sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Por aqui

Desta vez escrevo para vocês dois que me lêem. Ninguém além de vocês dois me lê então portanto isso que escrevo só pode ser para vocês. Quero contar como é viver por aqui. E pode ser sim que desta vez eu tenha misturado realidade e ficção (normalmente é só ficção). Aqui é assim: tudo é caro, só tem gente bonita no boteco (que nem é assim tão boteco) e podemos andar à pé. Estamos pertinho de tanta coisa! É muito doce pensar que a qualquer hora que eu chegar em casa quem eu quero vai estar aqui. Acho que isso é a maior vantagem desse lado de cá. Gosto também do ar e do silêncio. Eu sempre sou o mais barulhento de todos os sons por aqui. Aqui combina com jazz e combina com chá à tarde. Combina com muita leitura e filmes interessantes. Gosto de receber gente, de barulho na casa. Gosto de ficar sozinha aqui também - gosto mais ainda de ficar acompanhada. Eu gosto de achar as minhas coisas nos lugares onde eu deixei ontem, mas também sinto falta delas guardadinhas com cheiro de mãe.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Cartão

Quando chegou o dia do meu aniversário e você não me escreveu nenhum cartão eu me questionei se você me conhecia de verdade. A falta das suas palavras me deixou muito triste.

Uma parte do cérebro pensa nisso também

A rotina, o dia a dia, o cotidiano, o costumeiro, o de sempre, o comum, o diário. O aqui e agora, o neste instante, o momento, o hoje. Quem sou eu - a descoberta do eu - o que eu quero ser, por que estou aqui, o que estou fazendo aqui? Ser onde, estar o quê, fazer como? Amar, cair, ficar, pertencer, não pertencer. Estar e não estar. Pode estar e não estar? É preciso ser alguma coisa? Estar se tornando, voltar a ser, nunca se tornar. O passado não existe, não existe futuro também - só existe o exatamente agora. O tempo está passando para todo mundo igualmente, mas para alguns não dói.

Not interesting

Escrever faz parte da minha salvação - do meu mundo secreto, da minha vida paralela. Sou tipo uma agente dupla que trabalha para servir de espiã do mundo para mim mesma. Eu vivo para observar e escrever sobre o que eu observo. Só preciso achar um pseudônimo, um alterego, porque escrever sobre mim mesma não interessa a ninguém.

O cão da raça Boxer

Eu me lembrei de repente de um ano novo bem antigo na nossa casa de campo. Eu era bem pequena, mas já passava dos dez anos de idade. Lembro de caminharmos pelas ruas dos quarteirões vizinhos, eu e a minha irmã do meio, e talvez a família toda. Lembro que no meio do caminho um cão da raça Boxer de cor marrom clara começou a andar com a gente. Aí alguém como o Miguel talvez disse que aquela raça de cão era super boazinha e adorava pessoas e carinho. Nós adotamos o Boxer marrom e deixamos que ele nos seguisse até nossa casa. O ano novo foi se aproximando e ele ficou lá: fizemos a ceia, papai acendeu um rojão com o Miguel, mamãe ficou cuidando da cozinha com a Glades. A impressão era de uma casa cheia, animada. Lembro da figura do meu pai dando gargalhadas com o Miguel e uma cervejinha na mão. Eu fui obrigada a ficar com o filho mais novo do Miguel porque ele era exatamente da mesma idade que eu (e eu sempre pensava: "e daí?"), ele era um pouco devagar e nós nunca ficamos amigos. Então nós todos assistimos o especial da Globo e festejamos tomando coca-cola e esperando a hora de ir dormir, que nessas ocasiões era super tarde. De tempos em tempos eu ia até o cão da raça Boxer ver se ele queria mais pão, mais água ou mais carinho. Eu tinha uma esperança enorme de que o papai ou a mamãe iriam aceitar ficar com ele pra sempre. Ele ficou lá o tempo todo, até mesmo depois dos fogos. Acontece que no dia seguinte eu acordei e fui correndo lá fora, perto do pratinho de comida dele, e ele não estava mais lá.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A (falta de) função da complexidade

Que deus é esse que criou um homem tão complexo? Que colocou no homem a saudade, a baixa auto-estima, a insegurança, o complexo de inferioridade, a indecisão, a vontade de ir quando tem que ficar, a vontade de sair voando, a coragem de coisas absolutamente insensatas, o tesão por maluquices, as taras, as imundícies, a vontade de morrer? Não faz o menor sentido sermos assim tão complexos. Tudo no nosso corpo foi absolutamente calculado e tudo funciona em função de nos manter funcionando. E isso significa que deve haver alguma função em nos fazer tão complexos.

As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...