sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O meu primeiro amor

Eu tinha um ursinho de pelúcia que era um porco. Eu devia ter uns 9, 10 anos. Ele vestia um suspensório e uma camisa social. Era pequeno, o porquinho. Eu dormia abraçada nele, acordava e o levava para onde eu fosse. Ele me dava paz, me protegia. Uma vez fui com a minha família para uma dessas viagens, devia ser a Disney, e eu levei meu companheiro porquinho. Ele não tinha nome, porque eu nunca precisava chamá-lo: ele não me abandonava. Fomos juntos em todos os brinquedos do parque, e na hora de voltar para São Paulo, eu o esqueci no banheiro do aeroporto. Ele me abandonou. Senti falta de tê-lo dado um nome, porque eu não pude chamá-lo. Me desesperei tanto, que pensei que minha vida não tinha mais sentido. Eu não queria voltar para casa, porque eu esperava que ele fosse voltar para mim. Mas ele não voltou. Ele nunca foi encontrado (ou se foi, foi por outra garotinha) e eu tive que voltar. Demorei muito tempo para superar a perda do porquinho de suspensório. Meu pai me deu outros bichos para tentar amenizar, tipo um tatuzinho cinza que usava lenço vermelho, mas nada substituiu o meu porquinho. Domingo eu faço aniversário. Completo 22 anos. E eu queria que o meu porquinho estivesse aqui para comemorar o meu aniversário comigo.
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

domingo, 25 de janeiro de 2009

Você me deixou

Estou acostumada com respostas doces, porque você sempre me dava uma resposta doce. Talvez eu não tenha o deixado nada. Nem mais forte, nem mais sábio, mais esperto ou mais alegre. Talvez eu tenha o deixado mais cauteloso, ou talvez um pouco mais triste. Não sei qual mensagem ou qual papel eu tive na sua vida, mas eu sei que eu estou acostumada com respostas doces. Uma das coisas que você me deixou foi isso: Eu só aceito respostas doces, se não for doce eu não quero. Você me deixou mais doce.
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Para G.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Se

Se eu fosse um pouco menos do que sou, eu seria pouco demais? Ainda assim eu caberia nos seus pensamentos?

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sábado, 17 de janeiro de 2009

Post-it na pele

Estávamos falando sobre tatuagens. Fiquei com vontade de fazer uma também. Uma que dissesse alguma coisa para mim, que todos os dias eu lesse uma mensagem no meu corpo, como um lembrete. Um post-it na pele. Talvez uma poesia, por que não?

Mas foi quando eu estava no meu carro, ouvindo uma das minhas músicas preferidas, que eu descobri o que vou tatuar.

Agora eu só preciso pensar como é que vou tatuar a minha música preferida na pele, porque ela é feita só de som. Enquanto eu penso, vou ficar sem tatuagem mesmo, eu não quero um lembrete que não me lembre de nada.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A interminável lista de coisas que eu queria saber


  1. Queria saber se Deus concorda que à noite os homens durmam, e de manhã os homens trabalhem. Se ele fez a noite ser escura só para que ninguém enxergasse nada e fosse dormir, ou se ele quis que os homens fizessem um esforço e vivessem a noite, mas ninguém o obedeceu.
  2. Queria saber se é verdade que todo mundo tem um dom. O dom de cantar, de contar, de correr, de nadar, de ser líder (como Gandhi) ou de transmitir paz (como Dalai Lama). Se for verdade mesmo, eu gostaria de saber qual o meu dom.
  3. Queria saber quem é Graça e se ela trabalha mesmo com os filhos. Porque todos os dias eu passo perto de um restaurante chique de São Paulo e vejo um monte de cestas, dessas de feira, com muitas frutas frescas e um rótulo escrito: "Graça & Filhos". A Graça é quem recolhe as frutas e os filhos a ajudam a colocá-las nas cestas e vendê-las?
  4. Queria saber se você, às vezes, pensa em mim.

Minha lista é interminável e eu não me atrevo a terminá-la.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Feliz ano novo

-Que nada! Eu penso. O único ano novo que existe é dentro da gente, e este ainda nem começou a se formar dentro de mim.
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domingo, 11 de janeiro de 2009

Enquanto espero que você venha [ou que a vida passe]

Penteio o meu cabelo. Escuto música. Enjoo da música. Passeio pelas novas fotos. Decoro os novos rostos. Escuto os pernilongos passearem pelo meu quarto. Olho o relógio (de novo). Apaixono. Desapaixono. Leio algumas páginas do meu novo livro. Fico sem entender as notícias que não acompanho. Sinto a terra girando. Pergunto a Deus se ele existe mesmo. Ele me ignora. Pergunto ao meu pai se ele está em casa. Ele grita lá do quarto que sim. (E nele eu posso acreditar). Resolvo mudar de nome. Alice. Penso na morte. (A vida é muito tola por aqui). Escrevo livros na minha cabeça. Apago algumas frases. Meu coração dispára. Não, não era o seu perfume. Meu coração demora, mas volta ao ritmo normal. Vou a procura de um motivo. Não encontro. Volto a me chamar Clara. Fecho os olhos e durmo. Amanhã é um outro dia, e a vida passou mais um pouquinho.
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Intocável

Às vezes eu desgosto tanto dos meus pensamentos, mas tanto. Nem o alto volume do rádio consegue abafá-los. Nem o desvio do meu olhar, nem outros pensamentos que tento pensar emcima daqueles. O que eu faço com esses pensamentos, se eles estão dentro de mim e tudo que é de dentro é intocável?

Tudo que é de dentro é intocável?
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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Esse meu sentimento de você

Eu sei que mal dá para me ver. Sei que já não é possível mais tocar nem em meus pés. Eu sei que não dei adeus a ninguém e que, de repente, subi. Sei, sei, eu sei que devia ter tocado uma última vez a minha valsinha e contado uma última piada, mas não deu. Eu tive que subir. Uma hora eu cansei de tantas mãos acenando adeus e outras cumprimentando. Eu cansei de tentar decorar olhos que eu não veria nunca mais. Eu cansei de tudo isso e encontrei um só olhar que não vai dizer adeus. Esse olhar agora só vai olhar para mim, e eu trouxe ele para cá comigo.

Sabe, já estava na hora de eu conhecer as nuvens.


segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Disfarce do tempo

Às vezes o tempo parece que está de gracinha com a gente: ele brinca de não passar.

Tudo bem que na grande maioria das vezes ele passa depressa demais, mas às vezes ele para e deixa a gente com cara de relógio. Desses relógios bem antigos que rangem para virar os minutos.

O tempo é um tremendo de um sacana. Ele é todo sabichão e sempre faz tudo na hora certa, mas ele se esconde em momentos errados. Confude todo mundo de propósito.

A gente sempre espera que o tempo conserte tudo, como se ele fosse um santo milagroso. E é por isso mesmo que ele é um sacana: ele é um santo milagroso disfarçado de malandro.
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domingo, 4 de janeiro de 2009

Heartless

Sempre que eu viajo no reveillon eu volto com um coração a menos. Quero saber quantos corações ainda me restam.
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As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...