quarta-feira, 13 de abril de 2016
Escrevo seu nome num grão de arroz
Atravessamos a rua eu e ele bem depressa porque ele precisava levar a comida quente para a namorada. Assim que atravessamos, uma mulher surgiu na nossa frente dizendo para o Edu que escreveria o nome da namorada dele, apontando pra mim, em um grão de arroz e transformaria em um colar. Eu dei risada e disse que nós não namorávamos. Nós éramos apenas colegas de trabalho e que acidentalmente nos encontramos na saída do batente. A mulher não aceitou. Disse que o Edu claramente gostava de mim e eu claramente estava interessada. Nessa hora o Edu parece que acordou dos seus pensamentos. Gentilmente empurrou a mulher e disse que não, nós não nos gostávamos, ela estava absolutamente equivocada e que por favor nos desse licença. Ele parecia incomodado com aquela afirmação, como se gostar de mim fosse um absurdo. Talvez fosse mesmo, eu gorda, descabelada e sem nenhuma vaidade era um absurdo de alguém gostar. Ainda mais alguém como o Edu, um cara inteligente, atraente e totalmente fiel. A tristeza que era para mim gostar dele, aquela mulher não podia nem sonhar. Escrever meu nome num grão de arroz, que coisa linda, delicada, poética. Quer saber, moça? Eu quero que você escreva o meu nome no arroz. Quanto custa? A mulher finalmente relaxou. Deu o preço e disse para nós esperarmos meia hora que ela iria na loja da esquina preparar o arroz. E por favor, escreve o seu nome nesse papelzinho. O Edu arrancou o papel da mão dela e disse que escrevia pra mim porque eu estava cheia de sacolas. Ele era de fato um cara gentil. Eu falei pro Edu que ele não precisava me esperar porque ele precisava ir e a comida da namorada dele já devia estar fria. Ele riu, disse que esperava comigo e que a comida não era para a namorada. Eles tinham terminado semana passada. Ele disse que terminou porque estava confiante de outra decisão na vida dele e precisava seguir em frente. Como ele não disse nada, também não perguntei que decisão era aquela. A gente se conhecia há tanto tempo que eu já sabia que o Edu não estava afim de falar sobre aquilo. Fiquei totalmente constrangida de estar ali, de estar me derretendo por dentro e desejando aquele homem pra mim enquanto ele sofria com outras decisões. Quis que a mulher do arroz chegasse logo pra fugir correndo dali. O Edu também claramente estava constrangido. E também claramente nervoso, querendo ir embora. Desisti de esperar pelo arroz. Dei o dinheiro para o Edu pagá-la e saí correndo em direção ao ponto. Entrei no ônibus e no caminho eu fiquei pensando que eu precisava me cuidar mais porque do jeito que eu era ninguém ia gostar de mim mesmo, que eu precisava emagrecer, que nem eu gostaria de mim. Assim que eu desci na minha rua, um taxi parou na rua e o Edu desceu. Ele veio em minha direção e disse "aqui está o seu arroz." E me deu um pacotinho com o pingente de prata e o arrozinho. Agradeci e disse que ele não precisava ter vindo de taxi me entregar, que amanhã eu iria para o trabalho. Ele insistiu que eu visse como ficou o arroz, que meu nome estava escrito errado. Abri o pacotinho. Meu nome não estava escrito errado. "Casa comigo?" estava escrito no arroz.
sexta-feira, 1 de abril de 2016
Devagar, mas levante
Hoje eu acordei de um sonho triste:
sonhei que eu estava parada, vendo a minha vida passar.
Quando levantei assustada, bati a cabeça no encosto da cama.
Voltei a dormir, meio morta talvez por causa da paulada.
Naquele meu estado de alma,
me vi parada na minha cama,
na minha vida, naquele instante.
Respirei fundo e pensei:
"mais devagar, levante."
sonhei que eu estava parada, vendo a minha vida passar.
Quando levantei assustada, bati a cabeça no encosto da cama.
Voltei a dormir, meio morta talvez por causa da paulada.
Naquele meu estado de alma,
me vi parada na minha cama,
na minha vida, naquele instante.
Respirei fundo e pensei:
"mais devagar, levante."
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