quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

que ele me roubou

O que fazer com esse coração estancado
dele nada mais sai e não adianta forçar
nada mais entra tampouco
vida nenhuma, nem um comando
ele cumpre a função calado
frouxo, resignado
esse coração fajuto de nada mais serve
manda trocar porque esse eu não quero
peçam a troca imediata
troquem por outro órgão
pode ser musical, desses de igreja barroca
não, não, troquem por um pianinho
bem simples, não precisa de muitas notas
troco por qualquer coisa na verdade
ou não, joga fora logo
quem há de querer esse miolo de pão amanhecido
ele já foi bom um dia, acredite
ele já me convenceu que era um coração
eu acreditei, até fiz ele funcionar
acho que ele não gostou da ideia
joga num lixo que não recicle
se reciclar ele pode virar um imã de geladeira
ou um ratinho de dar corda
eu prefiro ver meu coração despedaçado, enterrado
eu prefiro que ele exploda, que ele se afogue
uma morte morrida ao coração
uma morte doída, que faça sair sangue
nem que seja um sangue preto, seco
nem que seja o sangue que ele me roubou a vida toda.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

mundo a, mundo b

De repente comecei a pertencer a um mundo que não é o meu.
De repente me dei conta e quis voltar ao meu mundo.
De repente eu já não sabia mais o caminho de volta,
de repente eu já não sabia mais qual era o meu mundo.

O que fazer com aquela vida

Quando ela se sentia linda eles ainda não se conheciam. Depois, quando foram apresentados, tudo já estava diferente. Ela já não sabia mais o que queria direito. Já não tinha muito rumo. Foi tudo muito sem querer e quando ela se deu conta, já estava deitada na grama, olhando para o céu e pensando no quanto estava perdida. Por algum tempo ela chegou a achar que ele estava a guiando para algum lugar, mas depois essa sensação passou e ela acordava todos os dias sem saber o que fazer com aquela vida. Ele nunca a entendeu. Alguma coisa nela o deixava encantado, alguma coisa inexplicável. Ela ficava lisonjeada, gostava do carinho. Mas se perdia mais e mais. Ela nunca mais se lembrou como era a sensação de se sentir linda.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Coincidência?

This photograph is my proof de que nada nessa vida é por acaso. Look, see for yourself: I love you.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Fake Plastic Life

She bought it at the highway. There were two people selling it on the corner of the highway. "How much" she asked, and they said it was so cheap she could take it for free, so she did. Don't ever ask her if she regrets having bought that life, because she died a hundred times trying to get rid of it.

Abyss

O abismo era pequeno demais para aguentar o peso da vida.
Eu só percebi o fim quando eu acordei no meio da noite e vi que você estava ali, mas era como se não estivesse.

domingo, 2 de dezembro de 2012


corte na barriga

Eu cortei a barriga, não sei onde e nem quando, mas me deu uma tristeza imensa em pensar que esse machucado vai cicatrizar antes de você me perguntar onde foi que eu cortei. 

fim de festa

Quando o amor deles era recém-nascido existia um sofrimento tão doce. Um sofrimento quase infantil. Eles não sabiam o quanto deviam se falar durante a semana e às vezes ficavam mudos, os dois. Inseguros e receosos. Um não sabia do outro, não sabia se era hora de ligar para o outro, se o outro iria se incomodar. Ah, que coisa, é normal esse negócio? É normal que eu sofra assim? É normal sofrer de silêncio? O momento do encontro era mais do que uma alegria, um prazer, era também um alívio. Um doce alívio. Tantos suspiros, surpresas, suspeitas. O amor foi amadurecendo bem devagar. E ele resolveu pôr pra fora o desespero da distância. Ou foi ela que o fez? Algum dos dois não aguentou mais. Os dois não aguentaram. Eles concordaram que aquele silêncio era doloroso, que devia acabar, que eles não precisavam sofrer com tanto amor de sobra. Foi difícil no começo e às vezes a distância voltava. Voltava o silêncio, voltava o vazio. E um sofria de um lado, o outro sofria do outro. Foi aos poucos que o vazio foi embora. E então, certo sábado à tarde ela acordou na cama dela, a pequena cama dela, e olhou o dia. Um sol lindo, um dia todo à toa, todo azul. Mas o amor não vinha, o amor não veio, o amor havia ido. Ela ficou sentada na beirada da cama, sentindo aquele sofrimento já não tão doce do início do amor. O mesmo sofrimento tão infantil, da falta de intimidade, da falta de dia-a-dia, de começo de amor. Ela sentiu o vazio e um medo. Um medo daquele ser um vazio de fim de festa.

Frase de filme

A gente mal se conhecia. Não que a gente se conheça tão bem hoje em dia, mas nos conhecemos melhor. Naquela noite a gente mal se conhecia. Ele encontrou uma posição confortável e quando o filme entrou na parte em que o protagonista decide largar tudo e ir embora, ele dormiu. Era um filme lindo. Eu fiquei me questionando se ele estava achando o filme chato, qual era o problema, por que ele dormia. Só muito mais tarde eu descobri que ele aprendeu a dormir em filmes desde criança e não importava se fosse bom ou ruim, filmes eram feitos para dormir - na cabeça dele. O garoto do filme, desapegado do mundo, levou quase nada e foi explorar um pedaço do mundo, o pedaço que ele conseguiu alcançar. Foi uma viagem maravilhosa. E quando eu comecei a aprender alguma coisa, quando eu comecei a sentir uma vontade imensa de chorar abraçada nele, não pude. Ele dormia profundo. É no final do filme que a frase aparece: Happiness in only real when shared. Chorei sozinha.

As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...