domingo, 26 de novembro de 2017

Sonho

Me peguei sonhando
com os braços da sereia
que nada no braço
de um certo homem.

Domingo

É domingo, abro a janela,
busco uma caneta azul
(acho preto triste)
pego um caderno no chão
e escrevo.
É sempre domingo quando
escrevo sobre solidão.
Escrever me salva da tristeza,
do medo da semana que vem
(vem mesmo com medo),
da vida que anda passando,
como sempre com pressa.
Fico descalça, desnuda, sem nada no rosto
e na boca só o gosto
do bafo matinal.
Domingo eu me faço de morta, de tonta
não saio do quarto,
não vejo ninguém - se vejo não ouço.
Não gosto nem do espelho:
das marcas de noites passadas
em claro e às vezes com sorte
no peito de alguém.
No dia de hoje ninguém vem
o que fazia Deus no sétimo dia?
Eu no domingo
só quero morrer
e renascer
quando der.


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Poeta

Cabelos pretos grossos
cheios de fios brancos
um dente torto bem na frente
vinte e cinco tatuagens
ou talvez dezesseis
rugas ao lado dos olhos
que fazem o olhar sorrir
uma barba perfeitamente desenhada
com caneta de ponta fina
para detalhar melhor a alma
de menino curioso
de cozinheiro talentoso
de homem cheio de vontade
me dá saudade
ei poeta
você consegue se reconhecer
nessa poesia
feita para você?

domingo, 19 de novembro de 2017

Um homem partido ao meio

Você é agora feito de esforço
para se manter firme
cansado mas forte
com o som de pratos, talheres
cheiro de alecrim
sua presença tem dificuldade
de seguir sem o que tinha
e talvez não seja pouco
e talvez eu exija muito
de um homem partido ao meio.

Pressa

Me disseram que tenho pressa,
quero apressar o curso do rio.
Eu deveria esperar, ser mais calma,
deixá-lo passar no seu ritmo.

Não entendo que tipo de amor
esperam de mim.

Um amor calmo, que espera
sem nenhuma pressa de amar?

desconheço.

Desejo todo segundo de beijo
a cada segundo junto
- por que perder um segundo?

desperdício.

No pouco tempo
aqui que temos
eu quero amar
com pressa,
urgência,
falta de fôlego,
suor.
Se a dor vier
(ela sempre vem)
venha
e me pinte de preto
inteira.


sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Janela

Quando eu acordo, abro a janela
árvores, pássaros, fonte de água
um jardim emoldurado pra mim.

Tem gente que abre a janela
postes, prédios, muros
toda tristeza do mundo. 

Se há mesmo Deus,
peço que ele chegue também
à janela dos outros. 




domingo, 5 de novembro de 2017

ninguém

Quem sou eu
nesse mundo
que não é meu
O que eu faço
com tão pouco
que me foi dado
Para onde vou
se devo chegar
a lugar nenhum
Como vai ser
quando eu estiver
sozinho
Quando vai ser
meu dia de ser
alguém
Quem levo comigo
se todo mundo
já está ocupado
Por que, meu deus
somos todos assim:
ninguém

melhor

Eu tento todo dia
ser o que eu sei que é
o melhor de mim
com você aquele dia
enquanto eu era eu
e você me ouvia
eu nem me esforcei



As suas coisas espalhadas

Elas me observam andar pela casa, chorar escrever  quando é minha vez de observá-las choro um pouco mais por tudo que carregam viagens, lemb...