segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Última tangerina

Ele entrou na sala falando sobre ideias, planos, comunismo. Nem prestei atenção. Ele descascava uma tangerina e comia os gomos bem devagar, fazendo a sala toda ficar com aquele cheiro forte de laranja. Não queria escutá-lo, mas o cheiro me obrigava a pelo menos olhar para ele. Eu estava pensando em outras coisas, tinha outros planos. Eu concordei com a última frase, só para não dar abertura para uma discussão. Fiquei ali por um tempo, parada, pensando em como fazê-lo sair da minha vida, se eu não queria nem mais ouvi-lo. Então eu saí da sala e tive um desejo inexplicável de comer tangerina.

Maybe you are the anchor to my sinking ship.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Feet

Do you think my feet are too dry? I think my feet are dry, and I hate it. Would you love me less because I have very dry feet?

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Doar; doer

Dôo minhas roupas, todas. Aquela saia que acabei de ganhar, a blusinha do brechó, os vestidos. Dôo os sapatos (não vou mais caminhar), dôo minhas jóias, até mesmo as que eu ganhei. As minhas bolsas, esmaltes, brincos. Eu quero tirar tudo daqui. Que levem tudo. A cama? Podem levar. Levem as minhas canetas, pode ser que eu já nem escreva mais. O telefone? Por favor, levem agora, tirem daqui. Não quero mais essa janela. Essa vista, esses olhos. Não quero mais essa preguiça e nem essa vontade de continuar. Eu não quero mais nada. Estou doando meu presente e o meu futuro (o passado, infelizmente, não dá). Estou doando tudo o que eu ia escrever. Pode anotar. Os meus cabelos, dedos, pés. O meu coração, até. Levem tudo, tudo, tudo. Não deixem nada aqui. Disfarcem, não deixem que eu veja, se restar algum pedaço de mim.


in my heart

There he was, but then there he wasn't anymore.

Dorme saudade

Dorme. Dorme que eu engano a saudade. Dorme que eu faço ela passar. Pode ir dormir. A gente vai enganando, enganando até que ela engana a gente, e puff. Some com tudo. Nada de saudade, de mim, de você ou de sono. Dorme, meu bem.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

00:40

Eu e a minha velha vontade de conseguir pôr pra fora.
Mas eu não consigo, eu não consigo.
O resto tudo fica pra dentro:
e na verdade o resto é tudo.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ctrl + Z

Atalhos: pressione Ctrl com: B = Fugir, I = Viajar, P = Dormir por 6 meses, S = Ser salva

e para desfazer qualquer ação, o velho e simples Ctrl + Z.

Filmes de amor

Ele chamava Jamie. Era um moreno bonitão. Conforme o desenrolar do filme ele ia se mostrando um cara sensível, generoso, atencioso, enfim, um verdadeiro galã. Todas as mulheres que assistiam, babavam. Eu tive que fingir que babava também, mas na verdade eu não me impressionei. Claro que eu o achei um homem bonito. Mas eu só pensava em você. No quanto eu te acho mil vezes mais bonito, mil vezes mais doce, mais gracinha, mais tudo que você é. Eu tive que fingir que babava, porque eu nunca ia contar para aquele bando de mulheres que o que eu tenho é muito melhor. Fiquei lá quietinha, pensando que eu não preciso mais de filmes de amor.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sobre o alívio (e o livro)

Pensar em você me traz um certo alívio. Mesmo que a gente nunca mais tenha se visto, mesmo que faça tanto tempo, mesmo que mesmo. Eu gosto de pensar que eu já fui sua inspiração para qualquer coisa que você nunca fez. Aquele livro que você me deu, não entendi nada. Você me deu esperando que pudéssemos discutir alguma coisa, mas eu não pude. Ele não me convenceu. Eu esqueci de te falar isso. E sobre o alívio, eu não sei explicar. Você rompeu alguma coisa na minha cabeça e eu acho que eu não vou esquecer nem em um milhão de anos. Não é como levar um vestido para o tintureiro. Não existe tintureiro para esse tipo de mancha.

Um ensaio sobre algo que eu nada sei


Desistir não é nada fácil. É preciso muita força, muita vontade e muita coragem para desistir. Lutar é clichê, todo mundo luta, todos os dias. Quando desistem é que chamam atenção. Para desistir é preciso perder tudo de dentro, o estágio de vazio deve ser o mais elevado. O irresistível desistir: eu não tenho coragem.

Uma surpresa gostosa

Despedidas fazem parte do percurso natural da vida. Todo grande recomeço vem depois de uma despedida dolorosa.

-Boa noite, Maria Clara

is it?

Is this a blessing in a disguise?

Geladeira

O jeito foi deixar a geladeira aberta. Ela ficou apitando freneticamente e eu fiquei me sentindo menos sozinha.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Dois mil e quanto

E na hora de preencher a data, travei. Dia nove de fevereiro de dois mil e quanto mesmo? Em que ano estamos? O ano já virou? Mas que ano era, que ano vai ser? Ah, Deus do céu, pra que tantos anos? Que tal apagar todos os anos, apagar tudo? Que tal esquecer que amanhã é carnaval, que depois do carnaval tem um monte de dias cinzas? Deus do céu, por que a gente não pode preencher as datas erradas e esquecer as datas erradas? Que ano é hoje? Se eu perguntar vão me achar completamente perdida, mas quem nunca simplesmente esqueceu em que ano estava? Quem nunca ficou completamente perdida?

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Dentro de mim

E quando eu não quero ser eu?
Certas vezes tenho vergonha - eu poderia ter sido outra coisa.
Tem vezes e mais vezes que eu estou sendo enganada por mim.
E como saber quem sou eu?
Eu estou desgastada
Eu estou reprimida
Eu não estou eu
Me ajuda, me tira de mim, que eu estou quase me engolindo.

guarda-chuva

Não se preocupe: eu guardei um pouco de chuva, para quando ficar quente demais.

As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...