domingo, 30 de novembro de 2008

Em breve

Eu te encontrarei em breve, muito em breve. Quando a chuva parar de inundar o mundo e os meus olhos. Quando as ilhas pararem de flutuar sobre as águas do mundo e da minha mente. Quando eu souber escutar os pedidos de ajuda, quando eu lembrar o nome das pessoas que me ajudaram. Eu lhe avistarei de longe. Será como quando alguém que anda pelo deserto consegue enxergar a alguns metros um poço d'agua. Como quando uma criança se perde da família e depois reconhece os pés de sua mãe. Ou quando acaba a energia e se fica no escuro por muito tempo, a luz volta e as coisas parecem voltar ao seu rumo. Eu vou achar o meu rumo quando eu escutar o seu pedido de ajuda, e eu vou lembrar do seu nome.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

As mãos que eu soltei

Odeio despedidas, mais do que todo o mundo. Principalmente porque eu nunca consegui segurar a mão de alguém que eu nunca mais quis soltar. Todas as minhas despedidas são tristes, desesperadas e me ardem tanto, porque elas apenas me lembram das mãos que eu soltei.
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sábado, 22 de novembro de 2008

Ei,

Só porque você tem uma medalha de ouro no seu pescoço não significa que você venceu.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Curva

Não era de você que eu gostava, era da curva que o meu sorriso fazia quando eu ficava do seu lado. Acho que o meu sorriso ficou agora reto.

Secretamente

Eu quis, secretamente, que ele não viesse.
Quis ficar em silêncio só com os meus sons.
Não quis escutar mais nada além de mim,
E nem ter que espalhar as minhas palavras pelos ouvidos dele.
Mas ele veio.
Ele veio e trouxe milhares de barulhos, cheiros e caras, dessas que ele faz pra tentar me seduzir.
Eu tive de dividir os meus sons com os dele.
Os meus cheiros com os dele.
Os meus pés também.
E tive que fazer aquelas caras que eu faço quando o resto do mundo não me interessa mais.
A gente riu: eu dele e ele de mim.
E então eu quis, secretamente, que os pés dele nunca mais andassem para longe dos meus.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Arre-perder

O que eu faço com o arrependimento?
Jogo num rio, onde ele se dissolverá e sumirá para sempre?
Dou para você guardar de souvenir, junto com seus outros caprichos?
Guardo para mim, e deixo que ele me encolha?

O que eu faço com o arrependimento, diz?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Platão de perto

Eu queria que você ficasse me olhando de longe, enquanto eu estivesse distraída. Queria que você escrevesse poemas secretos para mim e eu nem imaginasse. Queria que você olhasse minhas fotos, procurasse os meus amigos e chamasse o meu nome sem eu saber. Eu queria que você me descobrisse antes, que eu fosse escolhida por você. E que assim, bem de repente, nossos olhares se encontrassem, depois de tanto se procurar em outros olhares.
Você é dessas pessoas que observam as outras de longe?

domingo, 16 de novembro de 2008

Os morangos da minha irmã


A minha irmã tem cheiro de morangos. Não sei como ela faz isso, mas mesmo no dia de maior calor, mesmo sem perfume, mesmo dormindo, o seu cheiro é de morangos. Eu nunca disse isso a ela, e acho que ela nem sabe, mas sempre que ela fica longe por um tempo, até os morangos ficam sem cheiro.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Tênis de corrida

Eu queria escrever alguma coisa, mas tenho medo que você leia e saia correndo. Eu tenho um medo constante de que as pessoas saiam correndo, mesmo porque as pessoas estão no direito de saírem correndo. Eu sempre saio correndo, bem mais do que o mundo todo. Acabei de terminar uma longa corrida, e não venci, porque não era dessas corridas que alguém na frente ganha. Não sei porquê exatamente, mas acho que eu não vou correr de você. Só que eu não tenho certeza ainda. Então eu deixo o meu tênis ali, só para garantir.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Pequena constatação

Eu poderia criar um enorme dicionário das palavras que eu digo mas ninguém pode entender. E mesmo nessa incomunicação que tenho com o mundo, eu bem que consigo fazer poesia.

sábado, 8 de novembro de 2008

Um poeta sem alma

Manuel Bandeira recomendou-me, em um de seus poemas libertinários, que largasse a minha alma, se eu quisesse sentir a felicidade de amar. "Porque os corpos se entendem, mas as almas não". Sim, eu largarei minha alma. Deixarei-a vagando por aí, infeliz, solitária, perdida.

Largarei-a para que ela se encontre em um nirvana profundo do paraíso das almas. Largarei-a em uma esquina, sem nenhum radar. Deixarei-a em paz, na paz que as almas encontram quando encontram a si mesmas.

Eu deixarei minha alma passear pelo mundo, pelos cantos, pelas casas e pontes, para que eu encontre a felicidade de amar.

Mas peço a ela, a alma que é, que não me abandone. Que vagueie por muito tempo, que se incomunique com outras almas, que se encontre em espelhos do mundo. Mas que volte para o meu corpo. Porque há muito tempo ele já sente a falta desta alma.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Nem cinco minutos

Sou uma pessoa muito demorada. Demoro para me vestir, para comer, para tomar decisões. Resolvi adiantar meu relógio em cinco minutos, só para ver se me acelerava.

Hoje eu finalmente notei que eu estava envelhecendo cinco minutos. Eu estava vivendo cinco minutos na frente do tempo. Eu estava adiantando a minha vida. Pior: Adiantando a minha morte!

Atrasei cinco minutos o meu relógio. Prefiro chegar sempre atrasada do que viver cinco minutos a menos.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

sábado, 1 de novembro de 2008

Presa

É meu passo que prende.
É meu olho que sente.
É você que vem, é o que sei.
Eu sinto o seu cheiro, de gente que chega.
Se a gente vai, é pra lá que vamos.
Você quer ficar, nos amarramos.
Mas eu não vou, sou eu que fico.
Porque é o meu passo
-o que me prende.

A sua boca não pode dizer adeus

Se for pra me dizer que vai
Não diz
Só se for pra ficar
É que eu vou ouvir.

As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...