terça-feira, 30 de novembro de 2010

não senti

Hoje eu não senti medo,
porque tive preguiça de ficar perdida
de novo.

Demorei para dormir

Demorei para dormir, porque eu pensei em Deus. Pensei em comida, no reveillon e eu pensei também no abismo e na morte. Pensei na solidão, mas eu pensei em nós dois, pensei nele também, eu pensei em religião. Eu pensei em notícias, em frases, em suco de limão. Cheguei a pensar no meu sonho antigo e a falta que ele me faz. Fiquei pensando em ir embora, como eu sempre penso, depois eu pensei em motivos para ficar. Pensei em mais um pouco de abismo, nos cachorros do vizinho, em línguas que eu queria aprender e em café. Eu odeio café, mas eu bebo mesmo assim. Pensei em fotos que eu tirei, e em fotos bonitas para tirar. Pensei na praia, nas minhas irmãs. Pensei em armários maiores, em roupas e na sua loja. Eu pensei nos seus traços e eu ia começar a pensar na chuva, mas eu caí no sono e passei a sonhar. Os meus sonhos eu nunca lembro.

Nem por acaso

Discutindo aquela bobagem,
eu quis fugir,
levando tudo,
e jogando tudo fora.
Pra me esquecer
que um dia fui sua
toda sua, por inteiro.
E eu sou de esquecer?
E eu sou sua toda hora
e não me esqueço,
nem por acaso.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Disse a princesinha

Saia do meu caminho, você está me impedindo de ser o que eu quero. Saia já e leve toda a sua arrogância. Leve os seus frascos de perfume, leve os seus pulsos firmes que ficavam na minha cintura, leve tudo embora. E saia, que eu preciso colher umas flores no meu jardim, disse a princesinha.

Músicas

Ela ficava tentando descobrir para quem eram as músicas, o que queriam dizer as letras. E ele cantava sobre qualquer coisa que o fizesse cantar, tantas vezes sem motivos.

Um dos fins

Ela sorriu só de pensar que ele sabia abraçar daquele jeito. Mas logo desfez o sorriso, porque lembrou que ele poderia ter dado um milhão daqueles e não deu. Ela ficou ali mais um pouco, mas estava atrasada e precisou ir embora. Ele passou então a invadir os seus sonhos, todos os dias.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Goodnight, boyfriend

Boa noite, namorado, que às vezes eu me sinto tão longe de você. Acho que você já dormiu. Fez bem, chove lá fora tão gostoso. Não tem problema que você não me ligou, eu já estou indo dormir mesmo, tudo bem. Às vezes a gente esquece do amor, não é mesmo? Boa noite, durma bem. Tenha sonhos gostosos, acorde bem tranquilo. Não tem problema que você desistiu de me levar para sair, eu já sabia que isso ia acontecer. Você fica cansado e desiste. Não faz mal. Eu até confesso que quando eu me sinto longe de você, tenho preguiça de te conhecer tudo de novo. Hoje eu teria que dizer "de onde você veio?" porque eu teria me esquecido. É o meu mecanismo de defesa. Eu esqueço de você toda vez que você esquece de mim. Boa noite namorado, que essa noite eu não consigo esquecer de você.

From me to you


Mind the mind

I'm about to lose
what I've already lost
-my troubled mind

Você diz que está aqui

Se você está aqui,
por que eu estou tão sozinha?
Se você está aqui,
onde está você?
Se você está mesmo aqui,
por que eu me sinto tão perdida?
Por que eu não consigo te encontrar?
Você está mesmo aqui?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Isso um dia vai acabar

Isso tudo um dia vai acabar, mas eu não quero saber. Não quero que alguém me diga e eu não quero perceber. Eu não quero receber um aviso, não quero receber um sinal. Não quero ver, não quero, não quero, não quero. Eu quero acordar um dia, e de repente ver que o que iria acabar já não acabou, e que não tem mais o que acabar.

Penso

De tanto pensar alguns homens ficaram loucos. Eu não sou um desses homens, porque eu não penso em física, em filosofia, em nada que preste. Eu penso em aqui, em nós dois, em poesia e falta dela, em coisas que poderiam ser bonitas se não fossem tão feias. Eu penso no abismo e no silêncio. E eu não fico louca. Eu me silencio e eu me afasto.

Quando acaba

Já não me assusta a falta de você,
eu me acostumo aos poucos.
Todo dia é um dia a menos,
e eu espero o dia ser inteiro,
sem parar para começar outro.
A sua falta só acaba,
quando eu deito no seu ombro
e vejo o tempo passar.
Me assusta ver que acaba,
mas quando acaba,
eu já estou preparada:
porque eu sei que o dia vai voltar.

Correndo na praia

Quando eu saí para correr, dei de cara com um monte de casais que corriam juntos. Pensei que eu não poderia correr junto com você, porque você correria muito mais rápido e ia ficar bem mais na minha frente. Então eu fiquei pensando se aqueles homens que corriam com as mulheres estavam correndo um pouco mais devagar para poder acompanhá-las, ou se eles não eram tão rápidos quanto você. Não cheguei a conclusão nenhuma, e até esqueci de pensar nisso porque eu fiquei cansada de correr. E quando eu voltei, olhei para você por algum tempo e fiquei pensando se você correria na minha frente sempre ou se algum dia você iria correr comigo. Se algum dia uma menina ficaria olhando para nós dois e pensando qual dos dois estaria correndo mais devagar para acompanhar o outro.

de aquecer o peito esquerdo

Fui dormir
esquecida
gripada
doendo tudo
quando fechei os olhos
veio a mãe
com o remédio
-não fui esquecida!
fui dormir
de novo
e veio o pai
com o remédio:
-eu não esqueci de você
e eu melhorei
todos os sintomas
só de aquecer o peito esquerdo.
Esquecida eu posso ser
no trabalho
na praia,
aqui não.

Capítulo vinte e três

A gente estava sentado um ao lado do outro. Eu preferia nem puxar assunto e aproveitar o sol, mas eu não ia ser mal-educada, e ele tinha falado alguma coisa.
-Desculpe, eu não ouvi.
-Eu falei que ela é mesmo linda, né?! Tem um jeito que combina com ele, e com a família dele.
Eu sabia que aquilo era uma provocação. Ele continuou elogiando a garota, dizendo o quanto ela tinha tudo que a família aprovava. E eu... Bem, eu era precisamente a antítese daquilo. Era nítido.
-É, ela é bem bonita.
E cortei o assunto. Acho que ele já tinha provado o seu ponto. Já haviam me dito para eu não escutá-lo, mas ele sempre fala as coisas com tanta propriedade, não tem como não acreditar. Além do quê, ele só estava comprovando uma dúvida que eu tinha latente. Eu, que queria tanto ficar, fui pegar as minhas coisas para irmos logo embora.

sábado, 6 de novembro de 2010

Po-de-me-do

Ah, mas se eu soubesse
que o medo é feito de pó...

Eu gosto de abrir os olhos

Eu fiquei horas e horas olhando a nossa foto, aquela que tiraram no dia que a gente se conheceu, durante a valsa. Eu era só sorrisos, e você os olhos brilhando. Eu tento sair dos clichês, mas não consigo. Eu amo ver você dormindo. Eu gosto de abrir os olhos às vezes para ver só mais uma vez que é você que eu estou beijando. Eu gosto de lembrar, no meio do meu trabalho, daquele dia na praia, que fazia frio e ventava muito, mas eu esqueci de sentir frio por causa das rosas no chão, e porque você trazia Vinícius no envelope. Não sei o que dizer... Você é poeta em todas as coisas que faz para mim, e eu não quero mais nada nesse mundo. É só isso.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Casulo

Onde é que está eu, essa eu que eu queria ser mas não sou? Onde ela está, que não aqui? Quero saber se ela chega algum dia, porque assim eu paro de esperar. Quero saber se ela vem, se vem acompanhada de outras eus, talvez feitas de sonhos. Essa matéria tão inútil que é o sonho. De nada me adianta. Eu não sou ainda, quanto mais um sonho. Eu não terminei de me formar. Larva no casulo. E pode ser que o casulo seja eu. Pode ser sim. E o casulo fica achando que um dia descasca em borboleta, mas que bobagem, se o casulo é o eu. Loucura, eu sei. É que tem dia que eu acordo casulo. Tem mês que eu acordo casulo. A borboleta é difícil, tão rara.

Do meu pessimista favorito

"O amor não resolve nada. O amor é uma coisa pessoal, e alimenta-se do respeito mútuo. Mas isto não transcende o colectivo. Levamos já dois mil anos dizendo-nos isso de amar-nos uns aos outros. E serviu de alguma coisa? Poderíamos mudá-lo por respeitar-nos uns aos outros, para ver se assim tem mais eficácia. Porque o amor não é suficiente."

-José Saramago.
O mundo é dos outros.

Sleep tight


Primeiro de novembro

Fiquei tão feliz com as flores, não sei se você sabe exatamente o quanto.
De repente me deparei com um sinal de que eu pertenço aqui. Um sinal de que alguém sente a minha presença, eu tenho a capacidade de fazer alguém feliz. "Ei, olha o que tem de lindo no mundo, nesse mundo, ao seu redor, bem aqui." E eu sorri. Você faz com que eu me sinta importante nesse lugar onde ninguém importa.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sobre ela (de novo)

A solidão é tão de dentro, mas tão de dentro, que talvez fique em um infinito qualquer, lá dentro. Eu gostaria de entender por que às vezes meu olhar fica desatento, minha fala meio sem sentido e eu perco a vontade. Eu sei que é a solidão que resolveu dar o ar da graça, mas eu fico sem entender, por que aparecer bem agora? Geralmente é a noite. Geralmente é quando eu estou sozinha, mas nem sempre. Eu posso até estar no meio de um abraço, ela não poupa momentos. O infinito que ela fica escondida deve ser muito feio e triste, para ela vir e estragar com a minha noite. Eu não tenho mais medo de você, pode vir. Eu ando tão sem poesia, pode vir, assim você me ajuda a escrever alguma coisa.

Conclusão do dia

Uma vez um homem louco foi gratuitamente grosseiro comigo. Ele gritou, falou besteiras no maior tom de voz que existe, e ficou me ofendendo. Um velho louco. Eu fiquei completamente calada. E no fundo eu sabia que ele estava apenas nervoso com qualquer coisa e descontou em mim. A minha intenção era esperar um tempo e falar com ele, explicar que as ofensas eram gratuitas e ele não precisava ter gritado daquele jeito, por mais certo que ele estivesse. Acontece que eu deixei para depois, deixei para depois e o depois nunca veio. Ele nunca mais falou comigo e até hoje me olha feio. Acho que eu devia ter falado com ele aquele dia, aquela hora. Esperar o depois é perigoso.

As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...