quarta-feira, 30 de maio de 2012

Cinquenta minutos

Ela sentou na poltrona. Ficou à vontade, como sempre fica, e começou a falar. Tudo bem, tudo tranquilo, sem grandes novidades. Na verdade talvez eu tenha alguma coisa para você, ela disse. E falou dele. Só dele. Da cortina que ele cismava em ficar atrás. Ela tentava dar uma espiada de vez em quando, mas não via muita coisa. Ela estava ficando cansada. Os anos estavam passando e a cortina dele continuava fechada. Ela começou a sentir aquela sensação que há tempos não sentia. Aquela sensação de que alguma coisa estava presa na garganta, de que havia uma tristeza no meio daquela tranquilidade. Ela levantou da poltrona e lembrou do primeiro dia que entrou naquela sala, a vontade de chorar voltou, depois de tantos anos.   

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Beco

Estou tão sem foco, que já não adianta mais usar óculos ou operar os olhos. O foco já não existe mais. Estou perdida, irremediavelmente perdida. Não sei se vou ou se fico, nem mesmo se quero ir ou ficar. E você também não pode me tirar dessa falta de tudo, porque você faz parte dela.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Formingas, máscaras, impostos

Ele olhou para a amiga bem nos olhos, e perguntou: "O que foi?". Só isso. Mas ela quis desabar. Só de olhar para ele. Tantas coisas, meu amigo, tantas coisas. Mas ela ficou quietinha. "Nada, estou ótima" e continuou usando a máscara de sempre, aquela que a faz parecer uma fortaleza. Ridícula, era na verdade de papel a máscara. Lá dentro ela sabia que era uma droga de uma formiguinha, sempre fingindo ser maior, uma onça, um tigre, um gavião. Qualquer outro bicho, qualquer outro lugar. Não me olha assim, amigo, pelo amor de Deus, que eu começo a te contar tudo e eu sei que ninguém está interessado de verdade. A gente precisa ganhar dinheiro, pagar as contas, os impostos. Não vamos ficar pensando nessas outras coisas. Eu não vou te falar. Amanhã passa, ou depois de amanhã, ou algum outro dia. Eu não quero mais ser formiguinha, não quero mais estar aqui. Logo logo alguém chega e pisa em cima de mim. As pessoas não enxergam essas porcariazinhas desses insetos minúsculos que ficam atrás dos doces. Pra que diabos servem as formigas? "Tá bom então, mas melhora essa cara porque não parece que está tudo ótimo." Ela correu para o banheiro e lavou o rosto. Pôs a máscara. Voltou ao trabalho.

Não vou dizer

Irônico, mas eu não tenho mais o que dizer. Tanta coisa presa nesse peito pequenininho, tanta coisa presa na minha cabeça que não me deixa dormir, mas eu não tenho o que dizer. Não posso dizer, não tenho como dizer, eu não vou falar. Queria, talvez, que você falasse por mim. Que você parasse de andar correndo com os braços balançando. Eu não posso dizer, mas eu estou mais uma vez com medo do mundo lá fora.

sábado, 5 de maio de 2012

Trevo de quatro folhas

Obrigada por me fazer pensar com as suas palavras.
Obrigada por me mostrar o meu valor, e obrigada por me achar tão especial.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

No travesseiro

Quando você não dorme em casa eu já chego desanimada do trabalho, porque eu sei que não vai ter nada no meu travesseiro. Nenhuma surpresinha, nenhuma maquiagem, nenhum docinho, nada. Ontem eu fiquei imaginando como vai ser quando eu sair de casa, ou você sair. Não consigo nem pensar a tristeza sem fim que vai ser saber que nunca, nunca mesmo, nenhuma surpresa vai estar me esperando no travesseiro.


Para minha irmã

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Cinza e branco

Hoje fez um dia frio, meio misterioso. Uma chuva que não parava, cores frias. Um tempo que todo mundo chama de feio. Hoje eu não chamei. Eu gostei de todo esse mistério, me fez companhia.

As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...