sexta-feira, 28 de julho de 2017

O Homem e Os Cachorros

(Baseado na pintura do Diógenes de Jean-León Gerome)

Aconteceu tão rápido e de forma tão misteriosa que eu nunca consegui entender direito aquele dia. Nós estávamos fugindo de um homem gordo que nos perseguia porque a gente tinha roubado carne do açougue dele. Corríamos apavorados, quase sem fôlego. De repente, eu tropecei numa estranha lamparina reluzente que estava no chão e machuquei a minha pata traseira. Todos os meus amigos viram o que aconteceu e pararam para latir. O homem gordo já tinha ficado quilômetros para trás. Com a pata sangrando, eu dei um coice na lamparina e reparei que ela se movia por conta própria. Dentro dela saiu uma faísca luminosa que em segundos entrou pela minha boca e me tomou por inteiro. Senti um fogo tomando conta de mim e uma sensação estranha misturada com enjôo, estafa e vontade de vomitar. Foi então que meu corpo começou a se transformar. Comecei a ficar cada vez maior, sem pelos, com pele de gente, braços, pernas. Meus amigos ficaram boquiabertos, sem conseguir nem uivar. Foi assim que no meio da praça, sem que nenhum ser humano notasse, eu, um pulguento cão vira-lata, me vi transformado num homem musculoso e barbudo. Sem nunca conseguir me adaptar a dieta humana e sentindo sempre vontade de cheirar o traseiro dos outros, passei o resto da vida tentando consertar a lamparina e desfazer aquele maldito feitiço.

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eu ajunto a coragem

eu só quero o que desejo porque  há o seu abraço o seu tempero o seu tempo, temperamento  há tempos eu percebo  minha vida, meu sossego  bem...