quarta-feira, 16 de janeiro de 2019
Charme
O nome dele era Bruno. Ele me convidou para ir ao cinema e eu fiquei super entusiasmada. Ele não era bonitão nem nada, mas tinha um charme qualquer que na época eu saberia explicar. Cheguei no shopping com um pouco de antecedência e lembro do incômodo que ia crescendo a cada minuto que passava e ele não chegava. Dez, vinte, trinta minutos. Uma hora depois eu finalmente entendi que ele não viria. Fiquei arrasada. Queria entender o que eu tinha feito de errado, me achei a pior pessoa do mundo. Demorei para digerir aquele furo. Uns dias passaram e ele me procurou para explicar o que houve, qualquer coisa besta que eu aceitei e ficou tudo bem. Acontece que eu não sei. Alguma coisa mudou dentro de mim que me fez perder o interesse. Ele não me pareceu mais charmoso, não me pareceu mais tão legal. Alguma coisa mudou. Quando ele me convidou para fazer outra coisa, eu não quis mais. E não foi forçado nem vingativo, foi porque eu não queria mesmo. Aquela foi a primeira vez que eu entendi o poder das nossas ações. Às vezes a gente faz algo que magoa o outro, mesmo sem querer, mas é preciso muito cuidado: o nosso charme pode passar. E não tem volta. Para quem ficou esperando uma hora no shopping é um alívio, é libertador ver o charme passar, mas para quem magoou o outro é um perigo. O Bruno me perseguiu por muito tempo depois daquilo e esses dias eu descobri que até hoje me espia. Faz anos. É capaz que ele esteja lendo isso agora mesmo e, se estiver, obrigada pela pequena lição.
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2 comentários:
Não sei não. A mulher que eu amo há tres décadas, na primeira vez que fomos sair, me deu o cano com uma desculpa esfarrapada. Fiquei fulo, mas perdoei e recomeçamos e deu no que deu ... Vale a pena - às vezes - perdoar, não acha ?
BINGO!
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