segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Geneve

Ouço, pelas ruas de Geneve, um carro acelerado e muita buzina.
Ninguém buzina em Geneve - reconheço minha irmã na esquina.
Pelas ruas de Geneve ouço gritos de alguém desesperado.
Antes que me desespere também, percebo: é minha irmã, bem ao meu lado.
As ruas de Geneve, em outubro, ficam molhadas, vazias, sem graça:
eis que surge minha irmã cruzando de trenzinho a praça.
O que aconteceu que Geneve em novembro ficou vazia?
É que todo mundo sente falta do barulho que a minha irmã fazia.


terça-feira, 24 de novembro de 2015

Obra de arte

Hoje eu tenho substrato para escrever poesia: dor, solidão e silêncio. O que me falta apenas é um pouco de inspiração. Um dia um amigo me disse que quando a gente tem substrato, a inspiração fica parada na porta, esperando para entrar a qualquer momento. Mas é preciso convidá-la. Ele disse que a gente convida a inspiração com muito trabalho. Ficar parado, esperando que ela entre não funciona. Esse meu amigo pinta quadros. Ele nunca espera a inspiração entrar, ele pinta cinquenta quadros e aí a inspiração vem e ele faz uma obra de arte.

(para Yusk)

sábado, 14 de novembro de 2015

Malandragem do Mickey

Meu pai devia ter uns quarenta e poucos anos. Eu devia ter uns 10, 11. Ele me deu um relógio de pulso do Mickey, ajustou a hora, me ensinou direitinho a entender o relógio em toda a sua complexidade e disse: "quero que você volte para casa às sete horas em ponto." Eu entendi bem e fui brincar. Mas eu me achava mais esperta que ele, então puxei o pininho e fiz com que o relógio parasse nas sete horas. E fiquei até as sete e meia, oito, oito e meia, nove. Quando deu nove horas e eu me cansei, voltei pra casa. E pus o relógio pra funcionar novamente. "Mas papai! Olha aqui! O relógio marca sete horas!" Meu pai estava furioso e nem quis papo. Eu nunca mais pude tentar aquele truque, porque meu pai tomou o relógio do Mickey de mim.

uma mordida na perna um veneno de lagarta no dedo uma conta negativa no banco uma franja que eu não gosto um bloqueio criativo um medo que n...