quarta-feira, 21 de maio de 2025

até o barulho da porta

No café da manhã te conto um sonho
você finge não entender 
te beijo e abraço suas costas
você beija de volta e vai embora
fico com as suas coisas
o seu cheiro em tudo 
um grampeador tem seu cheiro
um garfo
coloco as toalhas no sol 
abraço sua roupa
fuço sua carteira
procuro por mim em algo seu 
até nos livros de lacan
que já estavam ali bem antes
seminários sem graça
sem a gente 
ouço o barulho do trânsito
você escuta?
o resto do dia é qualquer coisa
até o barulho da porta
que corro para abrir

juntos, flutuantes

Um tic tac antigo na parede 
lembra que estamos parados no tempo 
como galhos fixos a uma pedra 
num rio que flui violento 
o tempo nos desliza 
mal sentimos suas garras
estamos juntos, flutuantes
nada nos ocorre 
assim será até que o tempo 
termine de nos corroer 
e nos leve rio abaixo

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

uma mordida na perna
um veneno de lagarta no dedo
uma conta negativa no banco
uma franja que eu não gosto
um bloqueio criativo
um medo que não passa
é janeiro ainda

não ver o tecido

 tem qualquer coisa de ex 
tem algo de colher também
tento divagar sobre escolhas
a dor todavia me atravessa
no vislumbre de outra vida
reflito sobre poder e sobre ter sido 
não encontro indício
e tecer não é isso? 
Um agora crescendo no forno
me iludo no entanto 
pensando ser esse o resigno
olhar o passado 
não ver o tecido.





Não há manhã

 Falo sobre filhos 
como sobre o café da manhã
exceto que não há 
manhã para o café


até o barulho da porta

No café da manhã te conto um sonho você finge não entender  te beijo e abraço suas costas você beija de volta e vai embora fico com as suas ...