quinta-feira, 2 de junho de 2016
Ana B. - Parte 1
Uma mulher de quarenta e poucos anos. Magra, altura mediana, boas roupas. Alguém a encontrou caída no chão de um apartamento, morta. Não tinha ninguém no mundo e morreu de câncer, aparentemente nunca diagnosticado. De acordo com as leis do meu trabalho, eu tinha setenta e duas horas para anotar absolutamente tudo que eu via ali dentro. Tapete de boas-vindas bem-humorado, flores mortas, peças de madeira. Maçaneta de porcelana. Casa com cheiro de flores e mofo. O primeiro porta-retratos que encontro é ela na foto. Com as costas nuas, de perfil, cabelo do rosto. A mulher mais linda que eu já tinha visto na vida. Livros, discos, quadros. Rede de balanço, geladeira, tapetes. Uma solidão infinita. Nem um sinal de namorado, amigo, parente. Comecei a pensar se era solitária porque era linda demais. Se era linda demais porque só dormia, ao estilo Bela Adormecida. Entrei no quarto. Luminárias, criado-mudo, comprimidos. Espelho, espelho, penteadeira. Jóias, bijuterias, presilhas de cabelo. Solidão. Batom, rímel, esmaltes. Quem seria ela? Quem seria a mulher mais bonita que eu já havia visto? Teria se apaixonado, namorado, trabalhado? Encontrei uma gaveta cheia de cadernos, lotada. Passei setenta e uma horas lendo a história de Ana B.
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