domingo, 29 de junho de 2008

sábado, 28 de junho de 2008

A minha Esfinge

Eu sou mesmo um poço profundo, talvez até sem fundo. Um livro escrito todo em códigos indecifráveis. Sou uma bússula sem ponteiros, um segredo incontado. Quando eu mostro alguns dos meus sorrisos, quando digo algumas das minhas palavras, você pensa que me decifra. Você pensa que sabe de mim, que me enxerga, que me entende. Ilusão. O meu código ainda não foi inventado. Ninguém pode sabê-lo, ele ainda nem existe. Sinto muito pelo seu vão esforço. Sinto muito pelo vão esforço de todos os olhos curiosos tentando entrar no meu aquário. Eu mesma criei brailes, poemas, desenhos, gráficos, canções, para caber na linguagem do mundo. Não adianta: sou devorada pela minha Esfinge sempre que tento desvendar o meu peito.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Desabafo

De repente, me deu vontade de vomitar todo o meu peito.

Cartas para minha mãe - #1

Se eu te contasse que eu colei na prova, caí no chão, cantei alto, bebi demais, chorei, traí meu namorado, errei no tom, no passo, no jeito, que eu fiz os piores amigos, dei vexame, gritei, esqueci os bons-modos, falei palavrão e nem pedi licença para passar, se eu te contasse tudo isso, você conseguiria não dizer absolutamente nada e simplesmente me abraçar?

quinta-feira, 19 de junho de 2008

bem simples

eu gosto de você porque você é cheio de defeitinhos. pior: você me mostra todos eles, sem pudor algum. gosto de você porque você não finge nada, não disfarça nada, não esconde. se você quer ir embora, levanta e vai. se quer ficar pra sempre, espera até ser arrastado. eu gosto de você porque você fala a mesma língua que eu. a língua dos que estão aprendendo a falar. também porque você não regula abraços, não regula beijinhos (tenho que empurrá-lo), não regula palavras doces e não regula gasolina para ir ao meu encontro. eu gosto porque quando me perguntam de você, eu não sei por onde começar, tudo parece tão vago, foi tão assim do nada. e isso eu adoro: você surgiu do zero. aprendi a gostar dos seus tantos erros, aprendi a entender os seus gestos, aprendi a querer o seu braço no meu braço. você teve que me ensinar. assim como eu também sinto que eu te ensinei a me achar linda. e os dias vão passando e as borboletas no meu estômago não passam. acho que elas querem morar aqui. sabe, eu gosto de você porque você não liga para Letras Maiúsculas e nem detalhes minúsculos. é bem simples assim: eu gosto de você, e você gosta de mim.


Para G.

Dimensão

Se fosse meu amor um pouquinho menor,
Ainda assim não caberia em palavras.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Horóscopo do dia

Hoje você vai se levantar e, por causa do modo como as estrelas dançaram esta noite, sua mãe vai te dar um abraço apertado. Mais tarde, devido a um movimento brusco que Júpter fez para mais próximo de Marte, quem te ama vai amar-lhe ainda mais. Plutão continuou no mesmo lugar e por causa disso, hoje será um bom dia para você no trabalho. Você deverá receber declarações de amor e todas elas serão recíprocas. Seus amigos se lembrarão de você com saudades porque o planeta que rege o seu signo, Urano, anda orbitando como de costume. Pode ser que hoje, porém, você se sinta vazia. Porque nenhuma estrela da galáxia fez algum efeito na distância de você com o seu interior, afinal o seu interior é cheio de outras estrelas, e estas são impossíveis de prever.

domingo, 15 de junho de 2008

Porquê eu penso

Eu sei que não posso e não devo pensar em você, mas quando começo a controlar meus pensamentos, eles já foram pensados.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Ausente

Eu estou sentada nesta cadeira de palha, mas eu nem sinto a palha. Estou em outro lugar na verdade, numa cadeira de plástico na praia. Chego a sentir areia entre meus pés descalços, mesmo estando de tênis azuis. Não estou aqui, estou em outro lugar, qualquer outro lugar.

terça-feira, 10 de junho de 2008

E talvez as almas não seriam tão perdidas

Ao longo do dia as perguntas, que a gente acorda se perguntando, vão ficando mais tortas. Mesmo porque as respostas retas começam a me cansar e o que eu quero mesmo são torturas.
Uma vez o Pequeno Príncipe disse que a gente gosta do pôr-do-sol quando estamos tristes. Eu sempre gostei do pôr-do-sol. Mesmo no ápice da felicidade. Se eu pudesse virar minha cadeira e vê-lo de novo eu o faria. Mas é preciso viver o dia inteiro para poder vê-lo novamente. A alegria e a tristeza andam tão próximas, como o amor e o ódio. E a gente a esconde no armário, mas ela também é linda, a tristeza. E o pôr-do-sol não é só triste. Ele leva todo o dia com ele. Leva a luz do sol, leva as pessoas embora, leva adeuses e perdões.
Eu bem que queria entender por que são tão tortas as coisas. Drummond diz que pode ser por conta do Deus canhoto, que escreveu tudo com a mão esquerda. Pode ser mesmo. Acontece que seriam muitas mãos canhotas para tanto desencontro da vida. Olhando para a noite é que eu penso na quantidade de corpos andando sem alma pelas ruas e trombando na gente. É muita gente, são muitas almas perdidas, são muitos corpos perdidos. Acho que as mãos de Deus nada têm a ver com as perdas.
Deve ser a falta de poesia. Porque escrever poesia não é necessariamente sentir. Eu, às vezes, (tantas) escrevo mas não sinto. A poesia no viver me escapa. Meu pai mesmo me diz que eu sou duas pessoas diferentes: a que escreve e a que vive. E talvez, se todo mundo acordasse e fosse dormir com poesia de verdade, o mundo seria feito só de pôr-do-sol sem tristeza triste (mas com um pouco de tortura).

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O sol e o vagalume

-E o que faz um vagalume quando não está escuro? Ele ainda assim acende sua luzinha?O que ele ilumina se há o sol tão grande e potente para iluminar tudo?

-Tudo não. Só o vagalume consegue iluminar as coisas pequenas que mal se enxerga. O sol ilumina as grandes, o vagalume ilumina as pequeninas, que tantas vezes são as mais importantes.

domingo, 8 de junho de 2008

Já posso fechar o meu livro

Eu brincava de decorar poesias do Vinícius. Só para sabê-las e poder usá-las quando fosse preciso. Era um livro bem grosso de onde eu as tirava, eram muitas e para mim eram preciosas. Usei muitas frases de seus poemas, impressionei muita gente com minhas decoradas. Não lembro mais. Não consigo mais recitar um poema sequer sem ler. Hoje eu sei o valor das frases inventadas na hora. Quando você disse as suas besteirinhas sem sentido percebi que Vinícius me preenchia porque me faltava um autor em carne e osso. Agora eu tenho o meu autor. Você mal consegue escrever certo em uma mensagem de celular, mas para mim não há poeta no mundo que fale as coisas mais lindas como você diz.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Enquanto eu cuidava

Aprendi assim, meio sem querer, que é possível se doar por completo sem que nenhuma parte de si fique faltando. A gente dá tudo o que pode, e ainda sim sai no lucro. Deve ser aquela velha história de cuidar do jardim... Eu andava cuidando, mas sem esperar as borboletas. Eis que é isso mesmo: cuidar do jardim sem esperar as borboletas. Elas chegam de mansinho, quase imperceptíveis... Nada de caçá-las, elas sabem exatamente onde pousar.

As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...