sábado, 13 de outubro de 2012

Luis Fernando Mãos de Suor

Eu o conheci em uma formatura, em um casamento, em alguma cerimônia na qual os homens usam terno e gravata. Acho que era formatura mesmo, normalmente o primeiro palpite é o correto. Ele estava elegante, como a maioria das pessoas, mas me chamou a atenção porque o cabelo estava completamente bagunçado como se dissesse "estou arrumado só porque sou obrigado a estar", era o modo dele de se rebelar contra a formalidade da festa. Eu sabia que aquele não era o mundo dele. Conversamos por quase duas horas sem saber o nome do outro. Ele estudava psicologia na universidade estadual, morava no bairro nobre da zona sul e tinha 6 anos a mais do que eu. Luis Fernando. Meu telefone eu anotei na mão dele. E tinha certeza que ia virar um rabisco suado. Nada disso. Três dias depois ele me ligou. Me levou a um bar com samba de fundo musical e ficou falando de política. Eu era uma adolescente quase completamente alienada. Não sei porque ele insistiu no assunto depois que eu falei tanta besteira. Acho que ele só queria me impressionar. E impressionava, porque embora ele tivesse dito um monte de besteiras também, eu fiquei impressionada, porque qualquer coisa me parecia extremamente intelectual. Aquele dia nós nos beijamos. Eu não bebi, porque eu não bebia, e ele ficou intimidado com uma mulher (menina na verdade) não beber e pediu uma Sprite. O beijo dele era bom, não lembro bem, mas eu senti medo dele - não pela primeira vez. Eu tinha medo de homens que sabiam o que queriam. De homens que moravam sozinhos, de homens que falavam sério por mais de 4 frases, de homens que sabiam dirigir, de homens que não faziam a barba ou que parecessem intelectuais. É, talvez eu tivesse medo de homens que não fossem mais meninos. No dia seguinte ele ligou, e no seguinte também e no dia depois. Não consegui fugir mais e dessa vez o convite era para ir ao cinema. Eu tinha uma bolsinha pequena, que mais parecia uma carteira. E na hora de pagar, a moça do guichê me perguntou de um jeito meio rude: "você é modelo, garota?" Fiquei roxa de vergonha, mas também toda orgulhosa que a moça do guichê estava me elogiando na frente do meu paquera. Ele riu e falou: "Não, ela é atriz. Já fez duas novelas" E achou a resposta o máximo. Eu também. Ele olhou a minha fotinho na carteira de estudante e sorriu um largo sorriso, de apaixonado? Acho que sim. Entramos na sala. Eu deixei a minha bolsinha em cima da cadeira, ou acho que deixei, e precisei ir ao banheiro assim que o filme começou. Voltei, o trailer já tinha acabado e ele segurou a minha mão. Durante todo o filme a mão dele, em cima da minha, suava e ele a limpava na calça. Eu achei fofo. Demos um ou dois beijinhos e o filme acabou. Ele era um cara legal e me deixou em casa. Assim que eu abri a porta, reparei que não estava com a minha bolsinha. Olhei para trás e ele já havia partido. Eu não tinha celular porque naquela época ninguém tinha celular. Ele não me procurou nunca mais e eu acho que ele roubou a minha bolsinha.

3 comentários:

Carolina Prado Pinto disse...

que doce

Anônimo disse...

Vai devolver na hora certa. Tenha certeza.

Anônimo disse...

Entre a bolsa, a bolsinha ou a bolseta, melhor levar a bolsinha. Não fará falta.

eu ajunto a coragem

eu só quero o que desejo porque  há o seu abraço o seu tempero o seu tempo, temperamento  há tempos eu percebo  minha vida, meu sossego  bem...