terça-feira, 10 de junho de 2008

E talvez as almas não seriam tão perdidas

Ao longo do dia as perguntas, que a gente acorda se perguntando, vão ficando mais tortas. Mesmo porque as respostas retas começam a me cansar e o que eu quero mesmo são torturas.
Uma vez o Pequeno Príncipe disse que a gente gosta do pôr-do-sol quando estamos tristes. Eu sempre gostei do pôr-do-sol. Mesmo no ápice da felicidade. Se eu pudesse virar minha cadeira e vê-lo de novo eu o faria. Mas é preciso viver o dia inteiro para poder vê-lo novamente. A alegria e a tristeza andam tão próximas, como o amor e o ódio. E a gente a esconde no armário, mas ela também é linda, a tristeza. E o pôr-do-sol não é só triste. Ele leva todo o dia com ele. Leva a luz do sol, leva as pessoas embora, leva adeuses e perdões.
Eu bem que queria entender por que são tão tortas as coisas. Drummond diz que pode ser por conta do Deus canhoto, que escreveu tudo com a mão esquerda. Pode ser mesmo. Acontece que seriam muitas mãos canhotas para tanto desencontro da vida. Olhando para a noite é que eu penso na quantidade de corpos andando sem alma pelas ruas e trombando na gente. É muita gente, são muitas almas perdidas, são muitos corpos perdidos. Acho que as mãos de Deus nada têm a ver com as perdas.
Deve ser a falta de poesia. Porque escrever poesia não é necessariamente sentir. Eu, às vezes, (tantas) escrevo mas não sinto. A poesia no viver me escapa. Meu pai mesmo me diz que eu sou duas pessoas diferentes: a que escreve e a que vive. E talvez, se todo mundo acordasse e fosse dormir com poesia de verdade, o mundo seria feito só de pôr-do-sol sem tristeza triste (mas com um pouco de tortura).

4 comentários:

Camila disse...

Muito bons teus textos!
Visitarei com mais freqüência seu blog.

NANDA MAGALHÃES disse...

bravo!!
clap clap clap!
lindo claire!
lindo de morrer esse texto! salvei aqui para mim!

William Maia disse...

Nunca achei o pôr-do-sol triste. Só mais ou menos bonito, dependendo de quem compõe a paisagem.

Talvez seja por ser tão torto, mesmo não sendo canhoto (sempre quis ser "sinistro", como dizem os italianos).

Texto inspirado como de costume assessora.

PS - Meu blog tá voltando. Aguarde os próximos capítulos.

Unknown disse...

Que lindo croki!!!!! caramba.. demorei mas entrei neh! vou entrar sempre aqui e ler todas as poesias e desabafos lindos que vc escreve =D
Amei....

luv ya!

eu ajunto a coragem

eu só quero o que desejo porque  há o seu abraço o seu tempero o seu tempo, temperamento  há tempos eu percebo  minha vida, meu sossego  bem...