terça-feira, 31 de julho de 2012

desenlacemos as mãos

Fernando Pessoa foi ficando para trás.
As mãos ficaram muito distantes,
e já não se alcançavam mais.
Cansar-se já não era problema:
ele escolheu calar-se.

Gustav Klimt

Yes, I think you chose the right painting. Yes, I really like the painter and yes, you have good taste. I like the fact that we've spent so much time during lunch talking about art. I also think that you are special. I do like you. Thank you. Goodbye.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Desperdiçados

Ela encostou a cabeça no peito dele. Ouviu o seu coração quase parando. Logo percebeu que os corações deles já não batiam igualmente, mas continuou feliz mesmo assim: o dela batia pelos dois. Eles passaram a tarde ali, olhando os ponteiros do relógio, serenos, em paz. Sem dúvidas, ela estava feliz. De repente ele falou, como quem pergunta as horas: "detesto domingos assim, desperdiçados".

Cabelos

Ela cortou os cabelos pensando que alguma coisa mudaria.
Quando viu as mechas caindo, aos poucos, no chão do salão
-- chorou.
Deram-lhe água, café, tiraram-lhe o espelho.
Nada adiantou.
Ela chorava porque percebeu que, naquele dia ou nos próximos,
nada mudaria.

Minhas mãos

Minhas mãos voltaram a se parecer com mãos de uma menina de cinco anos (como se roer as unhas fosse resolver alguma coisa).
If you say you miss me, how come it seems like you just don't care?

domingo, 22 de julho de 2012

você fez isso porque já estava querendo ir embora?

entre-aberta


Fechei tudo:
-- portas, malas, olhos
aos poucos, silenciosamente.
As coisas assim, fechadas,
parece que ficam mais bonitas.
Mas o tempo não passa.
Resolvi, então, abrir tudo de novo:
-- os olhos, a janela, o peito.
O ruído foi alto,
quase me ensurdeceu.
As coisas assim, abertas,
são um perigo
(de pegar resfriado,
de entrar água, de acabar de vez).
Que jeito, meu Deus?
Não há meio-termo.

Dói tanto em mim
Esse horizonte inteiro
Sem nenhum pedacinho de ti.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Enquanto isso na Alemanha Oriental

Ele falava sem parar
e ela só queria escutar
-- tanta coisa interessante.
Risadas, cerveja e pedidos de casamento.
Mas na Alemanha Oriental é tudo meio proibido.
É tudo meio em segredo, meio escondido:
não podiam entrelaçar as pernas.
Mas, bem no centro da Alemanha Oriental,
as pernas, distraídas, entrelaçaram-se.

terça-feira, 17 de julho de 2012

The art of losing

Te falei de um poema da Elisabeth Bishop, e aqui está. É bem possível que você nem se lembre de quando eu falei dele, mas eu falei sim. Ele é bastante conhecido. A tradução talvez não seja tão linda, mas preferi deixar em português.

A arte de perder

A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério. 

Tradução de Paulo Henriques Britto

Cannot

Não consigo.
Eu simplesmente não consigo.
Não não não.
Me chame de covarde,
mas não diga que eu não tentei.

domingo, 15 de julho de 2012

Meu amor,

A bateria do meu computador vai acabar em instantes, mas eu preciso te dizer uma coisa muito importante, é que eu

Partes

Partir em partes, partir, estar partida, dar partida, estar perdida, perder-se, perder a partida, perder em partes, várias partes, partes demais, tarde demais. Adeus.

Restos

Algo comeu a poesia de dentro de mim,
a minha leveza e a minha doçura (o que eu tinha dela).
Algo comeu o que eu tinha dentro de mim.
Não restou muito,
e eu quero o que eu tinha de volta.
Está muito difícil só com restos:
estou toda feita de restos,
nem me reconheço mais.
Eu sou paciente e estou só esperando para ver como é que eu vou sair dessa.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Antes de ir embora


Eu só queria você sempre leve.
Igual àquele dia, quando você dormiu que nem um bebê
-- por causa de mim.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...