quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A sua casa

Eu sempre fico angustiada quando eu entro. Mas eu gosto do cheiro da cozinha. É sempre o mesmo: de comida gostosa que foi guardada na geladeira. E eu sei que sempre tem mesmo alguma coisa parecida com a comida do restaurante mais fino da cidade. Manteiga caseira, torta de palmito e ricota e temperos especiais ou qualquer coisa do tipo. Eu gosto da cozinha. Eu gosto que sempre tem amêndoas. Eu gosto da cozinheira com voz de criança, tamanho de criança e jeitinho de criança. Mas ela cozinha como um chef francês. Mas aí a gente sai da cozinha e vem aquele eco de casa grande, aquele eco de vazio, aquele eco de um lugar que eu não pertenço. O quarto eu não sei. Ele é seu demais. É proibido tocar em tudo. Você não gosta que eu mexa. Você tem medo de ir tomar banho e me deixar mexendo. Mas eu não mexo. Tenho medo. Na primeira e última vez que eu mexi, encontrei um retrato seu com uma ex namorada. Vocês pareciam felizes. Ela era feia. E além de tudo tinha um recadinho seu pra ela, dela para você. Sei que você não jogou fora e eu não tenho a menor intenção de encontrá-lo no meio das suas coisas. Eu não quero encontrar nada na verdade. Eu não gosto de ficar sozinha enquanto você toma banho. Me dá agonia. Você disse que vai se mudar. Eu não quero que você se mude. Eu gosto da sua casa, ela só não é a minha.

2 comentários:

Jamie disse...

Maria Clara, sempre transformando em palavra tudo que se passa na minha cabeça...

Anônimo disse...

Na minha casa, você vai sentir a sua casa.

eu ajunto a coragem

eu só quero o que desejo porque  há o seu abraço o seu tempero o seu tempo, temperamento  há tempos eu percebo  minha vida, meu sossego  bem...