domingo, 30 de janeiro de 2011

O vácuo dos vasos

Essa história é sobre uma mulher que colecionava vasos de flor. Todos bastante caros, importados dos lugares mais distantes e exóticos. Vasos raros, muitos deles. Ela cuidava com muito carinho: limpava-os, admirava-os e mostrava-os com muito orgulho para as visitas. Em todas as datas comemorativas os amigos a presenteavam com um vaso fino. Ela adorava todos. Um certo dia, um homem lhe deu uma flor. Ela não soube o que fazer com algo tão efêmero, tão frágil. Ficou confusa, perdida. Deixou-a em cima da mesa e foi atender os outros convidados, foi cuidar da sua festa. No dia seguinte, a flor ainda estava sobre a mesa. Ela olhou, olhou, e a pegou na mão: a flor estava morta. Essa é a história de uma mulher que possuia os vasos mais lindos do mundo, mas não sabia o que fazer com uma flor.

Trinta de janeiro de dois mil e onze

Tem dias que arrancar uma folha do calendário dói como se eu estivesse arrancando um dedo.

E mais nada


too much space

Will I ever feel comfortable at your house?

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Madrugada de dor

Ela precisava ficar a sós para chorar. A dor não era tão forte, mas era constante e não a deixava pensar em outra coisa. Ela mal podia esperar para que virasse dia e ela pudesse comprar os remédios. Eram quatro da manhã, e os pais dela estavam longe. Eles, que estavam sempre ali para cuidar dela qual fosse a dor. Dessa vez não. Era ela, alguns estranhos e ele. Mas quem era ele senão outro estranho? Quem era ele senão uma escolha dela, uma escolha ainda no começo? Ela levantou e foi ao banheiro para ficar sozinha. As lágrimas até traziam um certo alívio. Nem cinco minutos passaram e ele apareceu. Porque ela não dormia, ele não dormia também. Ela quis que ele a deixasse sozinha. Ela não queria que ninguém a visse daquele jeito: frágil e triste. Mas ele não desistiu, ficou ali, fez carinho na sua cabeça, pediu que ela voltasse para a cama, falou e falou e acabou a convencendo de assistir um filme. Durante os três primeiros minutos do filme ela adormeceu, abraçada nele. A dor deu uma trégua, o dia amanheceu, ela comprou os remédios e fim. Só que aquela dor, aquela madrugada de dor, ficou marcada nos dias mais meigos de sua vida. Ele indo com toda vontade ao pronto-socorro as três da manhã, ele contando sobre como uma prancha o fez ficar com dois pontos na cabeça, ele lutando contra o sono para não a deixar sozinha nem um minuto, ele não a deixando sozinha nem por um minuto, ele a ensinando bem sutilmente como é que funciona o amor...



Para ele, que fez a madrugada triste ser tão doce...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Coração gelado


Não mais, não tanto

Eu fico pensando como eu era antes de te conhecer. Não sei bem, mas eu era um pouco mais distraída. Não sabia a diferença, a real diferença, entre o verde e o azul. Agora que eu sei, gasto horas do meu dia reparando no que é verde e no que é azul. Eu gostava de achar que era tudo mais ou menos igual. Eu gostava de misturar tudo, de me confundir. Mas não. Agora que o azul é azul, não tem mais volta. Eu aprendi, não dá mais para confundir. Tinha algo de pueril, de quem acha tudo bonito. Não mais, não tanto.

Uma despedida

Fiquei parada, esperando ele falar alguma coisa. Nada. Por um tempão. Ele ficou sentado do meu lado, olhando para os próprios pés. Eu ainda o achava lindo, eu ainda gostava do abraço dele, mas eu não achava mais graça. A minha vontade era de não ter que dizer nada, de sair correndo. Quantos minutos de agonia. Minhas unhas já quase não existiam. Ele então pegou na minha mão. Eu sei, você deve estar agonizando para me dizer alguma coisa, ele disse. Olhou para mim, e continuou: você seria a mulher da minha vida, se eu fosse o homem da sua. Você me faria muito feliz, se eu pudesse te fazer feliz também. Não precisa dizer nada. Eu vou embora. Ele pegou a chave do carro no bolso, atravessou a pracinha, e foi caminhando. Eu acho que ele chorava, mas eu não sei, ele não virou para trás.

and she said: I still don't know what love is

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O foco da fuga

Estive sempre fugindo
mas eu perdi um pouco o foco da fuga
continuo fugindo
mas acho que fujo de ontem
de outros dias
de coisas que não são mais
Não fujo mais daquelas coisas
são outras as fugas
são fugas de brincadeira
são fugas pra ficar.

Chegando

Você me perdoa por estar conseguindo disfarçar a saudade tão bem, por estar quase enganando a mim mesma, por estar chegando a algum lugar nenhum?

Dear heart

You are no different than anybody else. Stop being so spoiled. Stop bothering me while I'm working. Stop bothering me all the time, I need peace. I don't need you.

Ato falho

(...) hoje, quando você fazia parte da minha vida.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Ilhada

Eu estou ilhada
nessa chuva de são paulo
que nem chegou na minha casa
e eu só vi nos jornais
Eu estou ilhada em mim
porque lá fora é tão difícil
e eu não consigo sair

domingo, 9 de janeiro de 2011

Here we are

You got the best of the world. And though it is not your fault, you have been breathing a better air than everybody else. It didn't make you any different, and that is something I really love about you. Sometimes it is like you excuse yourself for being lucky. I thought you weren't going to mean anything, I was wrong. I was so happily wrong. You turned my thoughts into your home.

Ele disse

Eu perdi muitas horas da minha vida lendo os seus escritos, ele disse. Eu suspirei e fiquei um pouco aliviada. Um alívio de quem não perdeu tempo escrevendo cartas de amor ao infinito.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Ontem

Quem era você antes, que eu nem me lembro mais? Hoje o que eu vejo é um pote de ouro, mas sem o ouro. No fim de um arco-íris cinza. Aliás, eu não te vejo mais. Cinzas. Esse seu olhar, para mim é só um par de olhos em minha direção. Eu não lembro mais qual era a sua graça, pode parar de sorrir.

A resposta da pousada

Vocês receberam o depósito? E o meu perfume, vocês conseguiram enviar? Grata.
A sua estadia foi paga e o seu perfume está a caminho. Você o esqueceu no espelho do banheiro, provavelmente queria deixar para passá-lo nos últimos instantes, mas eles foram tão curtos que você não conseguiu, e o seu cheiro ficou para trás.

Eu não penso

Ouço agora aquela música que você coloca no repeat dez vezes. Lembro da sua risada explodindo aos pouquinhos, da maneira como a sua mão se apoia em qualquer coisa. Pode ser em mim? Vou abrir a janela porque está calor, e acho que você deve estar morrendo de frio. Na verdade eu nem me importo, o seu frio é cheio de cobertores grossos e de repente eu acho que você nunca deve ter passado frio. Mesmo quando chovia e os vidros ficavam embassados, e todo mundo fazia desenhos com o dedo, você nem imaginava o que é sentir frio. A música acabou e eu não tenho poesia para você, essa que é a verdade. Você deve estar jantando, tomando um vinho. Eu tenho gosto de chiclete na boca, já comi uns quinze. Os chicletes são os meus cigarros. Vou dormir, acho que você pode estar pensando em mim agora. Eu não, eu não penso em você agora.

Brandy Alexander

This is my drink and it really needs me in this silent night.

The work we need


o mesmo

Nós estamos aqui agora. Eu aqui e você em qualquer outro lugar. E não importa, estamos aqui, nesse céu estrelado. Para você deve estar cheio de luz do sol, mas é o mesmo infinito.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Disfarce

Não é que eu tente não sentir a sua falta, é que ela está no meu caminho e eu preciso seguir. Você entende? Prefiro que você fique mais um tempo onde está, para que eu vá aprendendo a esquecer essa parte amputada que ninguém vê.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Mãe cujos filhos são peixes

Iemanjá, eu não pude jogar uma flor no seu mar, você me desculpa? Eu pulei as sete ondas, mas foi uma correria danada e eu não consegui levar uma florzinha para você. Eu sei que eu tenho muito a agradecer, muito mais do que pedir. E este ano eu só peço um pouquinho mais de mar. O resto, que continue assim mesmo.

da minha janela

A chuva não é a mesma. O mar nunca vai ser como aquele. A minha voz já mudou, tudo está diferente. E dói, e como dói termos fechado aquela janela cheia de barcos. Eu estou aqui agora, e tudo está tão diferente. Como uma chuva tão igual a de sempre, pode ter perdido tanto a graça? Agora ela é tão triste, parece chorar o que antes cantava.

As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...