Eu ouvi você, tão desconhecido para mim,
dizer coisas bonitas e coisas engraçadas.
Algumas eu até esqueci de prestar atenção.
Fiquei pensando o quanto é incrível
- e perigoso
eu ter te ouvido assim.
Posso ter descoberto alguém.
Não queria aquilo para mim. Nunca quis, nunca vou querer. Quase fui embora, eu já estava com as malas prontas dentro da minha cabeça. Chorei porque eu ia ter que me despedir, eu ia ter que dizer que estava indo embora. É difícil essa parte, por isso eu chorei. Mas eu resolvi ficar. Ainda não sei se fiz bem, se foi uma escolha certa, mas não vai ser difícil de saber. Sei que aquele porta-retratos não causa mais o mesmo efeito. Eu chegava no meu quarto suspirando, ia dormir suspirando. Sei que eventualmente os suspiros acabam, mas algum efeito ele ainda deveria causar. Não causa mais. Às vezes eu olho com dúvidas, às vezes com um aperto estranho. Eu já cheguei a pensar que aquele porta-retratos poderia ficar vazio. Esse pensamento me dói, mas tem coisas que me doem mais, você mesmo já me doeu mais.
Hoje eu me senti livre.
Por razão nenhuma.
Não por causa de você,
nem por causa da lembrança do seu sorriso
(eu nem lembrei dele hoje).
Eu me senti livre hoje,
porque sim.
Você me disse que o nome da cor do céu é azul celeste.
Eu não sei, deve ser,
mas tem dias que esse céu fica branco.
Terrivelmente branco,
branco solidão.
Um homem que eu não conheço me disse, completando uma coisa que eu havia escrito, que: "desistir precisa coragem... e amor a própria pele, já dizem os alpinistas de alta montanha quando renunciam ao topo."
E eu fiquei pensando na minha renúncia e no meu topo.
Só mais essa pergunta:
(antes que a caneta acabe,
que o dia acabe,
que a pergunta acabe,
que a gente acabe)
Se eu fosse um pouquinho mais importante
-para você,
você teria acordado com o despertador?