quinta-feira, 28 de setembro de 2017
fantasma de cigarra
Um dia eu vi meu pai caído no meio da sala. Eu logo percebi que era um corpo morto, a gente percebe quando um corpo não tem mais nada dentro. O meu tio disse que era para eu ficar quietinha e esperar. Eu fiquei quietinha atrás da escada, espiando os caras do IML jogarem o corpo do meu pai numa gaveta gigante. Foi assustador. Naquele instante eu tive uma visão. Eu vi o quanto o nosso corpo não é nada. Meu pai não estava mais ali, meu pai não era aquele corpo naquela gaveta. Meu pai já tinha ido embora, estava em outro lugar, em outra dimensão. Aquele corpo na gaveta era só mais uma casca sendo jogada fora. Lembrei de como as cigarras trocam de pele e largam uma casca pregada na árvore, como se fosse um fantasma de cigarra.
sábado, 23 de setembro de 2017
Trilha de pedrinhas
Estou ouvindo um passarinho cantando lá fora. Esse som me lembra a minha infância, a minha casa de campo da infância. Eu andava descalça numa trilha de pedrinhas de um bosque que tinha lá. Meus pés doíam, mas eu me recusava a calçar qualquer coisa, queria que eles ficassem calejados para eu poder pisar em paz. Lembro de achar que aquele bosque era um mundo paralelo, o mundo paralelo de milhares de bichos misteriosos. Eu queria encontrá-los todos, ver como eles viviam. Era sempre assim: eu estava prestes a descobrir o segredo irrevelável dos pulgões, quando surgia uma voz do além: "Clarinha, vem comer!"
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
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As suas coisas espalhadas
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