quinta-feira, 16 de abril de 2015

Derretendo a parafina

Não está fazendo sol hoje. O dia está meio seco e eu não estou ansiosa para ir trabalhar. Gostaria que o meu trabalho fosse esse: observar o céu pra ver se o sol vem. Hoje era esse emprego que eu gostaria de ter. Nem precisaria fazer as unhas porque seria só eu e o céu e ninguém para ver se eu tenho unhas. Eu ficaria criando poemas nos intervalos entre uma nuvem e outra e de repente poderia até ler um ou outro livro. De repente, eu até me daria conta de que o mês de agosto passou tão rápido... mas espera, já estamos na metade de setembro. Se eu continuar distraída assim, daqui a pouco já estamos no próximo ano. Será que prestando mais atenção na vida ela passa mais devagar? Ou talvez tomando remédios desses que trazem juventude? Afinal, nosso único sinal de que o tempo está passando é ver a gente e as pessoas à nossa volta envelhecendo. Não haveria outro modo de comprovar que os anos realmente passam se não fossem os sinais em nós. A gente veria aquela vela grande e gorda derretendo a parafina, a gente veria os nossos bichinhos de estimação morrendo, veria as pessoas mudando de casa, sentiria o cheiro de coisas apodrecendo, veria árvores mudando de cor, mas a gente se acostumaria tanto que nem perceberia que aqueles eram sinais dos anos passando. Aí poderíamos demorar mais anos - muitos anos - para ter filhos, para casar, para ficar rico, para viajar pelo mundo (e não deixar nenhum país de fora). Poderíamos não tomar decisões todos os dias, às vezes a gente deixava a decisão pro fim do mês. A gente poderia perder eventos imperdíveis porque eles se repetiriam em algum momento da eternidade que seria a vida. A primeira coisa que eu iria fazer era ser feliz. Feliz porque eu teria tempo - toda a eternidade - para correr atrás dos meus sonhos, para rever as minhas escolhas, para comprar um gatinho, para tocar piano, para aprender francês, para morar no Japão. Eu não me sentiria o tempo todo atrasada para o tempo da vida.

2 comentários:

Cotia disse...

A felicidade independe do tempo,

lugar ,idade,sol, chuva, luar, estrelas,

sorvetes, cachorros quentes,

livros, casas, trabalho,

rejuvenescimento, envelhecimento,

até mesmo do ser amado ao lado.

A felicidade é uma chama de luz independente,

que está acesa ou não,

dentro de nós.

Anônimo disse...

A vida é só AQUI E AGORA

As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...