terça-feira, 9 de julho de 2013

O menino morto

Voltei a pensar no menino morto. Ele morava tão longe que eu não consigo imaginar uma versão mais atualizada dele, do jeito que ele estava quando morreu. Penso só naquele menino que foi embora aos 14 anos. E foi ele que morreu pra mim. Loirinho, rosto de menino doce, narigudo. Ele não era tão doce assim, era até bastante atrevido, mas por ser tímido ficava um pouquinho doce. Eu passava o dia atrás dele: quando não estava na frente da casa dele, ficava na janela atenta ao som do carro dele - quando passasse o carro, era hora de ir pra frente da casa dele. Quando finalmente depois de muitos meses (talvez até um ou dois anos) nos beijamos, fiquei tão nervosa que abri os olhos para ver se era ele mesmo. Fiquei atenta ao cheiro, a pele, ao gosto. Coração saltando pela boca. O perfume - depois fui descobrir - era um de frasco azul escuro com o símbolo do cavalinho, o gosto dele era daquele chiclete popular de menta, e a pele... própria de um garoto de 14 anos: pêssego com espinhas. Esses dias dei de cara com aquele frasco azul no banheiro do meu pai. Acho que foi uma das coisas mais tristes em muito tempo: o cheiro dele não me trouxe nada à memória. Eu o vi em um sonho um pouco depois que soube da morte. Quis chorar, quis abraçá-lo, quis lidar com as minhas próprias mortes no ombro dele, mas não pude: ele era só um menino, aquilo era só um sonho e o cheiro dele eu nunca mais soube.

Um comentário:

Ju disse...

Ai croki! Chorei... :(

Ainda bem que vc só se lembra dele como um menino, e que nós nem imaginamos como ele estava nessa fase da vida, a última dele! Por que pelo que ouvimos dizer, ele não estava feliz né?
Que você continue lembrando dele assim, como ele era, o seu mitch.

te amo!

você, um beco

Querosene explosão  admite a melhora admite a melhora da casa com as plantas uma samambaia para cada lado tirar dois livros da estante uma b...