Ela lava a roupa enquanto fala comigo
apesar da voz doce, é mulher firme - às vezes até dura
tem cabelos finos e cheirosos, sempre cheirosos
eu só posso me lembrar: ela vive longe.
Me sinto inchada, cheia de sangue que não desce
o telefone às vezes falha e eu perco uma palavra
anotei outra: "processos"
sobre os rios que são a vida
cheios de margens compressoras
mas também cachoeiras e casas na montanha.
Desabafo sobre os exageros do outro
e ela me receita cuidar da fala:
sou eu que sinto - o outro é alheio.
Alguém ao lado dela diz que vai nadar
reconhecemos a benção que é entrar
numa terça-feira no mar.
Eu olho para os prédios e sonho
- com ela eu sempre sonho.
Sinto desaguar o sangue preso e me lembro:
ela é sempre um cuidado.
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