua alma
um pouco amassada
uma flor reconhece a outra
estica a alma por favor
sejamos flor
na mão de uma menina
Vinícius precisa fazer poesia
não deixemos de ser flor jamais
lixo já tem demais




domingo, 28 de outubro de 2018

28 de outubro de 2018

Não há muito o que escolher
um tapete mofado, um chão sujo
não há saída
uma fuga talvez, um abandono
lágrimas agora ou depois, tanto faz
as coisas mudam
para voltar a ser o que eram
nada é fixo, estático
e andar em círculos também é andar
o que fazer
senão sentar e assistir tudo ruir
pregar as próprias mãos numa cruz
deixar-se levar ou morrer lentamente
Não há o que escolher
a escolha nunca foi uma escolha real
já estava tudo decido muito antes
o copo que está no chão
não está meio cheio nem vazio
está quebrado.


quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Pouco importa


Ontem pela primeira vez você me olhou 
como se quisesse alguma coisa comigo 
não corpo ou bom humor
alguma coisa com a minha alma
ela secretamente me pede para voltar 
para sua casa no final do dia 
mas eu não posso: 
nunca mais achei minha escova de dentes
você a descartou?
Sabe, eu queria te ajudar 
a pôr as plantinhas de volta na estante 
como escrevi naquela poesia
mas pouco importa você 
está indo viajar de novo


segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Domingo

você me dá medo e eu
dou espaço pra outro
mas há
um espaço enorme
entre eu e o outro
um vazio que eu preencho
com você me esperando
domingo
eu não quero outro
mas eu tenho medo






A verdade é que 
eu não sei o que você tem
mas você tem a mim

domingo, 14 de outubro de 2018

fluxo contínuo de ideias

não me lembrava de sentar por horas no chão sem distração num fluxo contínuo de ideias sem nem se tocar que sorte a minha encontrar você perdido na porta um copo de cerveja na mão não gosto de plástico nem de cerveja mas eu quis aceitar o seu copo tomar o que for ao seu lado e escutar tudo sobre aquele olhar que só fazia desviar tímido de mim eu não me lembrava a sensação de olhar no rosto de alguém e pensar pode parar encontrei bem aqui, é isso



terça-feira, 9 de outubro de 2018

Aprendi assim

Eu
já fui fundamental
imprescindível
irremediável
você
me ensinou
que posso não ser
nada disso
aprendi assim
que não preciso
de você

domingo, 7 de outubro de 2018

hora

Eu gosto de observar, atenta, os horários das coisas
desde pequena no berço
minha mãe falando baixo, hora de dormir
o dia ficando escuro, hora de voltar
agora, enquanto você dorme profundamente,
observo atenta os sinais
a noite mal dormida
a falta de espaço e de tempo
me despeço mentalmente do seu beijo
é hora de partir.




vento

O vento batendo na sua janela
me faz pensar que hoje talvez seja
a última vez que vou ouvir
o vento batendo na sua janela

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Outubro

Você chegou tão de repente
não tenho mais poesia pra você, outubro
esgotei-as ao longo do ano
até corações no correio eu botei
em setembro e ainda não te conheço
você chegou agora, outubro
não tenho mais forças para escrever
sobre alguém que eu nem conheço
em fevereiro não havia outubro
só o nosso aniversário, nosso aquário
guardamos segredo por meses 
você chegou de fininho 
disfarçado de férias, carregando outro amor
não há mais segredo,
não há mais poesia 
o que haverá em outubro? 
Você enfim chegou.


quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Bloco de notas

dar as mãos é um altar sagrado
às vezes eu me lembro de músicas que ele gostava e que me lembram verão
é engraçado eu não me lembrar do toque das mãos dele, mesmo depois de tanto tempo, acho que nunca me acostumei
aqueles olhos amarelos, o olhar doce
quando um gato lambe a gente faz cócegas porque a língua deles é áspera
estou aprendendo só agora a me deixar sentir o que não é seguro
sentimentos à flor da pele me incomodam
hoje eu enrolei os meus cabelos só pra mim
comida orgânica atrai bem mais mosca
eu não sei por onde andei antes, mas eu gosto do cheiro dos seus lençóis
se a minha poesia é inútil para você, fica com a minha risada
escrevo poesia até no carro, enquanto o farol não abre
eu nunca sonhei com você, em nenhum sentido de sonhar
a causa dos animais, o corpo duro, eu não sei
eu nunca aprendo, mas parece que finalmente eu não tenho pressa.

domingo, 23 de setembro de 2018

setembro de novo

Tentei trazer um pouco de poesia
colei na porta da geladeira
mas ele não entendeu nada
nunca achei o peito dele seguro
para eu repousar o meu
fui saindo de fininho
deixando de responder
ele era tão distraído
nem notou o bilhete na porta
"fui comprar cigarro"
eu detesto cigarro 
ele me esperou por uns meses
quando lembrou que eu não fumava
já era setembro de novo
resolvi começar a fumar

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Passeio na chuva

Eu não vou te levar pra passear, não adianta. Está chovendo, será que você não vê? Está chovendo e eu tenho um monte de coisas para resolver e eu queria escrever alguma coisa sobre ontem. Sabe, ontem depois que eu te dei banho eu saí. Quando eu voltei você já estava dormindo então você nem viu como eu estava. Se tivesse visto, você iria lamber minha mão para dizer "ei, você não está sozinha." Eu me sentia sozinha. Ontem eu saí com alguém e parecia que era só ele, que eu não estava ali. Ele e os planos dele, ele e o trabalho dele, ele e as contas que ele precisa pagar, as viagens que ele vai fazer. Eu ia contar para ele sobre o roxo que eu ganhei nas costas quando você me puxou pela coleira, mas acho que ele nem reparou. Ia falar sobre os dias que eu estive fora, sobre os pontinhos brilhantes que eu vi no céu, sobre a minha mais recente descoberta, mas ele não perguntou nada. Por que você está lambendo a minha mão? Vá buscar a sua coleira, vamos passear. Eu sei que está chovendo, mas vamos mesmo assim.

sem conversa

- Eu não dormi essa noite.
- Por quê?
- Ficamos conversando na cozinha depois do jantar e conversando e conversando, quando vimos eram cinco e meia da manhã e o céu estava começando a ficar claro. 

Quando ouvi esse diálogo no bar eu fiquei pensando que depois do jantar um taxi estaria pronto para te levar para algum aeroporto e às cinco e meia da manhã eu estaria dormindo, sozinha. O céu ficaria claro sem conversa. 

Na escada

O que eu quero dizer
é que pode ser
que eu te olhe
e não te reconheça
de outras vidas, de sonhos
ou até mesmo daqui
pode ser que você
me pareça mais um rosto
outro rosto qualquer
pode ser que nos olhemos
e não nos encontremos
um no outro
que a viagem seja à toa
que não seja nada boa
tudo pode ser
e pode não ser nada
tantas vezes já não foi
no entanto
ainda assim
de qualquer maneira
eu te espero
na escada.





terça-feira, 11 de setembro de 2018

Mais ninguém

Meu bem eu quero
que você seja feliz
nos braços de quem for
não quero saber quais braços
se essa marca nas suas costas
foi feita com unhas rosas ou azuis
digo isso o tempo todo
mas no fundo eu desejo
que você me ame um dia
até que os braços que te envolvam
sejam meus e só meus
que as minhas unhas brancas
te cravem a pele das costas
e não haja mais ninguém


sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Partes

De quais partes minhas você gosta
sei que não são todas
talvez poucas
é tudo tão devagar
você é calmo demais
nem me leva nem fica
de quais partes, me fala
quero melhorar as outras
ficar inteira boa
pra você querer ter pressa
sem dúvida, medo
quais partes minhas você despreza
me fala que eu descarto
deixo de lado, abandono
eu não preciso de tudo
quais partes minhas você levou
me devolve agora
estou aqui com pedaços faltando
me ensina
do que você precisa
pra levar tudo
as partes que você não gosta
não vou gostar também
me ensina como faz
pra gostar por partes
eu não sei como funciona
tem pedaço seu quebrado
mas eu gosto, ah se gosto
de tudo que é seu
queria ser como você
gostar só de partes
descartar o que não importa
quais partes minhas você levou
se for devolver me fala
que eu preciso aprender
como faz para colar de volta

Livro

O livro que você me emprestou 
deixa eu te devolver amanhã
ou agora 
a qualquer momento
deixa eu te devolver pra sempre
eu não quero mais guardar
quero que você venha buscar
e me leve junto

Sigo

Sigo sem saber
qual é o seu cheiro
o seu gosto só imagino
Sigo sonhando
nós dois e nenhum oceano
através
Eu só peço que siga
a linha da vida
e me veja
de frente ao vivo
sem nenhuma tela
entre nós



quarta-feira, 29 de agosto de 2018

como um lego

Plantas bem pequenas
plantadas dentro de rolhas e copos de shot
fotografias espalhadas pela mesa
de pessoas que eu não conheço
alguns minutos se passaram
enquanto tentávamos meditar
o telefone tocando
e tocando e tocando
vesti sua camiseta preta
e não andamos
de mãos dadas pelas ruas
dentro do museu os escravos
nos olhavam e sabiam de tudo
mais do que nós de mãos livres
me questionei se aquele era um bom momento
para eu te dar um abraço
não sei quanto tempo durou
mas foi certo o meu encaixe
como um lego
nos seus braços.











quarta-feira, 15 de agosto de 2018

no chão

Um homem sozinho
cheio de planos
cruzou meu caminho
tentei alcançá-lo
me encaixar nos seus planos
mas ele andava depressa
segurando uma pasta
Entreguei meu cartão
o homem parou
segurou-me a mão
sem nenhuma intenção 
foi embora e derrubou
meu cartão no chão

ninguém

As minhas poesias
só existem de fato
quando saem de mim
mas elas existem de fato
se ninguém as ver?

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Poesia

Como o ar que entra e sai
naturalmente do meu pulmão
ou o suor no calor
sem que eu me esforce 
essas palavras 
escorrem de mim
por todos os poros



segunda-feira, 13 de agosto de 2018

deixar um pouco de si

é um mistério o modo
como as pessoas
fazem amor
se fecham os olhos
o que dizem
se dizem
se parecem vivas
ou mortas
o que fazem a gente sentir
mas depois que o segredo
é revelado
barulhos ouvidos
faces vistas
peles juntas
depois que não há
mais mistério nenhum
existe ainda
um mistério maior
do que qualquer segredo
no mundo
que alma é aquela
que habita aquele corpo
que acaba de deixar
um pouco de si
em mim

Tempo

Também acho
que é perda de tempo
ter pressa
esse nosso tempo escasso
se visto de cima
é infinito

domingo, 12 de agosto de 2018

amantes

não é gozado
que o aplicativo recomendou
a mesma música para nós dois?
me fala de novo quando é que você viaja
para eu não me apegar ao seu jeito
de chutar o vazio enquanto dorme 
não foi na sua tomada que 
ficou o meu carregador?
não sei Benjamin Franklin,
mas eu acho que você escolheu bem a sua 
esse mês eu vou tentar entender 
como é que você se sente às vezes
com a lua no seu signo, mas de novo me fala
quando é que você vai embora?



sábado, 11 de agosto de 2018

Estante

Não te conheço de dia
só uma versão noturna
tem poucos livros na estante 
nenhum de poesia
uma caixa 
que é melhor eu não derrubar
já usei seu sapato 
blusa, banheiro, tomada
mas você só aparece às vezes
e às vezes eu fico pensando
se alguém mais anda vindo
na sua casa, olhando seus livros
procurando sua poesia






sábado, 4 de agosto de 2018

erros

Você me disse uma vez que eu gostava de errar
os seus erros te ajudam a escrever
você gosta de sofrer, você me falou
aquele dia
eu lembro do seu tom de voz, da sua cara triste
já havia tanta despedida
no seu tom de voz, no meu olhar longe
nas nossas mãos dadas
fracas
aos poucos, tão devagar
tudo se despedia
éramos tão diferentes
eu nunca ia me encaixar
nos seus planos
nas suas planilhas
você também não se encaixava
nos meus sonhos
nas minhas viagens
eu lembro que uma vez você disse
que tudo bem as diferenças
contanto que houvesse amor
naquele dia o amor já tinha acabado
dentro de mim
a minha alma já sabia
sussurrava no meu ouvido
não é ele
não é ele
enquanto isso o meu lado poeta sorria:
lá vem uma nova poesia

terça-feira, 31 de julho de 2018

Sonho

Eu sonhei com o mendigo da sua rua. Eu dava um livro pra ele e apertava aquela mão toda imunda. Você não estava por perto, mas era a sua rua, o seu mendigo chamado Ricardo. Eu dava para ele um livro que fala sobre paz de espírito, sobre coisas da alma, sobre respirar. Eu tinha um apego enorme pelo livro, mas foi com ele mesmo que eu aprendi sobre compartilhar, desapegar, sobre saber que nada nos pertence. Eu aprendi naquele livro que o mendigo chamado Ricardo sou eu. E é você também.

terça-feira, 24 de julho de 2018

pontas no cinzeiro

Eu aqui, sentada na sua casa vazia
olhando para os seus discos
os pratos sujos na pia
os tacos cheio de riscos
no chão
um pouco de solidão
de repente eu entendo
sua vontade de fumar
mas eu não me arrependo
de te ver parar
eu também queria esse prazer
falso do cigarro
é como dirigir um carro
que não é seu, e ter que devolver
a gente se sente aceito
o vazio no peito
some agora
mas o cigarro acaba
a sensação vai embora
restam as pontas no cinzeiro
nenhum cigarro termina inteiro
nem você.

domingo, 22 de julho de 2018

Eu não entendia

Sempre gostei mais da noite
ficava sozinha no meu quarto 
com livros de poesia
do Vinicius de Moraes
algumas eu não entendia
a luz fraca do terraço 
às vezes música, alta ou baixa
sempre triste 
algumas eu não entendia
sempre gostei de ficar sozinha
no meu quarto, escrevendo poesia
às vezes eu não dormia
cheia de palavras na minha cabeça
algumas eu nem entendia
sempre escrevi mais à noite
a solidão e o silêncio 
sempre me inspiraram
mesmo quando eu tinha prova na escola
precisava escrever 
esconder a dor
que eu quase nunca entendia.

Oi amor, estou voltando

- Oi amor, estou voltando
cansado, cheio de malas
quero te ver ainda hoje.

- Oi amor, quanta saudade
vou tomar um banho rápido
me encher de perfume
esperar você chegar.

(acendi uma vela em cima da mesa
fechei a porta atrás de mim
fui correndo ao seu encontro)

- Que abraço apertado
você parece ansioso
tudo isso é saudade?

- Acorda amor, pode abrir os olhos
feche a boca, não se assuste
era só um sonho:
eu nem me lembro de você.







terça-feira, 17 de julho de 2018

Resposta

Achei bonito você correr atrás de aula disso e daquilo e consertos e largar o cigarro e tentar colocar as coisas no lugar. Tão bom pra você. Não sei se são tão bons os motivos que você criou para eu ter me encantado com você. Coisas que você poderia ser, coisas que você não é. Eu me encantei por você porque era uma segunda fora da rotina e você tocou uma música que mexeu comigo. Depois vieram sebos e casamentos e fins de semana. E risadas. E nada disso tem nada a ver com o que você poderia ser ou tenha sido. Eu não dou a mínima para nada disso. A gente teve muito a ver nesse tempo que a gente teve a ver. E eu gostei de você exatamente desse jeito que você é agora. Você nunca mentiu pra mim sobre o que você é e nem nunca prometeu que nada mudaria. Eu quis ir embora por essas mesmas razões que o amor tem e a gente desconhece. A despedida também às vezes tem razões desconhecidas. Passou. O nosso amor foi uma brisa gostosa que me fez um bem danado e acho que sacudiu um pouco a sua poeira. Que bom que eu te fiz bem também. Eu estou indo embora aos poucos porque eu não tenho pressa, mas eu não quero ficar mais porque a minha hora passou. Só isso. Mas por favor, continue nessa busca pela sua melhor versão porque você já é um cara incrível e não deveria nunca se acomodar.

domingo, 15 de julho de 2018

Meu último sonho

Eu entrei num barco antigo igual ao que aparece no filme do Peter Pan e fui navegar sozinha pelo oceano noite adentro. O tempo naquele barco era outro, passava mais devagar. Eu tinha uma profunda sensação de liberdade naquele mar silencioso, calmo e noturno. Eu estava sozinha, mas me sentia tão bem. Vi umas baleias mergulhando bem perto de mim, quase esbarrei nelas com meu barco, mas eu não senti medo. Eu tinha certeza de algo. A água brilhava forte refletindo a luz da lua. Aquilo era uma espécie de paraíso. Meu passeio foi intenso mas curto, porque eu senti que precisava voltar para casa. Quando eu voltei, meus pais estavam um pouco mais velhos e me disseram que eu havia passado um ano e meio longe de casa.

Dig

I dig my chest so deeply
to find so little of you
there's hardly any smile from you in my memory
or laughs or touch
I can't remember much of your kiss or smell
I have to create your shades in my head
so far from what I actually saw in you
your tone of voice sometimes comes to me though
with a careful speech
but that's it
I've been mistaken so many times
I could be wrong
but you got me thinking
I don't have to dig my chest anymore
I've already got in me
so much of you

segunda-feira, 9 de julho de 2018

bi polar

pode entrar
se sentar
se entregar
quer dizer 
eu não sei 
venha aqui 
ou melhor
por ali 
fique à vontade
mas nem tanto
quase nada
me dá a mão
uma só
melhor não
pode partir 
me deixa aqui
pode ir




segunda-feira, 2 de julho de 2018

Cuidado

Enquanto você me explica a diferença entre peçonhenta e venenosa, eu me distraio reparando na quantidade de vezes que você ajeita os óculos no nariz. Você é cuidadoso na escolha das palavras e eu sinto que esse cuidado todo é de certa forma para mim. Esse é o tipo de coisa que faz eu me interessar por um homem. O cuidado. Penso que, se naqueles segundos de conversa com som alto e milhares de pessoas em volta, você teve um pequeno cuidado com a minha compreensão, ele nunca irá faltar. Enquanto você explica a diferença entre as cobras, reparo na sua paciência ao me fazer compreender as coisas do seu universo. Não sei dizer se entendi alguma coisa sobre as cobras e os seus venenos, mas eu gostei de você.

domingo, 1 de julho de 2018

quando vidro

quando vidro se quebra no chão 
e ninguém recolhe os cacos 
os dias os transformam em pó
misturado com outras sujeiras
quando vidro se quebra no chão
é melhor recolher logo os cacos
que é pra ninguém pisar e sangrar
vidro dói quando quebrado 
ou pontudo e afiado
quando vidro se quebra no chão 
não adianta consertar
não há nada que se possa fazer 
a não ser lamentar
coisas de vidro se quebram o tempo todo
pessoas pisam nos cacos e sangram os pés
vidro sempre machuca quando quebrado 
ou coração


quinta-feira, 28 de junho de 2018

Verso seu

Uma covinha 
que não era minha
te levou pra longe

Alguém te deu nó
beliscão
fiz dele pó
te dei a mão

se você consertar o chão
não mais envenenar 
o pulmão

nosso amor já venceu
e eu 
nem preciso de um verso seu

de novo

Não consigo evitar
o medo de cair
de novo
com a cara arrebentada
levantei da última vez
também perdi os dentes
as unhas, a vontade de sair
da cama
enfaixei meu peito
tomei remédio
dormi na uti
acordei ontem
aqui
com medo
muito medo
tanto medo
de cair
de novo



quinta-feira, 14 de junho de 2018

seu peito

seu aperto
no meu corpo
seu cheiro
de cigarro
suas poesias 
repetidas
seu repertório
de canções
suas piadas
praça é nossa
seu beijo 
de manhã
seu carinho
nunca raro
seu Clarita
no ouvido
suas pautas
de mendigo
sei que assim
não vou embora
e se me vou
quero voltar
sempre
pro seu peito








sábado, 26 de maio de 2018

no sofá

fizemos amor no seu sofá 
e o amor que eu sentia
ficou por lá
foi de repente sem querer
que eu deixei de te amar




quarta-feira, 23 de maio de 2018

Insônia em quatro tempos

I
mesmo quando a sua boca
tem gosto de cigarro
eu gosto do seu gosto
às quatro da manhã

II
é tanto amaciante
que as flores do campo
querem cheirar sua cama

III
sua tosse me acorda
no meio da noite
seu abraço me pede desculpas
sempre desculpo

IV
mesmo que eu não durma direito
é impossível sair
da armadilha proposta
pelos nossos corpos





sábado, 19 de maio de 2018

Tom

Não é que eu goste do que você escreve
mas eu gosto que escreva
não sei se gosto do seu gosto
musical
gosto é de te ver dançando
desajeitado
parecendo um menino frágil
Nem sei se gosto de você
a ponto de largar tudo que existe
pra deitar no seu colo
mas eu gosto de deitar no seu colo às vezes
ouvir algo que você escreveu
pensar em como ficaria melhor se tudo mudasse
eu acho que gosto mesmo
é do seu tom de voz
manso.

sábado, 12 de maio de 2018

Um conto

Ele acha que pipoca é comida
cogumelo também
mal mastiga pra engolir

ela come doce
com gosto de papel
de sobremesa

às seis da manhã ele acorda
sem nem ter dormido
às onze desperta
ela de ponta-cabeça

ele acha que pipoca é café da manhã
perdeu os óculos

ela sai de fininho
um livro de contos na bolsa
perdeu o sutiã

ele sem óculos
não pode ler as novas fábulas

ela na praça percebe
virou um conto do livro





quarta-feira, 9 de maio de 2018

tudo bem

Ela diz que está tudo bem
mas de hora em hora olha o relógio
esperando o momento que vai estar
tudo bem, e tudo bem
alguma hora ela vai parar
Ela sabe muito bem
que esperar não leva a nada
só andando que dá pra chegar




Fragmentos de um ex

Ele morou naquele apartamento por uns dois anos. Quando eu fui visitá-lo, o banheiro de visitas continuava com goteiras e o chão da sala ainda tinha uma pequena mancha. Achei estranho porque ele era aquele tipo de gente que deixa tudo impecável. Mas eu acho que ele ficou deprimido, que a vida o deprimiu. Ele era muito metódico, não conseguia mudar de emprego, não achava graça de muita coisa, não conseguia nenhuma namorada para deitar nas pernas no fim do dia. Eu não sei o que emperrou a vida dele, era um cara inteligente. Quando o conheci eu jurava que ele seria presidente de alguma coisa. Nunca achei que me casaria com ele, imaginava que ele fosse casar com uma mulher magra, alta e super culta que nem ele. Tipo a mulher do George Clooney. Só que eu acho que ele deprimia todas as mulheres que ficavam com ele. Acho isso porque ele quase conseguiu me deprimir. Ele dizia que eu deveria arrumar um emprego sério, que eu deveria parar de sair tanto, parar de fazer bananeira na parede da sala, que eu era quase uma criança. Ele não era romântico e nem doce. Nos poucos meses que ficamos juntos, ele me deu um livro chato de presente, tentou mudar meu gosto musical drasticamente e me disse que o meu filme preferido era uma compilação de tudo que havia de imbecil na cultura moderna. Eu acho que ele está deprimido até hoje. Só consigo imaginar aquela barba que ele foi deixando e aquele óculos de armação grossa na mesa da sala. Ele se recusava a ficar de óculos dentro de casa e ficava me perguntando onde estavam as coisas que estavam do lado dele.

domingo, 6 de maio de 2018

Poeta

você lê poesia
no pé da árvore
e eu no teu colo
quero te levar
dentro do meu bolso
nem sei mais o gosto
da solidão
me dá um pouco
da sua poesia
farei companhia
quando escuridão
me dá sua mão
te levo junto
nessa caminhada
não peço mais nada
entrego meu peito
me faço disposta
você leva jeito
de ser meu poeta







Telefone

O telefone não tocou
mais um dia
esperei suspirando
com choro nos olhos
cansados
sem saber o que eu fiz
dessa vez
o telefone em silêncio
e de novo eu quis
nunca ter visto
você

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Os nós

Os nós que nós damos
nos outros
se finos demais
escapam nas mãos
os fortes demais
é capaz
que desatem
não note esse nó
mal feito
fraco, sem jeito
é assim que aprendi
a dar nó
tenha dó do coitado
rejeitado
nunca foi apertado
será desatado
por falta de uso
recluso
o meu nó
me desculpe
se desfez.

pelo correio

Um dia chegou pelo correio
num envelope do Sedex
um coração desenhado
num pedaço de papel
a borda direita do coração
logo ficou azul borrada
cor de lágrima.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

adeus menino

menino distante
nada nunca
é o bastante
pra você voltar
menino indeciso
sua cama ocupada
é um aviso
para eu te deixar
menino sem voz
e sem volta
me deixa solta 
pra eu voar
menino ansioso
essa ansiedade 
não é saudade
da sua cidade?
adeus menino
fiorentino
seria divino
te encontrar
adeus que eu vou
sair de fininho
pra não me machucar

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Crise de ansiedade

Ninguém percebe
meu coração disparado
a tensão
dentro de mim
alguma dor me invade
um desespero
tão invisível quanto Deus
finjo estar presente, converso
olho no olho
só que estou em outro lugar
presa
nos meus pensamentos ruins
De repente
você fala de Deus
do universo, das coisas que não vemos
e tudo
fica
bem.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Peixes

Eu nem ligo
se você se parece tanto comigo
e há um mar no meio de nós
cheio de peixes
sei que você também não liga
somos tão parecidos
mas pode ser que um dia desses
um outro aquário apareça
e me encha de peixes
eu nem ligo
mas você se parece tanto comigo.

domingo, 15 de abril de 2018

nos sonhos

Eu não vou te esperar
você sabe
estarei por aqui
aquariana
no mundo da lua
nos sonhos
(nos meus e nos seus)
estarei por aqui
sendo eu
sem saber quem é você
se gosta de poesia
se pega na mão
se abraça
se tem a voz do Anderson Silva
nem mesmo se cortou o cabelo
você aí longe
talvez venha
sem saber quem sou eu
se sou barulhenta
se choro às vezes
se vou ou se fico
estarei por aqui
por ali
em todo lugar
esperando sem querer

domingo, 8 de abril de 2018

Remédio

Se existe remédio para tudo 

eu quero dois 

um para mim mesma

outro para quem penso que sou

um remédio que 

ligue

e outro que

desligue

contragosto

não gosto de rimar
acho bobo
fazer palavra combinar


coca-cola

descobri que coca-cola
dispara meu coração
acendi uma vela
anotei num papel
pedi para os santos
até promessa eu fiz
nada adianta
só coca-cola
dispara meu coração



quinta-feira, 5 de abril de 2018

Viagem de ida

Você disse que vem
e quero que venha
mas não chegue tão perto
que eu tenho medo
Venha, mas devagar
que é pra não assustar
o meu coração
Pode chegar, ocupar espaço
dizer o que quiser
e até ir embora
mas se for demorar
e a cabeça apoiar
no meu ombro
por favor não se vá
fique
me deixe sentir
as batidas de dentro
o calor do seu peito
segurar sua mão
fique
me deixe ter coragem
de não ser personagem
numa viagem de ida
uma vez na vida
fique




quarta-feira, 4 de abril de 2018

D(eu)s

Agora que eu finalmente
te achei
me ajuda então
a sair daqui
dividir com alguém
o que eu tiver
juro que divido
o que você me der
me dê uma mão
um sinal
qualquer coisa que me faça manter
a força de procurar
você em todo lugar

fundo

ninguém tem inveja 
do fundo do poço
raiva também não
nem olho gordo
não há interesse fingido
conversa pra boi dormir
ninguém aparece 
nem mesmo pra dizer um oi
do fundo do poço tudo parece tão alto
dá vontade de nem sair mais
dói o pescoço de olhar pro céu 
pra procurar o sol 
é tão silencioso
pacífico
e triste
e solitário
não tem sofá no fundo do poço 
janela, jardim ou comida
não há nada aqui
e eu não sei mais sair 



domingo, 1 de abril de 2018

entendo

sempre faço escolhas erradas
e acho que ninguém vai notar
mas saio perdendo
num jogo que nem começou

pelo menos eu tento
e entendo por que perco

a vida é assim.

trinta e um

Os anos estão passando
e eu não sei se essa sempre fui eu
desse jeito, com essas olheiras
se esse peso sempre esteve nas minhas costas
disfarçado de outra coisa
parece que de repente
todo machucado demora mais pra cicatrizar
às vezes nem cicatriza
fica ali, exposto
antes eu nem sentia
hoje eu tenho vontade de entrar num casulo
e só sair depois de pronta
dizem que o tempo nem existe
deve existir pros sentimentos
que mudam tanto
deixam nossa cara tão marcada
os anos estão passando e eu não estou nem perto
da borda da piscina.







Assim

É sempre assim:
nada acontece
e eu me pergunto
por que tudo me esquece
o telefone não toca
de jeito nenhum
a campainha não soa
lá fora
nada me chama
seu olhar nem por acaso
vem parar em mim
é sempre assim
e eu me pergunto
o que eu fiz assim
que se fizesse assado
você se prenderia em mim







quinta-feira, 29 de março de 2018

Eu já tive

Eu já tive tanta coisa
da última temporada
e mil amigos
que se importavam com isso

Eu já tive coisas que brilhavam
coisas que combinavam
coisas (à toa)

Não tenho mais
e nem sei mais
para quê deveria ter

O que eu tenho agora
dúvidas
certezas e clarezas

Tenho pensamentos bons
e pensamentos maus
e reflito sobre todos eles

Tenho raiva, medo
tristeza e ansiedade
mas agora
eu sei como chamá-los
e principalmente
como transformá-los
em paz.



segunda-feira, 26 de março de 2018

Um garoto

Eu gosto do seu entusiasmo
você parece um garoto
entusiasmado com uma bola
e tudo parece uma bola pra você
assim rindo de tanta coisa
me fazendo rir também
nesse sofá, cheio de espaço do meu lado
senta aqui mais perto
hoje eu quero ser a sua bola

na nossa rua

Ontem eu caminhei na nossa rua
como se nada estivesse acontecendo
como se eu não estivesse com outro homem
comprando cerveja no posto que era nosso
eu paguei com dinheiro, peguei o troco
foi tudo normal, como se eu não fosse uma atriz
que um dia largou tudo
como se meus sonhos não estivessem se realizando
nos bastidores da minha vida
ontem eu caminhei na nossa rua
ao lado de outro homem
ele não segurou na minha mão
porque talvez seja cedo
mas eu quis segurar a mão dele quando atravessei a rua
só para sentir que era mesmo verdade

ela pode te levar

Você me fez uma pessoa melhor
tudo que aprendi com você
tudo que aprendemos juntos
você me transformou
me melhorou
me colocou num lugar melhor
hoje eu te vejo com ela
sorrindo, em paz
você me transformou em tudo que eu sou
e gosto de ser
eu te vejo com ela
te agradeço em pensamento
quero tanto te ver feliz
eu tenho um pouco de você
você um pouco de mim
um dia eu quero te encontrar
te abraçar, te dizer
você me fez tão bem
ela pode te levar
eu só quero te ver feliz


segunda-feira, 19 de março de 2018

cais

levantei a âncora, pronta para partir
deixei tanta coisa
um pouco de mim
te vejo no cais acenando
tentando entender se chego ou se vou
não sei dizer como ou por quê
eu preciso ir
não vejo os seus olhos
mas sinto eles marejados
sou viajante, venho e fico
depois parto 
sozinha
triste 
cansada e sem nada
não sei dizer como ou por quê
adeus.

domingo, 18 de março de 2018

mesmo que não rime

me deixe escrever poesia
antes que o dia chegue
e me atropele
e me empurre pro abismo
me deixe escrever uma estrofe
preciso tirá-la de dentro
me empresta um guardanapo
um papel
um trapo
antes que o dia venha
e eu me esqueça
ou a poesia apodreça


quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Aula

Ela passou parte da tarde lendo os livros para entender o que tinha que dar na aula do dia seguinte. Não era difícil, mas ela era caprichosa e preparava tudo com antecedência. Depois que terminou, foi fazer as outras tarefas do dia e foi dormir tarde como sempre. No dia seguinte, acordou no horário, tomou o café preto revigorante e foi para a escola. Chegou uma hora antes como sempre fazia, preparou os livros, separou os cds e foi para a sala de aula. Quando chegou, seus oito alunos bagunçavam como sempre, mas ela conseguiu, com muito esforço, passar tudo que precisava para eles. Assim que terminou, percebeu que estava até meio ofegante de tanto entusiasmo que tinha ao explicar. Pediu para os alunos então dizerem o que tinham achado do conteúdo. O mais inteligente dos meninos foi o primeiro a levantar a mão. Quando ela perguntou o que ele tinha a dizer, ele falou: "professora, ontem eu vomitei todo o almoço."

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Vida de artista

Quero cortar os meus cabelos
arrancar meu ego de mim
descolar da minha alma
inventar outra pessoa
para ser alguma eu
faço tudo que vier
quero criar
com a força que tiver
me dou inteira
serei a outra que for
entro em tudo de cabeça
revivo um passado pesado
pra tirar algo de mim
brinco com a mente
aprendo a mentir
se você quer saber
essa vida de artista
é tudo que eu queria ter


Dois sóis lá fora

Se o segundo sol de fato chegasse
o seu telefone não tocaria
eu não te ligaria
Não perguntaria onde você está
nem me importaria
Eu estaria sentada
na varanda de casa
com a cabeça no seu ombro
com bambus fazendo sombra
a vida poderia arder
lá fora
eu nem ia saber
embora
com você
pode arder.

Um estranho

É estranho passar a vida com alguém
e depois nunca mais ver o outro?
alguém me perguntou.
Estranho é passar a vida com alguém
sem nunca ter visto o outro de fato.

Casa com jardim

Eu morava com você
numa casa com jardim
você se foi
tentou me levar
no som do avião
você me esqueceu
eu deixei-me ir
por aqui
meu bem, quer saber
minha casa sempre terá jardim.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Linda

Que menina linda, eles dizem
eles acham e olham e querem e pedem
linda, eu? leva um pouco,
quem sou eu para guardar tudo isso pra mim?
Que sorte a minha
nascer magra, simétrica, 
com o nariz no lugar
Que linda, eles dizem e levam um pouco
e mais um pouco
e a menina linda é tão sozinha
Que azar nascer assim
dando tanto trabalho
eles vem, brincam, tocam
depois vão embora
com metade de mim

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

poetinha

poetinha desligado 
lê poesia pra mim
tira soneca na rede
anda descalço
o que vai ter pra comer
no café da manhã
poetinha, lê pra mim
os seus escritos sagrados
vem sempre de dentro 
dá pra ver de fora
deixo te contar
que você adora ouvir
olha só essa árvore 
vamos morar nela
plantar mais vinte
poetinha me fala
de onde você veio
pra onde você vai
quero ir com você



terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Cálculo

Um café e um chá de hortelã.
Uma carta em cima da mesa?
Não. Um texto do teatro.
Um bolo pequeno no prato,
só pego um pedaço.
Te pergunto: então não?
Você pensa no sim,
mas calcula melhor que não.
Te conto do meu encontro.
Fiquei completa, inteira, achada.
Agora posso sair pra rua,
deixar a cerveja, ser eu mesma,
eu já posso me acalmar.
Te conto tão feliz do meu encontro
e agora que sei olhar pra dentro,
quero olhar para você.
Seu olhar marejado mostrou,
que você comovido ficou,
quis dizer algo que não saiu.
Tudo bem meu amor,
não precisa dizer.
Garçom, traz a conta,
ele calculou melhor que não.



Às vezes parece que eu te conheço

Às vezes parece que eu te conheço tão bem. Quando você me mostra as particularidades de cada planta no jardim, os fios das folhas que parecem cabelos, as folhas que parecem bordadas à mão. Me sinto curiosamente protegida do seu lado, mesmo que você não seja alto ou forte. Você me olha com um carinho protetor e me procura com o olhar como quem procura o lar. Às vezes você fica parado e eu fico imaginando se você está fazendo poesia na sua cabeça como eu. Deve estar. Quero te mostrar tanta coisa, sei que você vai saber do que eu estou falando. Você sempre sabe. Às vezes parece que eu te conheço há tanto tempo. O seu rosto me faz sorrir. Quando eu encosto no seu peito, me sinto em casa.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

guerra

Escapei ilesa
do primeiro beijo
no portão da casa
No segundo eu vacilei
te levei 
comigo
O resto eu nem sei
me apaixonei
me entreguei 
me rendi
mas não perdi:
você ainda
está aqui.


domingo, 7 de janeiro de 2018

A sua falta

A falta que me faz 
a sua falta
é leve
não chega a doer
mas deixa um vazio
uma fisgada
um sussurro 
eu aqui
sentindo falta
deixo ser 
não falo nada
mas quero mais

sábado, 6 de janeiro de 2018

Entre eu e a lua

Naquela noite
entre eu e a lua
havia você

Sentei do seu lado 
sem querer
mas querendo 
talvez

Acidentalmente
o meu pé encostou
no seu
(sem acidente
nenhum)

Naquela noite de lua cheia
sentei-me do seu lado
encostei meu pé no seu 
mas era tarde
demais.






As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...