quarta-feira, 27 de agosto de 2008

(des)inspiração

Quando eu sinto vontade de escrever, eu estou quase explodindo de vontade. E não há cadernos, livros, papéis ou blogs que me segurem. Eu vou escrevendo desesperadamente em qualquer canto do mundo. Do meu mundo. Escrevo até na parede se me for preciso. Minha mãe grita lá da escada: "Menina que loucura é essa? Se isso não sair da parede vou fazer você apagar com a boca!" Mas quando essa vontade não vem, não há beijos, saudades, dores ou alegrias no mundo que me façam escrever. E parece até que a terra gira um pouco mais rápido, para ver se me inspira.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

"O Homem faz planos e Deus dá risada"

Minha primeira despedida

Eu ficava lá, sem precisar me preocupar com respiração, comida, palavras. Às vezes eu ouvia sua voz bem distante cantando uma música suave para mim. Eu dormia bem. Sonhava com coisas que eu não conhecia. Sonhava uns sonhos sem cor ou formas. Era tudo tão tranquilo, em paz. Um oceano sem começo nem fim. A única coisa que importava é que eu cabia ali, o espaço era suficiente para eu e você. Mas eu comecei a não caber mais... Eu comecei a precisar ir embora dali, forçadamente. Eu não queria partir. Eu não queria ouvir maldades, sentir tristeza, solidão, desconforto. Mas eu tive que partir. Foi então que eu senti o meu primeiro trauma: quando eu tive que sair do útero da minha mãe.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Era tudo tão frágil

Eu tenho tanto medo da fragilidade. Ela consegue transformar um objeto inteirinho em milhares e milhares de pedaços em um segundo. Conheço uma menina que em algumas horas se transformou em milhares e milhares de pedacinhos, por causa da fragilidade das coisas. Era ela e ele. Agora são milhares dela.

domingo, 17 de agosto de 2008

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O passo que falta

Ele espera que ela se mova,
Ela espera que ele fale.
Ele não diz, ela não sai do lugar.
Eles se amam assim: mudos e parados.
Mas nenhum dos dois sabe...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Linguiças, tremas e unhas roídas



Hoje eu não vou postar nada, mas só porque hoje nada me inspirou. Não acho legal esse negócio de ficar enchendo lingüiça só para atualizar o blog.

E por falar em lingüiça, a trema, que antes tinha nesta palavra, não terá mais em 2009. A trema será extinta. Essa geração da internet ajudou a mudar bastante a acentuação da língua portuguesa, e eu particularmente achei isso muito bom. Já é tudo muito complicado na nossa língua e a trema não serve para nada.

Acho que podemos até marcar uma festa de despedida para ela, a trema. Afinal, é uma viagem só de ida ao céu das coisas extintas. Será que existe um céu de coisas exintas? Acho importante saber disso porque aqueles adesivos brilhantes que eu colecionava quando era pequena agora devem estar nesse céu. Junto com algumas barbies e algumas manias minhas, como roer unhas, que eu consegui parar no ano passado.

sábado, 9 de agosto de 2008

Aquela noite

Naquela noite, não sei quantas pipas ficaram presas em fios elétricos. Não sei quantos cães morderam seus donos, não sei quantos amantes tiveram que se separar. Eu sei que a lua estava cheia. Eu sei que você me olhava com admiração e eu te olhava com desejo. Não sei quantos frascos de perfume quebraram exalando cheiros por toda parte. Eu não sei se haviam aviões caindo em algum lugar do mundo. Mas eu sei que a primeira piada que eu te contei foi a do cavalo, e eu sei que foi a primeira vez que você fingiu achar graça de alguma coisa minha. Eu não sei de tanta coisa, que não caberia nem mesmo naquele seu enorme tênis de handball. Mas eu sei de algumas, que cabem aqui neste poema. Sei que ali começava alguma coisa que pode acabar amanhã, mas será eterna. Que os seus olhinhos continuam pequeninos, mas agora você tem cara de homem. Que o seu cheiro mudou muito, mas é o mesmo daquela noite. Que o sabor daquele pirulito era para ser morango, mas acabou virando o gosto da sua boca. As coisas que eu não sei, vou passar o resto da minha vida sem saber. Mas as coisas que eu sei, nem em uma vida inteira eu esqueceria.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Submersão

Às vezes eu penso se daqui a milhares e milhares de anos a casa onde eu moro ficará submersa. Se haverá resquícios das minhas coisas, se algum peixe sentirá o meu cheiro debaixo de tanta água. Adoraria ver a minha longa coleção de postais flutuando pelas profundezas. A tinta de todas as coisas desbotando. Tudo subindo, procurando a superfície. Seria fácil se perder entre todas as coisas submersas do mundo. Se ontem mesmo eu já me perdi...

domingo, 3 de agosto de 2008

Sala de espera

Não desista, a não ser que Deus dê um dos seus sinais invisíveis de que está na hora de partir. E então, dê espaço para que a outra parte da sua história se inicie. Mas espere, porque valerá cada segundo. Os números são infinitos para que haja chances para toda pessoa que entra no mundo. Você entrou no mundo há pouco tempo, seu número ainda está sendo formado. Durma de olhos abertos porque sua vez pode chegar a qualquer momento... E não se esqueça que a espera é apenas temporária, não deixe que ela se torne permanente. Enquando você está na sala de espera, vá olhar a paisagem colorida da janela. Logo você será o autor de toda paisagem colorida.

Já sinto sua falta

sábado, 2 de agosto de 2008

Aquela nossa antiga parceria

Há muitos e muitos anos eu trocava versos com um poeta. Mas eram proibidos. Hoje não são mais, mas só porque são antigos.


Aceito flores, quantas quiseres me dar.
Aceito olhares, aceito palavras de amor.
Aceito teu riso sem graça, teus verdes olhos a fitar-me.
Aceito mensagens escondidas por trás dos poemas.
Aceito um pensamento no fim da tarde vermelha.
Aceito pensar em ti, sem ter que lembrar do resto.
Aceito o mistério de não saber o que fazes do teu dia.
Aceito o que não me for provocar dor,
O que não me for dar medo ou angústia.
Aceita tu, que em ti eu penso, mas nada posso oferecer-te
Senão o meu pensamento no fim da tarde...

Aceita também os versos de improviso.
Aceita os poetas, meus irmãos de rimas.
Aceita as pessoas, a pessoa, o Pessoa,
Aceita, que eu te aceito por inteira.

Aceita os descuidos da minha verdade,
Aceita as vontades do "fim da tarde vermelha",
Aceita as dúvidas, como aceitarias as certezas,
Aceita, que eu te aceito de qualquer maneira.

Aceita as interdições do destino,
Aceita as culpas pelo que não ocorreu e ocorreria
Se aceitasses meus convites
De malícia, de galhofa, de poesia.

Aceita os beijos nunca correspondidos,
Aceita os desejos reprimidos,
Aceita os ensejos desperdiçados,
Aceita, aceita, quieta, docemente conformada.

Quanto a mim, não precisas pedir que te aceite as negativas.
Sou poeta, vivo no mundo da fantasia.
Apenas sonho com palavras enternecidas
Que, entre flores e olhares e medos,
Serão sonhos? Serão realiade? Serão poesia?

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O deserto dos meus olhos

A cor dos meus olhos é castanho-claro. Ao olhar para eles, é essa cor que se vê. Eu, no entanto, quando olho para meus próprios olhos no espelho vejo a mesma cor da areia do deserto. Desses desertos bem vazios mesmo. Sem oásis, sem caravanas de árabes, sem rastros de algum jipe que se perdeu, sem lagartos ou escorpiões (talvez um pequeno escorpião-filhote se esconda por debaixo de alguns grãos). Não me desanima abrigar essa cor tão solitária nos meus olhos. Foi num desses desertos bem vazios que o piloto de um avião encontrou o Pequeno Príncipe.

As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...