terça-feira, 30 de junho de 2015
Ou minhocas de um vaso nosso
Vamos supor então que a alma é tipo um espírito que sobrevoa nosso corpo. É assim que eu a imagino. Então, se você me permitir, eu gostaria de propor um outro motivo para a alma. A alma é como a água. Há sei lá quantos bilhões de anos é a mesma água que banhou Napoleão e Aristóteles e Shakespeare e você e eu. A alma pode ser assim. Posso pertencer a mesma alma que um dia pertenceu a um escravo ou a um poeta. E nós esbarramos com almas que já foram nossas melhores amigas ou minhocas de um vaso nosso. E por isso às vezes pensamos em algumas pessoas e as almas as chamam para perto de nós e nós coincidentemente as encontramos. Sei lá. Quem foi que inventou essa história de almas? Isso nem deve existir de fato. Quem é que pode provar?
Pale Blue Dot
Tendo em vista que o tempo que passou até agora não foi absolutamente nada, e que a gente acabou de chegar num processo que dura tanto tempo que somos até mesmo incapazes de contar - e de entender e de perceber e de se espantar. Tendo isso em vista, por que conseguimos ser tão mesquinhos?
Infelizes,
Porcalhões,
Maldosos,
Assassinos,
Audaciosos,
Arrogantes,
Hipócritas,
Mentirosos,
Egocêntricos,
Egoístas,
Fundamentalistas,
Sozinhos, sozinhos,
Sozinhos, completamente sozinhos?
Infelizes,
Porcalhões,
Maldosos,
Assassinos,
Audaciosos,
Arrogantes,
Hipócritas,
Mentirosos,
Egocêntricos,
Egoístas,
Fundamentalistas,
Sozinhos, sozinhos,
Sozinhos, completamente sozinhos?
segunda-feira, 22 de junho de 2015
Presa na garganta
Era uma vez uma história entalada em uma garganta. Uma história que não saia da garganta e fazia os olhos lagrimejarem e os dedos atrofiarem e o peito apertar. Uma história que doía como um filho de 12 meses preso no ventre pesado de uma velha mãe. Essa história nunca saiu da garganta. Dias e meses se passavam e ela mais se afixava nos ossos do meio da garganta. Parecia uma alga marinha, dessas verdes que se prendem no vidro do aquário. E aquário é o meu signo, mas mesmo se fosse câncer eu acho que essa história não sairia da garganta. Até porque não é pela garganta que ela há de sair. Talvez pelos dedos, talvez por um palco bem grande, talvez no ralo de um chuveiro, talvez numa linha telefônica enrolada num pescoço. Talvez em lugar nenhum. Talvez essa história seja uma poesia - que talvez já tenha sido escrita bem antes.
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