segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Última tangerina

Ele entrou na sala falando sobre ideias, planos, comunismo. Nem prestei atenção. Ele descascava uma tangerina e comia os gomos bem devagar, fazendo a sala toda ficar com aquele cheiro forte de laranja. Não queria escutá-lo, mas o cheiro me obrigava a pelo menos olhar para ele. Eu estava pensando em outras coisas, tinha outros planos. Eu concordei com a última frase, só para não dar abertura para uma discussão. Fiquei ali por um tempo, parada, pensando em como fazê-lo sair da minha vida, se eu não queria nem mais ouvi-lo. Então eu saí da sala e tive um desejo inexplicável de comer tangerina.

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