quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Reis e as musas

Sabe, uma vez eu ouvi a Lídia dizer coisas ao telefone. Eu sabia que ela falava com Ricardo. Eu tentei pegar na extensão do telefone para ouvir o que ele estava dizendo do outro lado da linha, mas não consegui. Só pude ouvi-la falar com a voz trêmula, aquela voz que a Lídia tinha quando chorava. Eu te amo, mas eu não quero mais chorar. Eu não quero mais me arrepender, e nem ficar doendo. Eu te amo também, e você poderia ser o pai do meu filho como você queria, mas não vai dar. Amar você dói o tempo todo. O nosso filho iria nascer de um corpo doído, um amor doído - ele iria nascer chorando e eu iria recebê-lo chorando também. Certo dia ele pararia de chorar, quando as cólicas passassem e os órgãos dele estivessem todos formados, mas eu não. Eu iria continuar chorando. O nosso amor nasceu errado, ele não vai parar de doer. Nunca mais ouvi Lídia falar de Ricardo, e Ricardo parou de escrever para ela. Mas todos nós sabemos que ela foi tola. Errou feio. Se despediu dele para parar de chorar e continuou chorando até o fim. Ricardo eu já não sei bem, dizem que ele conheceu outra mulher. Uma tal de Natália.

Um comentário:

Anônimo disse...

O mal é que Ricardos sempre conhecem Natálias.

uma mordida na perna um veneno de lagarta no dedo uma conta negativa no banco uma franja que eu não gosto um bloqueio criativo um medo que n...