domingo, 28 de fevereiro de 2010

Mortais

Quais são as coisas que matam?
O amor? A solidão? A tristeza?
Nada disso mata, disse a minha mãe.
Quem sou eu para duvidar?
O que mata de verdade, disse o meu pai,
é deixar-se morrer cada vez que deparamos
o amor, a solidão, a tristeza.

As irmãs


Uma irmã foi para outro continente,
Outra irmã foi para um mundo paralelo,
E a terceira ficou no seu quarto.
Uma irmã encontrou um novo deus,
A outra irmã também,
A terceira encontrou um sanduíche na geladeira.
Uma irmã não quer mais voltar,
A outra quer sair,
A terceira só quer que elas voltem.


Sobre como você deveria ter lido aquele livro

Você deveria ter lido aquele livro da Clarice que eu te dei. Você ia me entender melhor. E talvez até se entender melhor. Você era o Ulisses e eu era a Lóri, mas sem o final bonito.

Eu tive bastante


Dizia o Drummond que de tudo fica um pouco. O que ficou dessa vez? De mim em ti, de ti em mim? Ficou um pouco de tristeza talvez? Um pouco de desânimo, um pouco de cansaço? Ficou em mim um pouco de vontade, por não ter tido o bastante. Queria saber o que ficou em você, nos seus olhos azuis. No seu peito tão cheio de coisas escondidas de mim. No meu peito quase vazio ficou um espaço maior. De tudo fica um pouco, e de pouco eu tive bastante.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Suspiros na chuva

Enquanto chove eu sei que um monte de gente morre, eu sei que ruas alagam, casas são destruídas, pais demoram para voltar para suas casas e mais outras complicações tantas. Acontece que eu só consigo imaginar a sua alegria com tantas poças d'água para passar com o carro. A água passa por lugares que nunca seriam molhados antes, eu fico imaginando ela entrando pelos cantos do carro, você me dizia.

Não sei

Tem também alguns dias que eu passo o dia todo pedindo desculpas. Sem perceber. Me pedem licença, desculpa. Me falam até logo, desculpa. Me dizem adeus, obrigada, por favor e eu sempre digo perdão. Como um personagem da Clarice, estou quase pedindo perdão por ocupar o meu espaço no mundo. Esse mundo que não é meu. Deve ser de outra pessoa, não sei.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

mais, menos etc.

Depois de acreditar que eu poderia valer um milhão
Seu olhar barato não mais me engana
Não aceito menos
do que tudo que você tiver

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Vigésimo segundo andar

Tenho medo de chegar, e ser tudo escuro demais.
De fazer aquele eco que as salas vazias fazem.
De subir rápido demais as escadas, e ficar sem fôlego para dizer oi.
Tenho medo, muito medo de não haver nenhum vaso de flor.
É possível que o sofá seja alto demais e eu não consiga me sentar.
É possível também que eu pise forte demais no chão e os vizinhos de baixo reclamem.
E se o elevador parar? E se a janela não abrir?
E se eu estiver com medo de não saber mais te amar?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

E fica por isso mesmo

Você é tão secreto e tão misterioso que toda vez que os seus olhos sorriem, eu imagino se eles estarão sorrindo para mim... Mas eu não sei.

acho, apenas.

Não consegui desenvolver a idéia direito, mas acho que há quatro muros em volta de mim. Não sei de que material, não sei de onde vieram, por que estão ali. Como disse, não consegui desenvolver a idéia direito.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Eu acabo sempre

Eu não sei fazer poesia
escrevo sempre do mesmo
Eu não sei pra onde vou
e acabo sempre aqui
Qual a graça de ser eu
se não há outra opção?
Sou sempre eu
com outra cor de cabelo.
Às vezes falta alguém
algures
pra me dizer qualquer coisa.
Eu não sei fazer poesia
e escrevo mesmo assim
eu não sei recomeçar
e acabo sempre no fim.

Tu me olhavas

Passei os dias distraída, tirando fotos de tudo em volta.
Quando voltei para revelar as fotos,
vi que tu me olhavas.
Tu me olhavas em todas as fotos que eu, distraída, tirei.
Eu procurava alguém que me olhasse daquele jeito,
mas eu estava distraída.
Alguém me olhavas, e era tu.
Mesmo que eu não tenha percebido a tempo,
mesmo que o tempo já tenha passado,
mesmo que o teu olhar já não seja mais aquele,
tu me olhavas.

Quarta-feira de muitas cinzas

Tem um troço no meu peito que quando eu chego em casa começa a gritar. Ele pede para que eu cuide dele. Pede sossego, pede calma e pede um pouco de solidão. Tem um troço que fica me perguntando para onde eu quero ir, para onde estou indo, o que eu quero fazer. Me deixa! Me larga! Mas ele não larga. Ele às vezes me incomoda tanto, quero vomitar para fora. Mas eu não sei como. Então eu escuto, em silêncio. Eu escuto e espero. Até respeito (acho que ele exige o meu respeito). Esse troço, eu acho que é o resto de mim que sempre sobra.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Quatro no dia oito

1- O que eu mais quero na vida
(ou talvez só neste momento agora)
é escrever poemas
poemas e mais poemas
para alguém
em papeizinhos coloridos
e mais nada,
mais nada.

2- Às vezes (um monte delas)
eu digo não alto (ou baixo mesmo)
e tudo que eu quero dizer é sim, um milhão de vezes
até os meus dentes caírem da boca.

3- Eu dou risada alto
só para esconder o meu medo
mas todo mundo sabe disso.

4- hapiness can be written through a very, very sad song.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

I cannot say it

But my heart does not know what happened.
So he sends me these beautiful thoughts,
he tells me to remember you at all times,
he tells me to think of you at the beach,
at the mardi gras, during the solitude of the nights.
And it is not my fault, because he does not know what happened.
I try to tell him, but he does not listen.
Perhaps you should tell him. I can not.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Presos no peito

Não vou dizer o que eu sinto.
Você não vai saber de minha boca.
O que eu sinto é muito peito para pouco coração,
é muita veia para pouco sangue,
é talvez vazio demais.
O que eu sinto não vou dizer,
é muito mais do que eu posso aguentar,
-e talvez eu nem aguente.
O que eu sinto não é por você,
e é muito maior que tudo isso.
Não posso dizer, você não entenderia.
Talvez corresse de medo
Talvez ficasse para me salvar.
Mas eu acabaria te salvando afinal,
não ia dar certo.
Não posso falar o que sinto,
seria necessária muita voz, e eu mal consigo suspirar.
Aliás, o que eu sinto é isso:
tenho todos os suspiros do mundo
presos no peito.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Primeiro de fevereiro de mil novecentos e oitenta e sete


Esse dia eu nasci, e desde então tenho esperado que tudo seja uma surpresa. Talvez porque tudo seja mesmo uma surpresa. Bem, às vezes não. Às vezes acontece exatamente o que eu esperava, mesmo que eu esperasse apenas um silêncio, ou um vazio qualquer.

As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...